dezembro 31, 2010

dezembro 29, 2010

Black Swan


"I had the craziest dream last night about a girl who has turned into a swan, but her prince falls for the wrong girl and she kills herself."

dezembro 27, 2010

ilusões à parte




Não quero que fujas. Não quero perder o rasto dos teus passos. Recordo as marcas que deixas no passeio quando andas pelas ruas à noite. É como se andasses de biquinhos de pés com medo de assustar a vizinhança. Não queres fazer barulho e sim, tens razão. Esse dom que tu tens que me perturba. Foges como se fosses uma gazela e isso começa a deixar um frenesim na minha cabeça que me deixa confusa. Eu estico o braço e não consigo tocar-te por mais esforços que faça. Sabes porquê? Porque quero mais e mais do que vem daí. Esse lado é tão bom. É melhor do que o sentimento que me prende aqui. Não quero ficar presa por mais tempo. Quero assustar-me na tua presença. Peço que o meu coração acelere muito rapidamente por te ver como aconteceu hoje. Deixas-me nervosa. Mas não pelas razões erradas rapaz. Tens brilho no olhar e espero me encontres um dia destes. Sinceramente quero que o gelo quebre com toda a força e que isto ande para a frente. Não quero acelerar as coisas. Quero ter-te comigo e quero ter-te mais vezes. Porque isto que sinto por ti começa a ser mais que mera amizade pura de desconhecidos alheios. Começas a ser mais. E quanto mais se tem mais se quer não é verdade?

dezembro 23, 2010

joão


Não te conheço muito pessoalmente João mas sinto-me próxima de ti, sinto-me quente nas tuas palavras e na tua imagem. Acho que tens um sorriso encantador, muito bonito até. Acho comfortável o modo falas. Não é querido é acolhedor, doce.

Quero conhecer o futuro que engloba a tua presença no meu circulo, nos metros que os meus pés percorrem. Não pelo prazer dos teus passos, mas sim para te ouvir tocar. Quero ouvir-te João. Não quero sentir nervoso miudinho. Quero ser uma criança ao pé de ti e quero que sejamos extraordinários juntos.

Imagino esperar-te no aeroporto ou viajar contigo de mãos dados. Imagino as gargalhadas que damos no imenso espaço que nos vai pertencer um dia.

Acho que o céu fica mais azul quando penso em ti. Os dias em nada mudam para os outros mas eu sinto a tua presença até no vazio da noite. Não estou apaixonada por ti, de maneira alguma. Mas quero ter-te na mente e quero que me tenhas na cabeça de um modo saudável e carinhoso.

Por isso quero que tenhas um Feliz Natal. Espero que não aches ridiculo mas faço figas para que entres em 2011 com todos os pés direitos ou esquerdos que tiveres, com ou sem cuecas azuis. O que interessa é estarmos bem João.




Beijinhos


Arrival of the birds (The cinematic orchestra)

dezembro 15, 2010

melhor


esta é uma homenagem a ti. Porque mesmo estando meses distantes, eu consigo sentir-te perto.lembro-me de ti todos os dias. Lembro-me e compreendo o cansaço e as tuas alegrias. Até nos encontrarmos outra vez, continua a mandar-te força pelo meu coração, continuo a mandar pós mágicos todos os dias pelo ar. Sopro aos quatro ventos para que a sorte esteja do teu lado. Que tenhas saúde e que mostres o teu sorriso sempre. Esta é a minha homenagem a ti. A minha melhor, Joana Fernandes

dezembro 08, 2010

o pica-pau

Vou explicar-te uma coisa. Somos todos diferentes. Em certa parte iguais. Somos humanos. Nisso somos definitivamente iguais. Mas sabes que mais? Eu já dei mais importância ao meu telefone do que dou agora. Eu gosto de beber café quente, talvez um dia num café parisiense. Gosto do Natal. Gosto mesmo, e gostava de poder comer morangos debaixo de um sol tórrido e em cima de uma erva quente no sul de inglaterra no verão dos nossos dias.
Gostava de viver numa casa onde cheira a pão quente de manhã e a bons cozinhados à noite. Não me julgues. Gosto da Páscoa, de jogar ao Monopólio, de observar pessoas no comboio e gosto de brincar com crianças. Gosto do inverno, de cozinhar para a família e amigos e sentir o avental apertado na cintura.
Tenho um desejo louco de comprar uma mercearia dos anos vinte e transformá-la num café confortável e amigo dos amores, onde cada um se sentisse em casa. Tenho sonhos desvairados com homens desconhecidos que me segredam ao ouvido, mas não os consigo ver na rua. Não os encontro. Gostava de ir ao Olympia em Paris e comer uma pizza em Itália. Nunca gostaria de ver o Papa mas gostava de beijar o Jack Nickolson. É um actor em pêras. Gosto de ouvir música clássica, Melody Gardot e Bryan Adams. De fazer noites para recordar mais tarde e de cantar os parabéns. Gosto especialmente de fazer surpresas, da reacção no olhar de cada pessoa quando recebe nas mãos o que realmente queria neste Natal ou num dia especial.
Odeio o calor indesejado e gostei do concerto de hoje na Igreja. Chorei com a música da joana e toquei maracas. Faço pela emoção constante.
Gosto de viver e se não aceitas isso, a minha vida não faz parte da tua. Faz parte de um mundo bem diferente onde existe um homem que me surpreenda todos os dias um bocadinho e me beije no pescoço,mesmo como eu gostava que ele o fizesse. Com amor

novembro 28, 2010

ravioli com cogumelos

Não consigo dormir como deve de ser. Parece que há pozinhos no ar estranhos que me incomodam. Até já aprendi a tricotar, cozinhar e a ser um sorriso em certas ocasiões. Normalmente sempre. Aprendi a ser sorrisos constantes para muita gente. Sinto falta de muita gente, de muitas caras e de muitas almas que tornam o mundo mais rico e mais brilhante, mais saboroso. Um mundo que sabe a panquecas com charope de glicose e com risotto intaliano. São mundos diferentes aqueles onde vivemos e aqueles que construímos na nossa cabeça. Certamente os que eu construo e imagino são a mais pura prova de que nem sempre tudo corre como esperado. Apaixonamo-nos por estranhos,ajuda-mos quem devia dar uma volta ao bilhar grande e fazemos amor sabendo que primeiro vem a amizade e a compaixão.
Primeiro vem a amizade.

novembro 04, 2010

I could use some magic


não sei se vos apetece mas eu queria umas feriazinhas de Natal, um abraço de um palhaço e fogo de artíficio a sair dos nossos peitos. só um bocadinho de magia não faz mal a ninguém.




Katy Perry-Fireworks

outubro 30, 2010

e respirar de novo

agora que está tudo a mudar sinto a diferença das coisas em todo o lado. na violência da chuva a cair lá fora, na intensidade com que me lembro das melhores memórias da vida, no frio que incomoda os outros mas não me incomoda a mim. sinto a diferença calma e serena de como tudo muda, como uma menina de 6 anos que dança ballet e cresce na certeza que as collants serão substituídas por pernas à mostra e vestidos curtos. mas aceito-o com naturalidade. tudo tem corrido tão calmamente bem e sem forçar nada. está na altura de pensar em mim, gostar de mim e não agradar aos outros. de ficar nervosa cada vez que sei que vou esrar na tua presença e sentir-me bem ao teu lado. gosto de ter saudades tuas e de saber que existe uma história que nos engloba os dois. e para tudo há um tempo, e agora percebi verdadeiramente que as crianças são o melhor do mundos, de tudo o que nos pode acontecer. é com elas que me sinto bem. sem elas não há rasto do cheiro a lápis de cera nos meus dedos e rasto do cor-de-rosa da manda de viagem que nos aquece. Nos beijos invisíveis que te dou nos teus lábios e que quero concretizar. és bonito. o mundo é bonito e difícil, mas também existem momentos bons que me merecemos depois de tantos dias asfixiantes. existem alturas perfeitas em que somos naturais, gostamos de nós próprios. gostamos da forma natural do nosso cabelo quando ele seca ao ar livre sem a ajuda de um secador. gostamos das formas do nosso corpo e desejamos intensamente o corpo de outro. eu sinto o teu olhar em mim, gosto da tua presença alegre quando entras na sala e gosto de sentir saudade quando te vais embora. é sinal que o tempo vai passando no seu ritmo normal. é suposto ser assim. e agora é tempo de fazermos o que gostamos de verdade. está na hora de eu coser o meu botão no meu casaco e de comprar as botas que sobrevivem a tudo. está na hora de me apaixonar sem que ninguém repare e só nós os dois é que saibamos. nós é que pertencemos a história. eu e tu. e tudo o resto são recordações que um dia vamos olhar num álbum de fotografias, orgulhosamente preenchido por fotografias tiradas com amor de uma máquina descartável.


