dezembro 31, 2013

A água escorre literalmente lá fora, para lavar o ano que já não queremos.
Despeço-me aqui.


dezembro 30, 2013

Quando fui passear o cão ouvi os pássaros e o sino da Igreja. Já era noite na rua. Em casa, estava tudo quente.
Acho que vou continuar a acreditar.


dezembro 29, 2013

« prometer um amor que dure para sempre é possível quando se descobre um desígnio maior que os próprios projectos, que nos sustenta e permite doar o futuro inteiro à pessoa amada.»


Até os grandes homens podem ser corrompidos.

dezembro 28, 2013

Cuidado com as metáforas

Imprimi os desejos meus em qualquer coisa fora de ti. Há dias só nossos.


dezembro 26, 2013

The Last of the Flock

« And now I care not if we die,
And perish all of poverty»


dezembro 23, 2013

será?

Ninguém é anónimo perante Deus.

dezembro 22, 2013

Ao olhar o medalhão com a gravação dos tempos antigos lembrei-me da tarde anterior. Das folhas tostadas do calor do sol sob o chão amendoado. A rua não falava. Tudo calava para ouvir o silêncio da estação, que eu precisava.
Recordei o banco. Olhei mais uma vez com ternura o banco onde começara a história de Keira e Adrian. A história da descoberta do começo do mundo.
Será que eu poderia entregar-me também a esse desafio? Ou era apenas vazia e nua, que não escutasse a voz do silêncio?


dezembro 20, 2013

Se a beleza se conjugasse apenas e sempre de tempos agradáveis metade de mim não existiria.


dezembro 19, 2013

Odiaria suspender-te do meu mundo.
És como catedrais.
O melhor de casa é a cozinha. A bênção da preparação do jantar. Se houvesse aroma estava tudo bem.

dezembro 18, 2013

Era prático abraçar-lhe a barba, embora difícil.
A boca de Tomé que falava sobre bustos egípcios.
Descobri que as práticas mais sensuais provinham do exercício de observar a fala de outrém. E a de Tomé, tão navegada e inteligente cobria-me a noção da consequência do tempo.
Ele era um poema. Eu li o poema. Compreendi o poema. Gostei do poema.


dezembro 17, 2013

Às vezes não sei que pense.
Se as paredes e o vazio carregam tanto como o prado aberto.

dezembro 16, 2013

O lugar encantado não é a casa.
Nem cortinados que rangem como cordas de uma guitarra.
É o sentimento, de se ser mulher.

dezembro 15, 2013

"There's something delicious about writing those first few words of a story. You can never quite tell where they will take you. Mine took me here, where I belong."

dezembro 14, 2013

o lago, de hoje


Não existia presente. Apenas uma amálgama finita, raramente finita para nós, que separava o passado e o futuro.
E nós? Estávamos contidos nesse turbilhão.


dezembro 13, 2013

« Há qualquer coisa de insensato na repetição. Que apesar disso pode dar tanta paz.»


dezembro 12, 2013

" São belas as pontes, se perdurarem".

dezembro 11, 2013

Aprendera que a ligação com a natureza não podia ser quebrada. Daí nasceria o caos.

dezembro 10, 2013

"Como eu não posso"

Morre jovem aquele que os deuses amam.

dezembro 09, 2013

Uma vez a rapariga bombeava o sangue nas veias enquanto as pontas do vagão da carruagem tremiam.
A noite alvoraçada lá fora fazia brilho nos olhos dele. A tenção no corpo agitado, a música clássica entorpecia-o. O olhar concentrado nas meias de rede nas pernas dela. Deslizavam tão perfeitamente até à súmula do pé, pensava ele.
Depois desse rápido movimento em direcção aos lábios, sabiam que viajariam mais rapidamente em direcção a Budapeste. Nessa hora já o sexo entrara nela, e a Lua perdera os sentidos.


dezembro 08, 2013

perfume

O que é suposto eu fazer com o perfume? Colocar-me sob a arma dos homens?


