outubro 27, 2014

Thinking out loud.

Sintra observa-me com atenção. Eu degusto Sintra. Entro nas teias de livros da Biblioteca Municipal. Olho o grande ralo de árvores e apaixono-me. Aqui as coisas parecem-me mais próximas, menos sóbrias, mais queridas. Mais como a voz rasgada do cantor ruivo.
Adormeço ao fim do dia.

outubro 26, 2014

La Finestra

Almocei num pequeno café na Miguel Bombarda. Pela janela uma luz grossa vermelha  identificava "La Finestra", o restaurante italiano. Li o suplemento do Expresso, ainda a matutar no teste de Francês, li sobre Brigitte Bardot e fiquei cheia.
Há uma movimentação desta parte da cidade que me faz ter saudades do arquivo. Do silêncio, da informação, do corropio do arquivo. 
Lembrei-me que tenho que rever "Os Europeus" na SIC Notícias. 


outubro 17, 2014

Vazio

Não sei porque razão me acontece, mas gosto de estranhos. Por exemplo a miúda do Marquês de Pombal que veio da lição de Italiano. Os homens de gabardina e pasta de cabedal, homens de negócio. Certas mães que carregam as filhas pela mão e são felizes com a maternidade. Jovens da minha idade, cheios de esperança, ou então desiludidos com a situação precária do país. O velho inglês que carregava a mala do acordeão até sair na paragem certa. 
Gosto da mulher da loja de colchões que me explicou que o livro da montra estava à venda. O Manuel do café que me conta histórias do 25 de Abril. De todas as almas que estavam no Largo do Carmo nas Comemorações e que me deixaram passar até à frente podendo ver o Vasco Lourenço. Gosto de quem lê no comboio. De quem lê o jornal. Dos namorados que discutem, e é tão passageiro. Dos documentos antigos dos meus avós e da sua estranha existência que não passou por mim.
Acho que somos nada. Estamos aqui apenas um instante. Eu estou aqui há apenas um instante, e já vivi quase nada. Engulo, espremo, abraço tudo ao máximo instante da minha vida para que possa guardar com recordação. Tenho pesadelos com a falta de memória, com solidão. Tenho pesadelos com a falta de desejo, de amor. Amizade.
Tenho medo do frio, da vida sem chão. Às vezes tenho medo de mim própria, até que não me possa esconder.
Hei-de permanecer, até voltar ao sítio original. Um lugar estranho.

outubro 13, 2014

Sonhei com o viajado. Ele, com o casaco simples, com olhar de realizador. Nesse sonho confrontámos o olhar e ele colocou o braço em volta do meu ombro. Adormecemos. É real. 

outubro 11, 2014

Acaba de chover

Não há apenas notícias boas, como não as há más. Moss e Stenham realmente intrigam-me da mesma forma que a poeira literária que Fez transmite me apaixona. Nunca abdicarei disso, da matéria dos sonhos.

outubro 10, 2014

Um negro a falar no comboio

A minha mãe ofereceu-me uma caixa de pó de arroz. Manuel entregou-me "Pnin" de Nabokov para ler. Comprarei as sete escravas em ouro enquanto preencho-me com a longa influência musical de vinil do Manuel. Passo todos os dias pelo Convento de São Domingos e o seu cheiro de humidade estival. Lima pergunta-me se acho que estou a ser perseguida, e finalmente envio a carta a Rebeca Abecassis.
Na próxima semana estarei no Chiado para a Serpentina de Mário Zambujal.


outubro 08, 2014

Quinta Avenida

Fomos ao café Quinta Avenida. Sentá-mo-nos em cadeiras de verga e ouvimos Frank Sinatra. Eu olhei discretamente para as persianas de madeira enquanto os outros fumavam. Ali podia ser Paris.
Hoje leio sobre o Protectorado Francês em Marrocos e compreendo a dor de Amar. A vida só pode ser compreendida assim. Lã castanha, e café quente.


outubro 06, 2014

Cheiro d'Café

Bebi café onde a actriz falava de assuntos diplomáticos com o homem. Ela é bonita, com os cabelos curtos escuros. Eu segui viagem para receber o livro do homem com quem combinara de gabardina vermelha à porta da livraria. "A casa da aranha" está comigo. Paul Bowles está comigo.