a vida são minutos, e alguns segundos já lá vão :)

outubro 22, 2010

um pequeno esclarecimento


Vamos pôr os pontos nos i's. Quero-te hoje a toda a hora. Eu estou a falar de uma espécie de desejo fisico e emocional. Não te quero para as horas vagas. Eu quero perder horas à conversa contigo, quero rir-me às gargalhadas como as crianças fazem no verão ao pé do rio quando se molham com a roupa vestida. Eu quero comer morangos contigo, quero esfregar-te gelados no nariz e quero que me faças cócegas no corpo todo até eu não aguentar de arrepios. Tu provocas-me arrepios.
Eu quero poder fazer tudo contigo. Quero beijos no pescoço e andar nos carroseis e sentir-me uma criança de 5 anos contigo.


Quero amar-te por muito tempo. Mesmo muito.

outubro 19, 2010

I won't go home without you


Hoje imaginei-nos. Ontem imaginei-nos. Sonhei com os beijos implacáveis que me davas. Com os abraços e todas as promessas físicas que podíamos ter um com outro. Tenho imaginado de tudo e nada se realiza. Troquei-te por outros rostos que não consigo esquecer mas volto sempre a ti, porque és tu que eu quero conhecer. Não me sai da cabeça esta cola que permanece a todos os instantes. És-me difícil de esquecer. Não consigo apagar da memória o teu cheiro, o teu toque, os teus olhos e até esta solidão que me deixa estupidamente nervosa. Não te consigo esquecer e por mais que me peçam não vou para casa sem te levar comigo no coração hoje...


e talvez amanhã e depois de amanhã :)

outubro 16, 2010

abraçar os estranhos próximos

Que relacionamento começa com um puxão de braço? Puxaste-me com tanta força que julguei ter ouvido os sons de espanto dos espectadores que estavam no salão. Simplesmente enquanto eu carregava a caixa do bolo, o condutor embriagado do carro que vinha ao longe carregou no acelerador e quase me levou consigo na viagem atribulada. Puxaste-me com tanta força e o bolo ficou esmagado pela estrada fora. O mais irónico é que nos rimos dele no fim. Era um bolo. Que importância tinha?
Mas agora que me lembro, recordo-me do agradecimento que te fiz com um beijo no rosto. Simples. Calmo. Calado. E ficaste a olhar-me. Observaste-me e agarraste-me na nuca e em segundos caóticos beijaste-me lentamente mas furiosamente como se eu te tivesse ofendido com aquele beijo. Foste gentil com um beijo bruto. Eras moreno e isso fez-me reparar nos teus olhos castanhas vivos que disputavam entre si os breves segundos e momentos comigo. E foi aí que parámos e rimo-nos como doidos. Rimo-nos loucamente daquele bolo esmagado no meio da estrada. E deixámo-nos encostar na carrinha branca durante o resto da noite.
Lembro.me de ti. Curioso e enigmático. Lembro-me de ti. Dos teus lábios carnudos
e lembro-me do teu semblante.
Um rapaz que eu gostaria de conhecer.

outubro 03, 2010

sapos à chuva


Pára. Pára. Pára aí mesmo. Acabei de ter uma visão. Lembras-te daquela rapariga que escrevia, escrevia sem parar mas nunca públicou um livro? Acabei de a ver. Ela continua com aquele pequeno caderno nos braços e continua a carregar a caneta antiga no bolso das calças. Lembro-me de um texto que ela escreveu. As palavras dirigidas a um homem desconhecido. Não percebi quem era. Sabia que era alguém que ela outrora amara, mas sim eles agora estão juntos. Todas as palavras de desejo concretizaram-se e eles agora abraçam-se no meio da chuva turbulenta que cai lá fora. Não há sexo barato. Não existem beijos e abraços de esquina.
Existe verdadeiro amor. Sim um amor daqueles eu consigo distinguir. Já pensava que não existiam relações assim. Há muito tempo que um homem tão expontâneo e capaz de nos surpreender não se cruzava no caminho dela e agora consigo distinguir os dedos deles molhados tocarem suavemente nos lábios carnudos dela e ela lança uma gargalhada para o ar, abrindo os braços. Eles são livres. Sim. Eles abraçam-se sem compromisso no meio da rua e não se deixam atropelar pelas novas convenções dos políticos do amor.
Sim. É tão nítido agora. Consigo ver tudo. Consigo perceber que tipo de amor é aquele. É um amor saudável, expectante e um amor onde o sexo existe no amor. Onde duas se amam uma na outra.Pertencem-se mesmo sem terem consciência disso. É por isso que dizem que a ignorância traz felicidade.
São ignorantes felizes aqueles.


Savin' me- Nickleback

setembro 28, 2010

Velha Raposa


Já ouvi muitas histórias de amor. Já vi muitos beijos. Já assisti a muitos abraços em publico. Mas nunca vos vi a voçês encostados a um parede pintada com um clássico grafitti nas ruas da cidade.
Já vos vi lançar segredos através do olhar enquanto se cruzavam ao pé do café e já vos vi beijarem-se no dia do vosso casamento. Namoraram entre as vinhas e contavam histórias junto à mesa dos queijos. Era na grande mesa onde fazíamos os almoços de família que se abraçavam e eram cúmplices no tempo e na história.
Houve alturas em que vos vi, vestidos corriqueiramente e alegres a correr pelas portas a fugir das brincadeiras um do outro. Ela com um vestido vermelho e um laço na cabeça e ele com uma camisola de lá e umas calças vulgares castanhas. Já vos vi amarem-se como um para sempre de Igreja.
Já vos vi chorarem por dores diferentes abraçados um no outro nas noites frias. Já vos vi fazer juras de amor às escondidas que eu bem percebi. Era pequenina mas assistia ás vossas palavras de jovens amantes juntos do pomar, debaixo de um sol ardente numa vila longe dos olhares preconceituosos de uma sociedade vanguardista. Eu assistia como um aluno aplicado aos gestos doces dela enquanto se sujava na lama do caminho para a quinta e ele a rir às gargalhadas puxando o busto dela contra o seu e queimando-lhe os lábios de prazer com um beijo eterno.
Já vos vi tão elegantes nos vossos fatos de casamento, atenta junto à porta da Igreja e já corri para o vosso colo quando tive medo dos bichos da floresta. Nessa altura tinha medo mas agora não. Agora sorrio de tenho saudades de um amor assim. Cresci adolescente e vi essa fotografia parada no tempo junto a uma cómoda velha de uma casa de campo que agora recebe novos sorrisos e novas gargalhadas.
Agora é a minha vez de ensinar outra rapariga que espreita e aponta no seu diário todos os episódios de uma vida feminina e mais tarde sabe usar um batom vermelho que condiz com o seu vestido deixado pela antiga enamorada.
Agora é a minha vez de trazer as crianças alegres para casa à hora do jantar e de lhes servir crème brulée para mais tarde se sujarem na diversão de uma nódoa eterna no tempo.
Agora é a minha vez de fazer história. Mas será que o rapaz espera por mim guardando um sorriso atraente para me oferecer enquanto me mantém num abraço contra o seu corpo sujo do calor?
Será que andas aí?
Podes vir a correr, hoje o campo é só nosso.