Escorrego nas palavras. Não há tapete no chão.

dezembro 07, 2013

As histórias de Amara tornavam-lhe os dias agudos. Como se a presença da literatura fosse mais forte que o frio, e os desejos.
Agora desejos, que seriam? Quadros nas paredes. Imagens imóveis, porque a história tinha sido aterradora.


dezembro 05, 2013

Louça partida na Marqueses da Fronteira


Quando cheguei junto e toquei na pedra fria senti a dor dos joelhos das mulheres que passaram horas raptadas pelo frio da capela. A luz mortuária que invadia. Vou-te contar uma coisa: desejei ficar.


dezembro 04, 2013

Não quedei. Guardava os envelopes e as mensagens de mundos exteriores até que fosse o dia de vomitar a felicidade. Até que a vida fosse o sonho real.

Rime

« We were the first that ever burst Into that silent sea»


dezembro 03, 2013

The Invisible world

«Eu olhava. Por causa do ruído das palavras arrogantes [...]»


dezembro 02, 2013

Eu já tinha reprovado no âmbito das relações. Desta vez fechara-me para dentro. Ainda mais para dentro do que todos fazem, e desapareci.
aquilo me salvava.

dezembro 01, 2013

« Considerava eu, na minha visão nocturna, os quatro ventos do céu
precipitarem-se sobre o grande mar.»


novembro 30, 2013

"(...) in spite of things silently gone out of mind and things violently destroyed"

novembro 28, 2013

cascata

Enquanto lavava a loiça, chorava.
"As the deer longs to spring water, so my soul longs to thee, my God!"
Respirei para dentro da imagem colorida do postal que viera da Sérvia. Cheirava a lavanda da água de colónia que estivera na minha secretária. E vi-me ao espelho através do mosteiro pequeno e quadrado.

novembro 27, 2013

A meia de renda que me subia até à coxa da perna. A minha mãe olhava-me com o olhar de quem sabe que eu já não sou uma criança. Haveria de ser de alguém. Ter o corpo dentro de alguém. Dizer palavras a alguém, e ela não podia fazer nada.
Já usava meias de senhora.

novembro 26, 2013

há chuva na estrada


sight seeing

O meu altar são os livros. Aquele lugar desassossegado que são os livros.
O púlpito em madeira que quase parece ouro, e alberga a noite inteira.


novembro 25, 2013

"When we dance angels will run and hide their wings."

novembro 23, 2013

como é que se respira sem possibilidades?
Não me agarrei ao estado das coisas. Fechei-as em gavetas, para não respirar.
Foi a partir daí que percebi que não poderia viver sem os estranhos e a escrita. A confusão de todas as coisas acumuladas.

novembro 22, 2013

Não vejo mal nenhum na religião. O problema é que durante muito tempo me tentaram oferecer desmesuradamente, até de um jeito forçado, a imagem de alguém de difícil acesso. Não O conseguia ver. Não o sentia quando o corpo abalava para lá das tristezas. Não o senti quando descobri o amor, muito menos o sexo.
Não sei, julgo que nunca saberei, quem é.
Mas não vejo mal nenhum na religião. Ela já passou por várias coisas.
Um dia foste tu, o teu corpo.
Hoje é outra coisa qualquer, que me arrasta até ao chão de noite a fechar o risco dos olhos.


Vital para a minha humanidade era saíres de rompante. Que não me viesses em reminiscências, umas atrás de outras quando entro e saio das coisas. Podias simplesmente ficar nesse globo parado. Sem palavras. Sem imagens.


novembro 21, 2013

Pudera que a tua voz fosse fina e baixa para que 
eu a pudesse deixar de ouvir nos ouvidos do coração.
Passei pelos acordes do som do inglês e não me lembrei de ti na paisagem.
Talvez porque sejas confuso, igual à pedra do Aqueduto pelo qual passo de carro nas manhãs.
Talvez voltes a ser mais. Agora és apenas um montante sólido no meio da minha confusão aérea.


novembro 19, 2013

Percebe que há uma amálgama de coisas, que nunca prevês, infinitamente mais bela e que te faz infinitamente mais feliz.
Até o brilho gasto da madeira.