setembro 27, 2010

Uma mercearia transportada num camião de França


Há pouco tempo a minha mãe deu-me um colar em ouro com uma chapa pequenina onde o signo peixes brilha na luz do sol das melhores tardes solarentas de Lisboa.
A essa chapa juntei um berloque em ouro de uma pequena âncora que estava perdida no chão e que a minha mãe achou há umas semanas atrás. Nunca gostei de usar ouro. Nunca achei o ouro atraente. Sempre achei que o pescoço de uma senhora se deteriorava na presença de um colar em ouro, por isso tenho usado colares de prata toda a minha vida. Mas desta vez, o pequeno berloque saltava alegre à espera que eu o apanhasse e colocasse junto do meu pescoço. Deduzo que de há umas semanas para cá tenho-me rendido às delícias de um colar de ouro que a minha mãe me deu em pequenina. Agora ando com ele e com aquela âncora que me lembra o mar furioso dentro daquele pedaço pequenino de ouro. Quem diria que um pequeno berloque trouxesse consigo a força de mil canhões e embebesse a força de mil águas salgadas furiosas?Não sei a resposta,mas tenho a certeza que não sou pessoa melhor por trazê-lo comigo. Apenas me sinto mais humilde e refortalecida por carregar acima do peito um pedaço de criança.
E depois surge a pequena questão que me atormenta todas as noites? Porque não transformar aquele velho espaço numa mercearia ou chocolataria e trazer vida a uma pequena vila que necessita de uma intervenção emotiva? Ou porque não trazer de volta as vinhas e remodelar a casa do velho conde e tornar a vila um lugar mais acolhedor e cheio de vida? Porque não?
Quando penso nisso trago no nariz o cheiro a maçãs caramelizadas e a sumo de laranja fresco pela manhã. O cheiro a lençóis lavados no estendal entra pelas narinas apressado e instala-se na minha cabeça como se fosse uma almofada feita de nuvens. E é aí que me lembro das crianças a correr, de um escritório cómodo e da cara triste de uma secretária aborrecida que esconde na gaveta uma laranja em pulgas para sair daquele compartimento. É exactamente nesse segundo que me recordo de um velho professor de Latim e da sua caneca de chá e me lembro da minha melhor amiga num vestido branco de verão, e um ramo de geribérias laranjas na mão a sorrir para os familiares e amigos que estão sentados na mesa grande ao pé das árvores de fruto.
É ai que paro e penso que é possível trazer a felicidade de novo a estas terras e é aí que o amor reside. Reside em todos os lugares de todas as vidas presentes naquele campo. Por isso é possível ser-se bom no campo. É possível ser-se bom em qualquer lugar, desde que os nossos sonhos nos persigam e nos beijem a testa segredando palavras de coragem.

setembro 23, 2010

rita

PARABÉNS minha maninha mais nova. Estou muito orgulhosa de ti *.*
Amo-te

setembro 20, 2010

a criada com pantufas cor de rosa


Junto ao portão verde move-se uma senhora cujos olhos de mágoa aspiram a revolta contra a filha que teima em fugir da sua vigia.
A criança agitada grita com a criada que cheira ao pó dos móveis da casa onde trabalha.
Para lá do portão, avista-se um pequeno terreno de ervas perdidas que transpiram o sabor da infelicidade. Será que ela terá consciência do acto criminoso? Não. Ela não sonha em plantar árvores de fruto nem deixar a criança ser feliz na sua liberdade. Revoltada com o tempo, ela sonha com vestidos de gala pendurados num camarim de uma artista que está morta.
Essa artista com lábios pintados de vermelho vivo que nunca beijaram ninguém, nem se aproximaram do corpo de um homem.
A criança sim. Essa sonha com um pomar onde ela possa correr e fugir dos inimigos da mãe dela. Sonha com o rosa das flores que finge tocar no vazio do terreno multado pelo portão. Grita pela liberdade enquanto a mãe riposta delirando com diamantes cor-de-rosa.
Mas o que ela não sabe é que o único cor-de-rosa que existe é o das pantufas que ela calça.

setembro 17, 2010

chegou o papagaio amarelo


Eu gostava que o mundo parasse por pequenos instantes e que essas pequenas fracções de tempo cobertas de recheios vivos, com cor e sabor pudessem ficar guardados em pequenos frascos de vidro como os dos iogurtes. Era bom, mesmo bom. Quantas vezes não choramos por dentro com medo que o tempo passe rápido demais e se esqueçe de guardar as palavras mais bonitas e os rostos mais inesquecíveis de sempre. Eu já chorei por isso. Já me encostei a uma parede a chorar por essa razão. É impossível parar o tempo e beijá-lo para ele não se ir embora. Para ele não partir. Mas a verdade é que acabam por vir sempre momentos novos que não queremos voltar a esqueçer e parece que o momento a seguir é o melhor de todos. E não é verdade? O que vem a seguir é sempre o que esperamos com delícia e expectativa. O próximo filme é sempre o nosso preferido. O próximo livro é sempre o nosso livro eterno que guardamos na mesa de cabeçeira junto da cama.
Mas existem pessoas que não mudam de nossas preferidas para inimigas. Existem pessoas que o ódio nunca as transformou em inimigas. Existem pessoas que permanecem etéreas no coração dos fracos como o meu. Que não traem mas magoam sem sequer se aperceberem desse pequeno crime que aflige a alma dos parvos.
Eu sou uma parva que anda de pés descalços.
Eu conheço essas pessoas.
E quando o momento chegar continuamos a chorar no duche, a bater com os punhos no azuleizo da banheira e guardar para dentro para aguentar a próxima batalha. Porque é assim que as pessoas como eu agem.
Engolem e engolem até que um dia o balão acaba por explodir com a pressão.



E agora vão-se foder.

setembro 16, 2010

os melhores dias da nossa vida


Realizar pequenos sonhos é fácil. Muito fácil até :)

setembro 15, 2010

jantar atribulado


Oh como te odeiei naquele instante! Naquele momento que me tentaste roubar o lugar que eu mais desejava há anos. Desde o dia em que nasci. Não compreendias a euforia que arrebatava o meu coração de miúda naqueles segundos, em que olhei para ti enquanto estava sentada na cadeira depois de um convite fantástico, e tu feito Benjamin roubaste-me o lugar. Tive a certeza que eras um assassino, ladrão definitivamente. Mas enquanto te regozijavas nessa tua alegria incomodativa eu travei-te o gesto e fiz-te frente. Pensaste que por trazer uma gabardine vermelha vestida que me sustinha em gestos inocentes e fracos.
Como te odiei naquele momento! Mas não durou muito. Tiveste o azar de me fazer companhía e partilhar com a autora. Não te ficaste a rir no final. Mas agora posso-te confessar que me espantaste. Eu nunca acreditei nesses olhos castanhos que passaram a ser azuis no momento em que a pergunta chegou e disseste que acreditavas no amor. 'Desculpa?! Podes repetir isso?' disse eu num inglês acabrunhado que se fazia distinguir naquela mesa. Senti o ardor de uma lágrima estúpida a querer sair do meu olho e contive-me a tempo. Explicaste-me o amor de uma forma que não conseguia compreender. Eu queria odiar-te a todos os santos minutos e foste presunçoso ao ponto de me enfraqueceres com tal discurso.
Idiota. Deixaste-me estática durante um jantar ideal e ainda me livraste das câmaras e dos papparazzi. Obrigada mas porquê quando o teu casaco azul de lã te fazia parecer tal e qual um perfeito assassino? A verdade é que me seduziste no final de contas. Conseguiste roubar-me o que de mais precioso eu tenho e o que muita gente teve a ousadia de roubar ao longo dos anos. Foste um cobarde tanto tempo. Até que eu apareci naquela gabardine vermelha da porche e tropeçei nos teus sapatos. Só que ao contrário dos outros eu não caí, apenas tombei na tua direcção.
E agora quero-te dizer que foste uma surpresa. Eu queria-te bater com toda a força que tinha. Estávamos um contra o outro até que o tempo se esgotou e fez pressão entre nós. Não me lembro daquele pequeno espaço curto que me pressionava contra o teu peito. Só queria sair dali. Aquele cheiro a ouro azul que vinha do teu corpo. O odor. O odor a folhas secas de outono e do perfume dos lírios que espalhaste nos meus cabelos e transportaste para os meus braços quando me afastaste do flash e do brilho que vinha no fundo do túnel. Não sei porque fizeste aquilo. Mas conseguiste. Duvidei de ti a noite toda, a tarde toda. Não queria entender como conseguias compreender tão bem o amor. Eras jovem. És tão jovem caramba! Não podias ter explicado daquela maneira. Não me podias ter provado com um beijo frio como aquele que me deste. Congelaste-me entendes? Lançaste uma seta contra os meus lábios e fiquei com arrepios no corpo todo. Quase me basteste com aquele beijo e foi tão rápido que só consegui distinguir o sabor a rosas brancas com o fumo do tabaco de bar irlandês.
E foi assim. Conseguiste. Transformaste-me na Albertine e finalmente me apercebi que tu eras realmente um assassino. Sim foste o Benjamim até eu te dar o número que precisavas. A partir desse momento, tornaste-te no Rapaz de Olhos Azuis e desde então que não tenho tido enxaquecas e continuo a usar a minha gabardine vermelho-vivo.

setembro 14, 2010

a cantora de fado


'aqui não vem nada empacotado como no supermercado', diz ela com a voz firme e atenta. Umas cantam no mercado, outras choram nos grandes palcos ao ouvirem as palmas. São assim as grandes mulheres que caminham neste país só e seco.
A outra continua na esperança de encontrar a mãe e a pequena que se esconde em sonhos adultos delicia-se na 1ª fila à espera de um autógrafo desejado. Ela sorri impecável para o pormenor dos sapatos vermelhos em sintonia com o seu casaco com capucho e finge estar mais atenta aos movimentos dos lábios da autora. Ela sonhou com esse momento e os seus olhos brilham segurando com força o livro contra o seu peito. Ela sonhou com uma tarde chuvosa na companhía de palavras estrangeiras que explicam o novo livro que conta uma história trágica, cheia de enganos e gestos perdidos. Também a rapariga da história veste uma parka vermelha, mas ela é uma assassina ao contrário da que assiste ao momento confortável na livraria do piso 1.
Quando sair do edificio vai guardar com carinho aquele livro pouco sujo pelo tempo. Vai recordar o episódio enquanto a rapariga chora pelo acidente que a afastou da mãe e a rapariga do mercado canta para os fregueses sonhando com o sonho de Amália que um dia cantou no Olympia.

setembro 13, 2010

romance arriscado


Queres saber uma coisa curiosa? Os olhos azuis nunca me impressionaram na verdade. Sempre gostei de olhos castanhos. De alguma forma o negro obscuro dos olhos cor de amêndoa criam em mim uma certa afectividade por toda a gente que os carrega. Foi por isso que me chamaste a atenção. Não consegui perceber bem se estavas a esconder alguma coisa perante a minha presença, mas gostei de saber que eras de um mundo completamente diferente. Eras mais do que podia imaginar. E creio que já te tinha dito que nunca acreditei que fosses real. Parecias-me uma nuvem que carregava restos de um humano que existiu há muitos anos atrás. Mas agora que já te pertenço, adoro todos os sítios por onde passámos. Todos os sítios que pisámos são diferentes. Todos eles tinham um desafio à nossa espera e mesmo num café onde te sujo a cara com gelado, e na praia cinzenta que chorava na presença da chuva nós somos inteiros e tão selvagens. Não temos preocupações nem fugimos do tempo mau que persegue os mais inocentes. Somos tão selvagens e no entanto sentimo-nos bem neste mundo cruel e sem escrúpulos. Fazes-me uma nova pessoa. Já te disse que não eras real. Já to disse com força para perceberes que não era suposto encontrar-mos alguém que encaixa no nosso corpo exactamente como deus quer. Já to disse com raiva por saber que queria o contrário mas tu ofereceste-me o sabor da revolta. Conseguiste provar o contrário. Se não fosses real eu não tinha sentido o beijo leve sujo e eléctrico que me deste. Queimaste-me os lábios. Deixaste-me exausta com o movimento da tua boca. Sabias que essa era a minha maior fraqueza. Descodificaste essa informação estudando as minhas atitudes. Como foste capaz? Não sei. Mas enterneçe-me o facto de seres um leão selvagem à procura de uma fémea ainda pouco preparada para o amor. Mas o mais incrível é que tens feridas graves que tentas esqueçer. Feridas que te tornam frágil. Eu gosto dessa fragilidade que escondes com palavras grossas, palavras angustiadas, um pouco menos feias quando estás comigo. Essa é a prova que te faço sentir melhor. Tenho a certeza que te vou ajudar a sarar essas feridas. Vieste de tão longe e eu encontrei-te num sítio improvável de te encontrar. É essa improbabilidade que me faz desejar-te mais. Eu quero sempre mais de ti. Eu quero acabar com essa mágoa. Porque sabes que mais? Quando me tocas não me magoas. Não me magoas quando me beijas o pescoço como se saboreasses um gelado em pleno verão do Alentejo. Não me magoas quando deslizas os teus dedos no meu braço e me dizes palavras trapalhonas ao ouvido como se ainda tivesses quinze anos.
És incrível. És de outro mundo. Onde as ondas batem com força contra as rochas sem medo de represálias. ÉS forte e isso alivia-me o coração.
Acho que te amo. Ainda tenho medo de dizer. Mas quero que saibas que o faço. Todos os dias. Sem nunca falhar um dia.
Quando achares que não, olha bem para os pequenos pormenores e vais ver que te amo até nas coisas mais brutas da vida.
Até quando achares que o amor que fazemos um com o outro não parece ter significado. Eu amo-te.Quando me tocas e quando me encontras nos sítios mais estúpidos da terra. Sabes encontrar-me ao pé das rochas. Na loja dos filmes alugados e até escondida por entre redes de pesca ou no chuveiro com água quente a correr por cima dos meus cabelos castanhos. É nisso que pertencemos um ao outro. Nas coisas vulgares e imbecis desta vida.
Quando me procurares entre os lençóis e quando me puxares no meio da multidão para me beijares como se fosse a última vez, vamos ter a certeza de que a vida é feita de coisas maravilhosas.
Proibidas mas maravilhosas meu amor.