Tentei escrever uma frase. Não consegui. Vou-me embora.

novembro 18, 2013

A minha mãe ensinou-me que o orgulho estraga paredes. Por isso decidi dar meia volta e pegar nas tintas. Vamos continuar como antes. Com um céu limpo entre nós.


Se não te perderes de ti, não te perdes dos outros.

novembro 17, 2013

" A saudade só se tem de quem se ama, por isso está tudo bem" Patrícia Reis
Por uns tempos tinha decidido dar uma oportunidade. A mulher fora atrás do semblante dele semelhante às folhas que caíam contra o chão, alvo da gravidade.
E fora aí que reparara que era tudo uma fraude. Uma malga de hipocrisia que deixava rasto nos pés.
Depois desse vazio, percebeu que não existia para os homens. Teria de existir para si mesma. Para o que olhava na quantidade de fora da janela que não passava de sombras.



novembro 16, 2013

Preciso de ti, não do

teu silêncio.

«Não quero, nunca, que vás»

Não sei como te explicar, mas vieste. Vieste ainda que em silêncio. Vieste do sul. Das praias do sul. Vieste não porque pedi mas porque querias. Vieste ao rio e vieste a mim. Olhaste o meu sorriso e descansámos em conjunto, quando o ano estava a acabar.
Vieste e eu nunca quis que fosses.

Não quero, nunca, que vás.


novembro 15, 2013

novembro 14, 2013

A Helena perdeu o pai. Não passará mais a ver os dias sob a sombra dos cabelos grisalhos do pai. O mesmo que lhe fugiu numa questão de horas.
A Helena, de quatorze anos, perdeu por uns momentos os sonhos. Foram-lhe roubados. Porque eles eram feitos com a força do sorriso do pai. O mesmo que agora está fechado, e a dormir permanentemente.


o barulho da chuva

Tenho o coração a saltar da boca. Os movimentos trocados devido a ti. Julguei que era paixão, mas afinal é amor.


novembro 13, 2013

wonderer

Enquanto o prefácio de Lyrical Ballads era descortinado, eu ouvia os balanços sobre a poesia e a prosa, sobre o verdadeiro verso romântico. Ao mesmo tempo pedia ajuda ao pano para limpar o anel que comprara recentemente, para que os seus diamantes brilhassem mais à luz branca das lâmpadas da sala comprida.
Afastei a mão lentamente à frente dos meus olhos e observei os pequenos pontos de luz a reluzir. Imaginei que tivessem resultado de um pedido teu.
Hoje desejo tudo de ti. Só desejo o todo de ti.





novembro 12, 2013

Já te contei porque choro?

A mulher à minha frente chorava aos tropeções dentro do café agitado. Eu olhava-a nos olhos, ouvindo as confissões, ouvindo o ruído do passado, e queria estender o braço e agarrar-lhe a mão. Queria, silenciosamente, mostrar-lhe que apesar da diferença de idades, eu estava ali, calada, sempre pronta a guardar segredo.
E no caminho para casa, na viagem detestável de comboio quis dar o nome dela à minha filha.
Ao que viria de nós depois do amor, e do sexo.





Consigo regressar aos sítios. Aos vidros braços da Igreja e do cheiro venenoso da missa. Parecem memórias tão mortas, mas deixam saudade.
Como o teu peito que não esfria porque não respiro deitada em ti.

novembro 11, 2013

enquanto me encosto a ti, devagar


O ódio sentimental que tenho por certas coisas, até pelo teu sorriso é a consciência da ausência da tua presença todos os dias. Mais. Da perenidade dos elementos que me envolvem na vida. Aborrece-me.

novembro 10, 2013

Irmãs de sangue

Não saberia por onde escolher entre um sorriso de regresso e uma imagem eternizada do sono do sol na praia da vila. Não saberia, por muito que tentasse, escolher entre as irmãs de sangue e o beijo salgado do mar.
São ambos eternos e inesquecíveis.



Obrigada por este Natal.

novembro 09, 2013

Olho para mim. Olho para o corpo. Para o que já não é só a súmula da felicidade. Olho para a rapariga que olha agora para o copo cheio do galão e que sente o corpo cansado. Agora rezo. Perco alguns momentos a pensar como seria se tivesse permanecido naquela Igreja em Praga. Tenho de lá voltar. Agora revejo o amor. Percebo que antes essa realização era um bocado simples que nos enchia a alma, e agora amor? Que fazemos se não estamos na mesma sala?
As paredes estão frias. Estive a esfregar os rodapés com um pano quente. Nem isso alivia a estação dentro de casa sem ti.
Agora que fazemos, se eu já não sou a miúda que só imaginava? Agora sou a mulher que quer a pele dos teus dedos macios por cima dos meus ombros. Podemos não fazer amor. Só fechar os olhos em silêncio, enquanto o galão ainda está quente.


Precisei de me confessar. De acabar com aquilo tudo, porque no fundo só criava o vazio maior de que eu tanto me tentava livrar.
Fui. Entrei. Larguei os restos, da mentira, e fechei os olhos.


novembro 08, 2013

novembro 07, 2013

Acho que te comparo repetidamente às coisas extravagantes, porque em mim crias sempre reacção.


Too lost in you


Ela não podia esperar que ele fosse o bocado que lhe faltasse da existência. Por isso, quando encarou as letras do bilhete da viagem na estação de comboios verteu as lágrimas que faltavam para correr.
Depois ele chegou, arrancou-lhe a mágoa e voltaram para casa, deixando Espanha para trás.


A minha mãe ensinou-me que o peixe fresco se distingue dos outros, na praça. pelos olhos.
São esses, que expelem o sangue da sua recente morte, que servem o melhor prato.

novembro 06, 2013

A sensação oclusiva de te ter nos meus braços deixa-me às vezes feliz. Tu a navegar no meu corpo, como ondas férteis, não quebradas.


novembro 05, 2013

é tudo

Pareceu-me que as dúvidas de Shakespeare fossem as mesmas que as minhas. Ainda que um homem centrado nas suas próprias idiossincrasias, ele pareceu-me tão semelhante na contradição entre o desejo incontrolado e na desilusão da doença do amor.
Não sei o que prefiro. Só sei que hoje escolho a chama dos teus olhos.


novembro 04, 2013

Dei por mim numa chuva de folhas amarelas na cidade, todas num rodopio incandescente outonal enquanto a manhã começava.
Lembrei-me de ti, por causa das folhas.


novembro 03, 2013


Sinatra contava-lhe que «amo-te» era tudo o que lhe conseguia dizer. E eu não sei o que te dizer.
Apenas que os alvéolos de fumo que voam do pau de incenso se parecem às curvas dos teus lábios.



Irmãs de Sangue

Jéssica partiria na segunda quinzena desse mês. Laura seguir-lhe-ia os passos no mês do vértice invernal, e o Natal seria mais uma vez diferente. O grupo repartido por outros continentes, onde as luzes se distinguiam mas onde o sentimento permaneceria o mesmo.
Seria uma ceia entre irmãs, no pensamento.
E da mesma forma que a música de jazz que saía da vivenda na rua outonal no caminho para casa me aquecia, essa mesma reunião ficaria gravada como os melhores poemas literários da nossa geração.
As irmãs de sangue ficariam juntas, como sempre estavam.




Quantas vezes não sonhaste com o reverso? A janela aberta para entrar o ar gelado do inverno. Por vezes é preciso reviravolta. A doença do coração. O querer-te sem expediente. O perigo do amor eminente.

novembro 02, 2013

A minha mãe dormia ali ao lado, e eu pensava no meu tio. Que ainda não tinha conhecido o meu tio dos barcos e ossos de mar.

Curva-te e lê


Linha d'Água - Mário Cesariny 

novembro 01, 2013


Chegou a casa e só queria um duche e o cheiro dele.
No entanto a casa estava vazia.

outubro 31, 2013

Gravity

O guitarrista acocorado sobre o palco arranhava a pele dos dedos no instrumento deitado.  Era um som cipreste, não de longe. Quando esse momento acontecia agarrava-se à orgia da música que era no fundo o rosto dela. Esquecia a casa, os quadros, o duche de fim de dia. Ficava louco enquanto a luz embatia sob as veias brutas nos braços dele. Como se fizesse algum esforço voluntário, quando, no fundo, vomitava as notas com prazer de dentro.
Ele, com o corpo contraído, tinha sonhos. De se elevar e não sentir a pulsação da terra a empurrá-lo para as coisas vulgares. Por isso tocava. Tocava até que a guitarra ficasse doente, e tivessem os dois que regressar a casa.
Para junto da gravidade.