setembro 09, 2010

a história dos pinhões


se pensares bem, tudo à nossa volta nestes dias perdeu a essência que tinha antes. já não vês diferentes modos de agir simples. sim, antes podias reclamar pela tua liberdade , terias que pagar um praço muito mais alto mas a terra era mais bonita, as pessoas eram mais bonitas, mais simples. Isso era o que as tornava genuínas, o facto de não se preocuparem com coisas desnecessárias. as mulheres eram diferentes e os homens também.
Hoje toda a gente quer ser diferente e acabam por ser todos iguais. esqueçem-se que a diferença entre si é sua especificidade singular. eles perderam isso algures nos anos que têm vindo a passar.
Não me interpretes mal quando te digo que já não acredito na magia que acreditava antes. ainga vejo alguma mas pouca, já me canso de olhar os estranhos na rua e não me reconhecer em nenhum deles. perderam a cor por dentro. e o que é isso da cor? sim, todos nós trazemos cores dentro de nós, umas mais alegres que outras. outras mais brilhantes que outras. cores que nos definem, e neste momento só vejo cinzento e preto. não distinguo nenhuma luz brilhante na multidão. queria vê-la. senti-la.tocá-la como se fosse só minha mas ela teima em não aparecer como o beijo tão ansiado que nunca nos toca nos lábios fragéis. nos lábios secos que se molham na felicidade dos lábios de um homem que existiu antigamente e que parece fugir apressado com medo do que as mulheres lhe possam fazer.é o medo.
o medo toma-lhes conta. já não existem casas simples que cheiram a pãu quente e têm pó nos móveis antigos que contam histórias. os pais já não contam histórias aos filhos e não lhes mostram o quão bonito e maldoso o mundo pode ser. não lhes mostram a monstruosidade necessária para criarem heróis que não chegam a ser heróis na verdade. esses nunca são reconhecidos, ficam apenas no coração das pessoas genuinamente verdadeiras.
tu és verdadeiro. ela é verdadeira. somos poucos.
é pouco o que se anda a fazer. faz sentido eu dizer que já não é suficiente uma história de amor que poderia realmente acontecer sem a força do planeado, apenas o destino e o improviso actuariam nesse cenário. por isso é que essa parte passou para os filmes. eles são a realidade genuina mais próxima de nós. não eles são uma mentira. mas uma mentira mágica que nos apetece guardar no coração para sempre.
chora sim,grita caramba. não tenhas medo de gritar. és pessoa. tens direito a gritar. a apaixonares-te e teres filhos maravilhosos que sabem distinguir o bom do mau.
eu preferia apanhar pinhões e era feliz. era mais feliz do que vejo agora. já não há felicidade nos pinhões. as crianças acham ridiculo. já não gostam de brincar à escondidas na natureza. no único sítio que nos faz bem. num sítio longe. com objectivos, sem preconceito, com a verdade escancarada nos nossos rostos e com a esperança que um desses tempos há-de voltar, apenas por um instante para te provar que a magia ainda existe.

setembro 07, 2010

chuva irlandesa


Conheci-te num dia chuvoso. As garras traiçoeiras da água escondiam bem o teu rosto. Na pouca claridade da tempestade distingui linhas firmes na tua cara. Um pouco de silêncio, calma e rigidez. Fingias não conhecer o mundo, mas eu apostei no teu olhar profundo, castanho, feroz. Se tivesses que me perguntar qual a sensação daquele momento? Raiva. Sentia raiva dos meus pés à cabeça. Estava chateada com o mundo e tu apareceste para fazeres frente aos meus inimigos. Não eras de cinismos, de conversas perdidas. Sabias como me fazer rir. Fizeste-me rir para curar a minha impaciência, e no final daquele dia guardei um pouco de ti comigo, no caminho de volta a casa. As gotas de chuva pareceram recuar e voltei a sorrir para os estranhos na rua. Voltei a colocar o cabelo solto para voar com o vento e não tive vergonha de sujar os pés na terra lamacenta. Entregaste-me o melhor que havia dentro de mim e pouco do teu rosto decifrei. Mas recordo-me do teu sorriso. Sim. Esse nunca vou esqueçer.

setembro 04, 2010

pim pam pum

Look's like magic's solely yours tonight

setembro 02, 2010

a Matos


Com um brilhozinho nos olhos
e a saia rodada
escancaraste a porta do bar
trazias o cabelo aos ombros
passeando de cá para lá
como as ondas do mar
conheço tão bem esses olhos
e nunca me enganam
o que é que aconteceu diz lá
é que hoje fiz um amigo
e coisa mais preciosa no mundo não há

Com um brilhozinho nos olhos
metemos o carro
muito à frente muito à frente dos bois
ou seja fizemos promessas
trocámos retratos
traçámos projectos a dois
trocámos de roupa trocámos de corpo
trocamos de beijos tão bom é tão bom
e com um brilhozinho nos olhos
tocamos guitarra
pelo menos a julgar pelo som

E o que é que foi que ele disse?
E o que é que foi que ele disse?
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
passa aí mais um bocadinho
que estou quase a ficar louco
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
portanto
hoje soube-me a pouco

Com um brilhozinho nos olhos
corremos os estores
pusemos o rádio no on
acendemos a já costumeira
velinha de igreja
pusemos no off o telfone
e olha nao dá para contar
mas sei que tu sabes
daquilo que sabes que eu sei
e com um brilhozinho nos olhos
ficámos parados
depois do que não te contei

Com um brilhozinho nos olhos
dissemos sei la
o que nos passou pela tola
do estilo: és o number one
dou-te vinte valores
és um treze no totobola
e às duas por três
bebemos um copo
fizemos o quetro e pintámos o sete
e com um brilhozinho nos olhos
ficámos imoveis
a dar uma de tête a tête

E com um brilhozinho nos olhos
tentamos saber
para lá do que muito se amou
quem éramos nós
quem queriamos ser
e quais as esperanças
que a vida roubou
e olhei-o de longe
e mirei-o de perto
que quem não vê caras
não vê corações
e com um brilhozinho nos olhos
guardei um amigo
que é coisa que vale milhões



fizemos uma promessa e agora é para sempre@
3 anos dizem muito

uma espécie de relíquia


faz lembrar um musical. a música que embarca nos teus ouvidos e deixa-te extasiado de tanta emoção. é como sentires o palco a correr por baixo dos teus pés e tens a certeza de que tudo vai correr bem. no fim vai acabar por correr bem e vais voar com o vento e sentir o fresco da vida ao teu lado. é como o dia que foi o melhor da tua vida. tens a certeza. porque contrariou tudo o que há de real na vida. é como um dia chuvoso que não te incomoda porque estás protegido por um casaco bem quente, simples, diferente dos outros. faz lembrar uma noite sozinha em que te sentes contente por debaixo do escuro de uma sala de cinema. estás sozinho mas sabes que estás bem. é como um guarda chuva que te protege de todos os inimigos que se colocam à tua frente. com ele, podes ir onde quiseres. podes ser quem quiseres. basta sorrires e continuares a tua vida com a maior força que podes ter no coração.

agosto 31, 2010

voa voa

Eu nunca pensei em ter a casa perfeita. Quando era feita de inocência sonhava com vestidos cor-de-rosa e casas de seda. Agora sou uma estranha para essa menina e contento-me com uma casa de madeira, branca e azul. Gosto de saber que tenho cadeiras antigas que combinam com uma mesa de cozinha onde pouso o café quando acordo de manhã e ouço os pássaros chilrearem de liberdade. A mesa que me escuta no silêncio da noite enquanto janto ao teu lado.
Gosto de me sentir confortável na minha parka verde escura e nas minhas botas pretas. Não tenho inveja das grandes artilharias que sonhei em tempos. Podes ter a certeza que mudei. Sou feliz assim. Sou despreocupada em certas questões e durmo numa cama de grades com uma colcha com flores velhas. Podes não acreditar mas como o peixe salpicado no azeite e no alho quente saídos do forno e à noite gosto de observar o farol. Gosto mesmo. Ainda sorrio como dantes mas agora já faço muitas mais das coisas que imagino na minha cabeça. Já não choro só para mim. Partilho as tristezas com alguém.
E sabes uma coisa? Acredito na sorte. Agora coloquei um saquinho de ervas junto a uma cama e sonho no escuro como uma criança. Ainda sonho. Sonho muito. Provavelmente tudo isto não passa de uma mentira, mas eu quero acreditar que é agora que tenho de fazer isto. É agora que tenho que imaginar um móvel azul de cozinha com janelas tapadas por arame e uma banheira de pés que cheira a sabão natural. É agora que tenho que nadar selvagem como os peixes do mar bravo em frente à minha casa.
E gostava de ter a tua companhía. Gostava de ter uma amiga de volta. Sinto falta dessa tua certeza e desse realismo. Sempre te quiz ensinar a sonhar mais. Sempre quiz dar-te a conhecer o meu mundo porque é assim que eu sou e sei que me aceitas como sou. Por mais que insistas em palavras negativas, eu sei que escondes um sorriso que há muito espera sair.
Eu sei que sim. Quero mostrar-te a minha casa. A minha cozinha que cheira a compota de framboeza e cheira a sal do mar. Agora tenho um barco seguro.
Não tenhas medo joana. Só quero que voltes a casa. É seguro.

agosto 29, 2010

soledad


Quase picava e ardia a sensação de olhar aquela imagem. A Lua participava na peça abraçada ao negro do céu. Envolvia a água que embalava os barcos, numa luz intensa e brilhante. Quase jurei chorar naquela noite trágica. As palmas continuavam al longe enquanto o cenário marítimo continuava na calma dos seres escondidos debaixo das águas.