Agora sinto-me diferente. Entrecortada nas árvores como no romance de quem escuta e não passeia.
Estou diferente, no amor.

outubro 30, 2013

Há um sinal que nunca te falei.  Um ponto castanho de amêndoa encerrado na pele junto à lua direita do meu peito. O fio de prata que carrega a cruz e que me nasce no pescoço sorri-lhe de lado quando estou nua.
Há esse sinal que nunca te falei. Uma mancha que anseio que lhe toques com a pele áspera do desejo das tuas mãos.


outubro 29, 2013

És um espasmo que vem de fora e penetra dentro. Não é só físico mas sobre todas as coisas que existem entre nós. Entre os outros que não fazem a mínima ideia de nós.
E só queria que permanecesses para sempre.

outubro 28, 2013

«from which only one man returns to tell the tale, more dead than aline»

Quando entrei no Continental para estudar Coleridge investiguei a sala como Monroe. Agora os seus pensamentos e demónios estavam comigo durante a fase nua que era a minha etapa adulta.
E os desejos seriam todos de ti. De ti inteiro, dentro de mim.




outubro 27, 2013

"Abraçou-me como se abraça o tempo".

Ontem quando olhava para Lisboa, perdida na noite, de luzes acesas não pensava no sentimento do dia de hoje. Na necessidade de ti. Na vergonha que às vezes tenho em falar-te da necessidade de ti. Porque acho que te farto. E depois canso-me da viagem que é recordar-me do tanto que nos separa. Canso-me. Perco a vontade de ter alguém que me agarre na anca e me beije durante a noite inteira.
Porque é Lisboa.

Enter the dragon

Acordar e ver filmes de chineses com o meu irmão. O cão que respira lentamente na colcha onde dorme. A luz de Domingo a implorar para entrar nas janelas.
Gosto das tardes calmas de Outono na vila. Da sensação de verão inacabado.


outubro 25, 2013

Ás vezes acho que a vida é um aborrecimento sem ti. Com essa dor que é a distância. O nó que aumenta pela imagem do sentimento que não se faz sem ti.
Dou por mim a ter sonhos vívidos como a força do vento. A recuperar-te em certos acenos de alma. Na pequena representação dos teus beijos em mim, que adivinho viciantes.
Afinal, isto é de quem está apaixonada por ti.



tio

A minha mãe falou-me de um irmão seu. O meu tio. Esse homem, que desconheço o rosto e que trabalhava produzindo ossos de navios, e mais tarde nos submarinos.
Hoje quero conhecer o meu tio.


outubro 24, 2013

faz-me companhia.

 Amanhã está mesmo bom para dormir até tarde com a chuva de pedra a cuspir no resto do mundo.
Estás em tudo o que se vê.
Porque sonho constantemente com os teus abraços.


outubro 23, 2013

A chuva irritada de hoje que colide com o mar parece uma pintura impressionista sob o vidro que deixa transparecer a imagem total imperceptível.
É isto que amo na estação.


outubro 22, 2013

"E essa chuvinha lá fora Parece que é feita pra nós", Carlos Lyra

Chegou um postal de Paraty. Chegou, finalmente, assim a praia e orla.
Um pouco de céu e mar, exactamente. Tão igual a ti.


outubro 21, 2013

Vamos apenas para dentro da cama até cessar o Inverno, e ser Primavera outra vez.
Não deixes de estar aqui enquanto o frio invade. A ilusão esquece, o amor não.


outubro 20, 2013

Choveres em mim é chorar na direcção contrária.
Deixam os nossos corpos de ser Inverno.