As redes entrelaçadas umas nas outras, traziam o cheiro a peixe e no fim da noite a praia servia de cenário para os namoros fictícios e as gargalhadas de horas mortas. Eles certamente estariam abraçados numa das tendas a celebrarem a vida inocente de dois jovens que se amam e que se envolvem no desejo físico de se encontrarem. O mar introduziu-os e agora vivem longe da multidão, num globo à parte, onde o cheiro do mar lhes cobre o corpo de sal. E eles parecem não se importar. Fazem parte um do outro. A saudade um dia os vai separar para oceanos diferentes, quando tudo estiver morto, ao som das teclas de um piano que acompanhou uma voz grave desejosa de não partir. De permanecer quieta como o frio de Inverno faz em tardes geladas em que se observa o mar por detrás de uma janela baça pelo calor de uma chávena de chocolate quente que me preparaste. De seguida vais-me abraçar envolvidos numa manta quente e sem me sussurares ao ouvido, vais libertar com força as palavras da tua boca, vais-me amar como me amaste há muito tempo atrás, quando a existência desse amor ainda não era sólida para ti. Queres que te conte outra vez? Eu lembro-me, numa tarde chuvosa em que o mar agitava as almas da ilha. Eu, coberta de gotas cheias de raiva, puxava a rede para dentro do barco, com a força de um leão. Os dedos cortavam-se na corda e manchas de sangue salpicavam na estrutura de madeira. Tentaste ajudar ignorando os meus gritos dizendo-te para fazeres o contrário do que estavas a fazer. Fizeste-me perder o peixe. E isso não te perdoo.Fizeste-me perder o peixe e seguiste-me quando enfurecida larguei tudo e dirigi-me a casa. Não queria saber do sangue nem da chuva que me encharcava o corpo.

Seguiste-me os últimos passos e fechaste a porta com força. Eu continuei a gritar culpando-te de todos os males daquela ilha. Puxei palavras maldosas e abraçaste-me. Impediste-me do pior. Agarraste-me na força de um tubarão que se agarra à perna da vítima. Desta vez agarraste-me o rosto e não me deixaste recusar o doce e salgado da tua boca. Roubaste-me a fúria e desejei ter resistido ao movimento dos teus lábios nos meus. Não me deixaste resistir durantes as horas inteiras daquela noite, e deixaste-me apoiar a cabeça no teu peito e acariciaste-me o cabelo julgando-me adormecida. Julgaste mal. Estava bem acordada e essa consciência levou-me até a ti e às tuas cordas que me prendem todos os dias.

Fizeste amor comigo e fizeste-me perder o peixe. Mas o brilho desta noite, nada se compara a essa perda. É muito mais que mero peixe para cozinhar. É a luz da Lua que nos ilumina e não nos deixa temer a pior das palavras, o Adeus eterno.

Apple pie without cheeze is like a kiss without a squeeze.


Sim. Ela era bonita . Fazia lembrar os raios de sol que se escondiam do beijo das árvores forasteiras.

No canto do lábio escondia receios de uma mulher diferente. Ela desafiava a verdade das coisas e era dona de uma beleza comum. Ninguém lhe dizia que não detinha de uma beleza incomparável.Mentiam. A verdade morava no rosto rosado que carregava o sorriso de uma guerreira. Sim. Ela era bonita. Não o dizia muitas vezes. Julgava que o mundo serenava com a honestidade e a modéstia das palavras.

Por vezes, deixava escapar um sinal de compreensão no meio de uma selva de brutidão falsa. Navegava como os barcos, e tinha nos braços a força de cordas azuis e brancas.

Quando caminhava na rua fingia não ouvir o riso das flores e as exclamações dos pássaros divertidos comentando o seu aspecto corajoso.

Era uma rapariga. Uma menina escondida no corpo de uma mulher que magoava o mundo com a sua atitude lisongeadora. Curava pessoas. Curava o mundo da brutidão dos vivos e aclamava tantos que o amor segredou para junto de si. Costumava ouvi-la. Ouvia-a calmamente reparando no pormenor da sua voz. Era doce, como o açucar que desfaz o coração dos gulosos. E se a força de uma crítica a confrontasse, ganhava batalhas apenas sendo ela própria. Tinha explosões de alegria que encolhiam por vezes para deixar entrar lágrimas de tristeza.

Sim. Ela era bonita. Mesmo quando chorava, como o mar às vezes cospe na fúria do vento que o traz para sul.

Um mar límpido, voraz e bravo. Tal como o coração que ela tinha. Um coração de ouro.

Quando o Sol queima a pele e sentimo-nos extasiados, ela corre e abraça-nos o corpo quente. Refresca os problemas e esqueçe-se que o calor do Sol também a queima a ela. Apenas foge por entre as folhas de uma árvore pacata que um dia dará belos frutos.

Sim. Ela é bonita.

agosto 27, 2010

frascos de especiarias

Eu lembro-me de vê-la sentada na cama vazia. Há muito tempo que a cama se divorciara de afectos. Ela escondia o medo com a posição que mantinha no corpo. O corpo encolhido, lembrado numas roupas vagas de pescador. Os poucos objectos que preenchiam a divisão permaneciam calados. As pequenas lembranças. O móvel antigo. O soalho velho e gasto que seguia a porta que estava fechada.
Acariciava os lençóis com as mãos e sentia o cheiro do sal. O odor de alguém que antes esteve ali e agora desaparecia nas sombras de outra casa. Ela olhava o tecto tentanto recordar-se das formas que imaginava no escuro em pequena. Eram formas elípticas, brilhantes, desenhadas com o seu dedo de pequena. Quase conseguia alcançar o céu se a noite não tivesse fim e a escuridão dos seus sonhos a acompanhasse no trajecto do areal.
Regressava das viagens do barco, das lições do mar e cruzava o olhar com uns olhos amargos à procura de uma rede de pesca segura. Certamente ele não repararia na silhueta desapercebida da rapariga que calçava botas de borracha e um anorak amarelo. Os cabelos voavam com o vento, que transportava o cheiro, o seu perfume feminino até ele. Até ele se embebedar nos seus sentidos e correr de novo ao encontro dos seus olhos. Ela sorriu. O mar ensinou-a a sorrir e permaneceu quieta, talvez procurando o lugar seguro na expressão do rosto que se estendia à sua frente.
Pareciam ignorar o movimento alheio dos outros corpos e aproximaram-se num elixir de emoções como uma catadupa numa batalha feroz.
Pareciam querer agarrar o destino um do outro até que a corrente a puxou do lugar e ela mergulhou nas águas ansiosas salgadas. Ele riu-se. Pareceu acostumado à imbecilidade do amor.
Era natural.

agosto 26, 2010

estrelas


durante a noite existem coisas mágicas.