outubro 19, 2013

It's not the same moon



O homem sentado no cais penteava-lhe os cabelos com teorias universais. Ela estava longe, à distância das estrelas. Falava-lhe entre discussões, de como seriam os homens de outras viagens.
Seria possível que os caminhos os magoassem tanto no futuro, da mesma forma como os tinham juntado no passado? Ela não parara de insistir na ideia de os seus caminhos chocados e quebrados, depois de ouvir o que as constelações lhe diziam. Lembrava-se do toque dele, já maduro sobre a pele dela. O amor que faziam devagar no cais, depois do trabalho, dos navios.
Diferentes rotas de navegação que os dirigiam ao mesmo sítio, e agora que falavam à distância, como seria a eternidade?
Ela não sabia as respostas. Nem ele de como tinha chegado às mesmas perguntas. Mas amavam-se, com um gigante vazio entre os dois.


outubro 18, 2013

Perfect Sense

No mundo onde ainda haviam sentidos recordei-me das várias histórias.
Do juíz e da modelo no filme francês. Da enfermeira perturbada no apartamento de Chicago. Dos fragmentos sentimentais da peça de teatro do Maria II. Na casa vazia, de madrugada, onde te esperava, degolada pelo desejo.
Recordei-me ainda deitada sobre as letras da história de Calouste e daqueles vultos que caminhavam nas direcções grandiosas do sucesso.
Da rapariga a estudar longe, e do gelo das ruas de leste.
Eu lembrara-me, ainda que vagamente, das prateleiras quase negras de mogno que abraçavam os livros em cobertor, e que seriam colocadas na sala pequena. No espaço sem cheiro só com ideias.
E depois, alguns segundos significativos depois, tudo ficou mais vazio e feio. Foram todos perdendo os sentidos. Até ficar o vazio, no entanto todo.
O sentido perfeito - o amor.


outubro 17, 2013

Para a ursa, mais propriamente PÓLO NORTE

Antes pensava que esta coisa de vir aos blogges não dava com coisa nenhuma. Talvez tivesse uns dezoito anos quando me apercebi que o mundo da Internet se tornara mais sério do que eu julgara, ou todos julgáramos. Já não estávamos no tempo dos grandes jornais, que eu tanto defendia. Os saraus literários à moda do Ega e a pouca trivialidade do mundo epistolar.
Esses eram os meus sentimentos creditados, os mesmos de agora, apesar de um pouco limados.
No dia em que fui dar de caras com o blogue da Pólo Norte, aprendi o que muitos livros não me ensinaram no tempo da Universidade.
Agora, na margem aflitiva dos romances, dos grandes empreendimentos literários eu tinha aprendido a ser mais genuína e a fazer uso da minha capacidade humana de dar, a qual eu tinha usado em demasia e em detrimento de mim própria.
Não me passara pela cabeça achar a ursa tresloucada e desvairada.
Quando comecei a ler os seus relatos, era uma miúda, tal como eu me achava uma miúda. E depois a ursa foi mãe, e eu dei uns trambulhões na vida.
Já não chegava a casa sem a vontade inóspita de ir respirar o ar do "Quadripolaridades". Havia aí muita matéria para aprender.
Talvez a ursa não saiba, mas ela podia escrever um livro. Não desses cheios da sujidade das palavras e sem devaneio sincero.
A ursa podia escrever um livro. O livro que falasse exaltadamente dos olhos da Ana e do sorriso do marido que pernoitava nos olhos dela todos os dias.
A ursa, então nessa tarefa tão difícil que é a escrita, podia dar-se ao mesmo trabalho que os grandes escritores que eu admirava tiveram.
Nessa tentativa chegaria às livrarias e eu respiraria o mesmo ar quando entrasse na sala impregnada do perfume dos livros velhos, e seria feliz.
Talvez fosse diferente, uma realidade diferente.
A ursa poderia ser muitas coisas fora da sua compreensão fenomenal pelo mundo, e pela forma como olha o sol. A generosidade que não vem, senão apenas por impulso brusco do coração. Essa carga tão tangível quão as palavras dos livros que eu amava.
Mas não seria a mesma coisa.
Nada seria a mesma coisa, se a Ursa não fosse a Ursa e se eu não a imaginasse como ombro, ombro quente no Inverno da vida...blogueira!


13/42

Havia uma sensação doce que lhe ocorria no meio das pernas quando pensava nele. As horas passavam alvejadas pela rapidez. Os beijos dele a sangrarem pela pele dela, que no entanto, eram imaginados. Eram sucessões de fazes de amor entre os dois que a deixavam feliz nos dias que copiavam a tragédia Shakespeareana.
Havia uma colisão qualquer entre os dois que não os machucava. Uma diferença de absurdos deliciosa.
Amavam-se.


outubro 16, 2013

O rosto e o olhar de Monalisa da mulher pernoitavam na distância da paisagem que rebentava lá fora. Estava ao lado dele, o homem de camisa e traços risonhos, ela de blusa verde esmeralda e blush nas maçãs do rosto.


outubro 15, 2013

o ser do inexistente

Querendo saber o que não há, torna-nos simplificadamente egoístas. Sem saborearmos o sabor da ignorância que não é ácida no paladar.
Percebi essa parte, já não tão chata da existência, na carruagem de metro na neblina do meu reflexo vitreo. Essa parte de mim que vi, e que preferia desconhecer, ensinou-me a gostar da outra existência das coisas que ao nosso olhar são nulas.
Quem, como eu, nos parâmetros do romantismo, deseja essa parte sublime que nos eleva, é um pouco feliz.
A feliciade advém desse travo imaginativo que o vazio carrega. E hoje, fui livre em todo o silêncio que cabia na sala.
Assim, desta forma, no mundo.


ciclo harmonioso

O quarto estava vazio, de cal. Apenas a cama e os móveis cobertos por lençóis.
Foi nessa noite, a comungar com a solidão das paredes e do vazio, que percebi o belo, e no mesmo compasso a força com que nos agarramos aos sitios que estão pintados por nós. Por memórias exteriores a nós. As fotografias, os objectos, o cheiro que paira e não desaparece. Uma chama que de vez em quando se apaga.


outubro 13, 2013

Bibliófila

Estou a dez páginas do fim do livro, e já a pensar no próximo que vou comprar.

outubro 11, 2013


É por isso que somos grandes. Por que  apesar de almejarmos o mesmo lugar que o céu, criamos o bom, a arte. Ou pelo menos cingimo-nos a esse esforço dela, ainda.




outubro 09, 2013

Como a literatura mudava a cidade, o olhar dele estava sediado na distância.
Lá rasgado de montanhas de leste.
Foi por isso que escondi o olhar.



outubro 06, 2013

andava a sonhar com um amor assim


she lasted a lifetime

O roxo comprido do vestido educou-a para a paixão do mistério. A mulher recebeu-nos devota aos nossos segredos, e entregou-me a pulseira fina jurando promessa.
As manhãs de Domingo poderiam ser sempre assim.



outubro 04, 2013

ser druída

O olhar dela era carnal. Falava educadamente, quando não tingia de vermelho a solidão e os homens.
Era selvagem. Mulher.


outubro 02, 2013

As razões eram o sorriso ocidental do Valentin. O livro estreado no comboio na manhã. A recordação do pai. A estação que decorria sem acidentes, apenas chuva e cactos sentimentais.
Era início de Outubro.
Era.


setembro 30, 2013

O violoncelista japonês. Deixei-o no metro em São Sebastião com a cabeleira escura farta atada no elástico, e o olhar reservado.
O plástico a envolver o instrumento.

setembro 29, 2013

A realidade podia ser melhor que a imaginação. Podia ser indiscritivelmente mais assustadora que a ambição do pensamento de alguns, e por isso a rapariga atraia-se aos locais obscuros ou enferrujados e impregnados de satisfação histórica.
Às vezes não eram os livros. Eram as coisas tangíveis que provavam a sua deliciosa contaminação das histórias.
Era feliz por vezes. Na consequências das estações.


setembro 27, 2013

forças

Graças ao silêncio Outonal das coisas, e o vento que soprava as folhas híbridas descortinei a realidade do consultório de radiologia pela manhã com ternura. O edifício antigo e os pés marcados no chão.
Mais tarde ouvindo os senhores mais velhos na mansão, percebi que só poderíamos ajudar os outros com um silêncio cingido à força das coisas calmas.