agosto 25, 2010

em tua casa


E ela encheu-lhe o coração e ele vestido sem preocupações fê-la feliz. O cheiro dele. O odor da sua pele. Eram mágicos e por razão alguma ela deixou-o à espera no pontão. Os barcos deixaram de dançar ao sabor da água do mar e a casa ficou vazia. Em silêncio. Anos mais tarde na dúvida ela questionou e batalhou para esqueçer uma dor forte que tinha no peito. Não parava de a matar por dentro até que viajou até ele e avistou-o na casa que um dia foi abandonada. Quando entrou as cores do ar mudaram e a brisa do mar correu até ás suas bocas começando uma discussão acessa. Gritaram palavras de mágoa relembrando o passado e o meio que foi perfeito e lúcido. Agora os barcos conversaram levantando no ar um burburinho de satisfação. Largaram um olhar suave. Pararam no tempo e no meio de tantas palavras acessas de fúria os seus lábios encontraram-se na raiva de se tocarem e pertenceram um ao outro nesse momento. Os barcos exaltados de felicidade deixavam-se navegar nas águas agora calmas do mar e a praia estava deserta. Um beijo demorado e subtil. Quente e espontâneo enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto da jovem. Regressaram ao porto seguro e desta vez o destino colocou-os na mesma sala. No mesmo pedaço de mundo que um dia foi tirado de uma vida infeliz e colocado numa casa de bonecas numa pequena ilha de alegria. Encontraram-se e nem o mar pôde recusar a oferta de um regresso inesperado. O porto estava seguro.

premonição

tenho a sensação de que algo aconteceu meu amor. Como gostava de estar aí para te abraçar e dizer que está tudo bem :x

agosto 23, 2010

paper boat


O que faz uma rapariga perdida numa baía cheia de barcos? Ela, vestida simplesmente com uns jeans e uma camisola branca às riscas azuis procura algo perdido no mar. Ela observa atentamente os pescadores e aponta palavras no seu bloco de notas. Sentada no pontão atreve-se a mostrar um sorriso e a fazer perguntas ao velho homem que puxa as cordas do barco branco e azul.
Ele com súbita desconfiança larga palavras simples e faz a promessa de professor do mar. Ela pergunta e ele responde, desvendando os segredos da pesca e dos monstros marinhos. Como é bonito aquele sítio à noite!
E na promessa desse serão de uma tarde solarenta fazem juras envergonhadas de um regresso, de uma outra tarde passada naquele lugar.
Ela há-de voltar e da próxima vez irá encontrar o rapaz que a avistou ao longe sob a luz atenta do farol.
Ela vai voltar.

agosto 22, 2010

big mess


já estiveste virado do avesso? Eu já. Como se a porta que sempre esteve aberta se fechasse de repente na tua frente deixando marca no teu rosto. Todos os segredos que contaste foram revelados e agora não podes segredar baixinho, tens de te esconder do mundo. Até encontrares alguém de confiança vais ter de arranjar um esconderijo onde não haja uma beleza que mate a fera. Porque a fera foi magoada e primeiro que se levante deste monte de feridas terá de ter a ajuda de um braço forte que consigo erguê-lo desta grande confusão. É isso que vai ter de acontecer. Até lá reza. Talvez essa pessoa esteja mais perto do que imaginas.

agosto 21, 2010

Cartas para Julieta


Sim, sim, sim! É isso mesmo. Romeu e Julieta podem não ter existido mas é uma verdadeira celebração do amor e do quão é importante não abdicar da parte mais maravilhosa da nossa existência, por motivos materiais ou exteriores ao amor.
Tudo se consegue com amor. E se Claire e Lorenzo conseguiram, então acredito que existe sempre alguém à nossa espera. E acredito no destino tal como a Sophie.

agosto 19, 2010

conquista


Que os melhores lugares do mundo sejam teus

agosto 18, 2010

conta-me uma história


Eu sonhei com uma noite de Natal. Estava lá toda a gente! Estava a paz de que precisava. O quente do écharpe e o amor concentrado em quantidades culinárias. Uma colher de chá de afecto, uma colher de sopa e 3/4 de sonhos por realizar e uma chávena de esperança. E no meio disso tudo, a coruja espreitava à janela e sorria, porque em noites como essas pouco é preciso fazer. Apenas viver, porque essa é a obrigação de quem sente. Sentir é mais que saber.

agosto 17, 2010

estúpida mariana

estás tu numa aflição e eu preocupada com o meu umbigo. cala-te boca! devias levar porrada sua estúpida ,

odeio-me :x

encontrei um entretenimento


com uma caixinha de 24 lápis de cera pode-se ser feliz para o resto da vida (:

agosto 16, 2010

casa de bonecas


Não percebo. Não percebo mesmo. Afastas-te assim sem dizer nada e eu que crie expectativas para ocupar o meu tempo. Já não há mais divisões para limpar. Os cozinhados estão todos feitos e este mês já fiz muitos bolos. O livro está a avançar e finalmente gosto do meu cabelo. Mas então e tu? Tu que és a única pessoa a quem devia contar todas estas coisas? Estou à tua espera há tanto tempo e não sei se mereço esperar mais. Começo a ter demasiadas saudades tuas. E já não sei se a praia vai continuar a estar livre.
Sabias que eu queria viver numa pequena casa para dois com canteiros nas janelas e um pequeno quintal para plantar girassóis? Sim, os teus preferidos. Eu só queria que estivesses cá para eu te dizer estas coisas da minha cabeça. Porque sei que és a única pessoa que me percebe e não me chama de maluca. És a única pessoa que me diz que posso ser quem eu quiser, e eu quero tanto ser como eu imagino na minha cabeça! Se soubesses o quanto quero viver o imaginado e não a porcaria que vejo à minha frente. Se soubesses que não era isto que eu queria para mim, e que uma casa de madeira me chegava para encostar a cabeça numa destas últimas noites. Quero contar-te tantas coisas e não tenho sinal de ti. Eu quero-te aqui ao pé de mim para te dizer que o meu coração bate um bocadinho mais forte pelo rapaz que passeia o cão no mesmo jardim que eu. Eu quero-te dizer que existem duas árvores no jardim junto da minha casa que dão frutos e fazem a combinação perfeita e dão uma sombra maravilhosa. Queria-te contar que acho tudo tão estúpido à minha volta. Que encontro o sossego nas coisas mais diferentes de toda a gente. No outro dia besbilhotei o armazém dos livros da Fnac e dei pelo homem do carrinho distraído e por 2 minutos fingi estar num sítio completamente diferente! Já te tinha dito que és linda? Não, pois não. Enquanto não vieres não te vou poder dizer essas coisas.

Agora a cozinha faz-me companhía.

agosto 07, 2010

o campo

Quero agarrar a ti o céu
Quero agarrar a ti o chão
Quero que a chuva molhe o campo
e que o campo seja teu
Para que eu cresça outra vez
Quero agarrar a ti raiz
Quero agarrar a ti o corpo
E eu quero ser feliz...

agosto 06, 2010

esconderijo

gostava que percebesses que a porcaria de mundo que temos é exactamente o melhor de todos.aproveita

julho 31, 2010

Blackberry Wine


O beijo do Sol como perdão
O canto das aves para a alegria,
Está-se mais perto do coração de Deus num jardim
Do que em qualquer outro lugar da Terra.

Fleurie 1962

julho 30, 2010

férias

voltei :)
e não queria vir!

julho 16, 2010

gone

Prometo não demorar muito.

julho 14, 2010

Cisnes de papel


O meu coração às vezes sente-se sozinho
fica vazio
pede por carinho
meu amor

Meu amor
Meu amor

Olho pela porta fechada
Espreito pela janela assustada
ela chora, chora
coração de prata
por falta do amor.

Meu amor
Meu amor

O nosso amor é de papel
Navega nas águas calmas
e fica triste,
quando te vê partir

É como um cisne o nosso amor
Cai e levanta-se
Ri enquanto avança numa dança
Riso de seda
Depois de nos ver sorrir,
Leve sorrir

O teu coração às vezes sente-se sufocado
Como um aperto forte
Quando me vê afastar
Fica caído, calado
Longe da saudade
Para não me ver chorar

O nosso amor é de papel

julho 13, 2010

tens de te comportar


eu acho que entrei num destes e ouvi tocar uma música pela qual me apaixonei. não era um sonho

julho 11, 2010

À noite


As estrelas escondem-se
Os pássaros riem-se
As lagartas caminham
na imensidão enquanto
as Luas te iluminam.




Durante a noite
existem coisas magníficas
Danças frenéticas enquanto
sonho e não consigo parar
Para respirar de alívio
desta pressão que é dançar.





Durante o dia nascem
raios que te entregam
de novo a luz.
Os pássaros voltam
A cantar; As estrelas
caminham e as lagartas escondem-se
Tudo mudou de lugar.





É tudo diferente.

julho 10, 2010

meu anjo pequeno

Se soubesses que as estrelas se escondem quando apareces na cidade. Elas têm vergonha porque se acham tão pequenas em comparação a ti.
Elas escondem a luz que trazem no coração e deixam a cidade às escuras. Para que possas iluminar cada casa em cada rua que passas.
Se soubesses que a cada segundo há um beijo suave, um abraço forte, uma morte e uma vida a nascer. Se soubesses que te amo com o mundo sorrias para o resto da tua vida e não me davas o quanto me dás, que é saudade e satisfação. Dás-me tanto em tão pouco tempo. Quase que conseguia tocar naquelas estrelas até chegar ao encontro da Lua.
Se soubesses a dor que é ver-te sofrer e a felicidade que é ver-te sorrir pulavas de alegria.

Se soubesses que fazer anos é uma vitória a favor da vida.


Hoje as ruas escureceram para poderes brilhar. Já estás pronta.


Eu amo-te :)


Feliz Aniversário*

julho 09, 2010

questões


-Não te querias apaixonar?
-Na altura não. Agora sim. Dava tudo para estar apaixonada.

julho 06, 2010

série de filmes


Eu sou a Alice. A Alice salvou três crianças e uma vez pintou o cabelo de vermelho. A Anna faz retratos de desconhecidos a preto e branco. Faz exposições e mostra o medo na cara das pessoas.
A Alice foi atropelada e quando se apaixonou pelo homem que a levou ao hospital não imaginava na trapalhada em que se tinha metido. O amor é assim. Ela não o conseguia ver, tocar. Apenas sentir algumas vezes, e todas essas vezes que ela o experimentou, foi tudo por água a baixo.
É por isso que dizem que quem acredita no amor à primeira vista nunca pára de o procurar. Nunca. Nunca paramos. Nunca paramos por um segundo de imaginar a possibilidade de nos apaixonarmos por baixo de uma laranjeira, no minuto em que entramos na mercearia ou na noite em que vestimos um vestido dos anos 60 e acabámos a dormir no passeio da rua.
Esse amor não existe. Hoje esse amor não existe. Deve estar pendurado algures numa grua sobre os nossos tectos ou a espreitar sobre a Lua a rir-se de nós.


Mas não importa. Porque a Alice salvou três crianças e uma vez pintou o cabelo de vermelho. Depois disso ela vive o resto.

junho 30, 2010

coreto


Foi uma noite bonita

junho 29, 2010

portugal-espanha


Faltou-me o ar mas não chegámos a ganhar. Adios amigos

junho 28, 2010

junho 26, 2010

closer


O dia em que nos vamos encontrar está algures escondido no tempo. Não desesperes. Eu vou esperar por ti na porta do café, ao pé das caixas das laranjas da mercearia, na esquina da livraria ou no passeio da próxima rua. Não fiques triste. Já esperámos quase uma vida inteira que dava para encher os campos de àrvores de fruto. Esse tempo vai acabar e vamos acabar por nos cruzarmos um dia destes. Espera

junho 25, 2010

tu


eu gostava de te ter assim

junho 16, 2010

a tua cidade

Se reparar no cheiro que lhe atinge o nariz vai perceber que está perto menina! Foi o que o senhor da mercearia disse quando a rapariga pegou na maçã. Não era uma maçã qualquer. Aquela maçã carregava a força de uma tempestade de sabores e fazia companhia ás cerejas da banca vizinha.
A cidade vestia-se assim. De vermelho e laranja com umas pitadas de branco que suavizavam as paisagens. O livro irrequieto balançava na prateleira à espera da compra da rapariga que trazia o vestido vermelho com vergonha do seu porte. Era demasiado arriscado perceber-se que o amor fazia-lhe companhia. No entanto os sabores amainavam o sentimento e quando o barulho da porta da livraria se calou vieram os sons do mundo numa sinfonia sem fim.
As casas sorriam com os canteiros à porta e faziam lembrar uma dança selvagem de árvores rebeldes durante a noite. É assim que as árvores se apaixonam. Elas dançam e fazem amor com o céu. É assim que os pássaros cantam. Eles voam e fazem amor com os sorrisos dos que param num ramo duma árvore qualquer.
A baixa era frequentada pelos homens insanos de corpos juvenis que carregavam consigo ar sério enquanto o rapaz que vive na casa pequena com a caixa de correio verde, corre pelo campo e dá um beijo apaixonado á miúda nova que veio da cidade.
A inveja muitas vezes bate nos mais fracos e as senhoras que passavam pela montra da boutique ficavam com a boca seca e invejavam os lenços que um dia sonhariam ter e fazer voar num passeio de carro por França.
A miúda que se esconde por detrás da árvore? Vês? Ela espreita, calada e surda. Apenas escuta os sons. Temos de ouvir. Ouvir na escuridão. Ela escuta e vai em busca de uma oportunidade de passear pela Holanda e lá ter um ‘encontro giro’ com o rapaz que faz horas extraordinárias do café. São assim os desejos. É mais que uma atracção física. Faz-se de amor.
Os motoristas das belas senhoras, que carregam sonhos antigos desfeitos pelos maridos conversam entre si pegando com cuidado no charuto e fazendo vez entre si para provar o sabor alucinante do tabaco. Enquanto esperam pelos donos, aproveitam a vida e observam o pouco movimento da estrada, porque o verdadeiro movimento está no andar. No andar dos gaiatos e das miúdas que correm à espera de os apanhar e rirem-se de si mesmos. Algures na praça alguns seguram balões e elas trazem as bonecas já gastas da brincadeira. Os apaixonados namoram às escondidas e no campo outros dão beijos de loucura porque apenas os pássaros os ouvem e esses guardam bem segredos.
Ao fim da tarde a biblioteca está cheia. Os livros não se cansam de dar explicações e vão ganhando pó ao longo dos anos. Eles encerram tantas histórias que já se deitam comovidos com a vida que surge nas ruas. São outros tempos que se vivem. Tempos bons que, o senhor da drogaria se entretém a contar quando algum moço lhe vai pedir umas moedas para comprar um brinquedo. Ele senta-se no pequeno banco de madeira e perde-se no tempo, imaginando-se já um homem grande com o braço de uma senhora entrelaçado no seu. Um dia irão ter filhos e ele próprio irá contar-lhes a mesma história que o fascinou em criança.
A mãe feiticeira, pega na colher e faz girar a sobremesa e a sopa que irá alimentar as bocas ao jantar. Todos se reúnem depois da folia de um dia de verão. A moça nova serve-se na casa do companheiro. O pequeno moço entretém-se a roubar pedaços de chouriço enquanto faltam pessoas na mesa. O marido ainda traz o cheiro do charuto algures na boca cansada e nos braços exaustos de guiar.
Por fim está tudo junto e preparam-se para comer. O livro da miúda ficou pousado no alpendre em cima da toalha de piquenique. O brinquedo do gaiato gasta-se nas mãos do chão da noite que por aí vem dentro. O lenço da rapariga embeleza o rosto que há poucas horas foi beijado de paixão e espera por mais amor. O rapaz olha-a com prazer. E os pais sorriem e vêm que tudo está bem. Algures no ar paira um cheiro a cerejas. Ou será maçãs? Mas não. Os sentidos enganaram-se. Foram confundidos com o cheiro da maçã que o senhor Augusto há pouco me deu a provar na mercearia da vila.