março 31, 2014


Quando hoje caí escorregando na água e mais tarde chorei sobre a minha infelicidade imaginei, que lá, estivera o teu abraço invisível, mas havia apenas chuva e o desalento.

março 30, 2014

Se Maio chegar podemos esperar as estrelas?

março 29, 2014

Já aproximadamente perto do fim é perceptível um fogo de artifício no céu. A mãe de Wadja, que lhe diz que terá de percorrer o mundo para trabalhar, revela a bicicleta sob a luz verde do terraço. E o sorriso das duas sob o futuro que não temiam, apesar de incerto, alimenta a narrativa.
A pintura tem sempre falhas, mas que oferecem beleza.


março 28, 2014

março 27, 2014

Está lá para fora uma chuva de Março tardia de que não gosto. 
Não constas.


março 25, 2014

Devias passar mais vezes sobre a pedra com fedor da habitação dos comboios debaixo dos nossos pés. Está sob a égide de histórias de velhos camaradas que descubro no caminho para casa.

março 23, 2014

Mira


« Ay! Delirio de sentirte en mis brazos
Recreando los momentos pasados »


março 22, 2014

O salão portugal

Na sala havia um piano e um leitor de discos de vinil com uma boca enferrujada apontando para as janelas do sótão.
O chão de madeira rangia e os quadros representavam pinturas surrealistas, uma delas Pessoa. A protecção das janelas era de uma madeira grossa e seca do sol de Março recente.
Esperei que o autor começasse e embalei.
Espreitei pelos seus olhos de águia enquanto ditava a geografia do seu bairro. No fim bebemos moscatel e comemos línguas de gato. Que melhor senão prazenteiros costumes para acabar tertúlias?


março 21, 2014

continuações


Tu. Hoje lembrei-me de quando costumávamos beber café com esse mesmo gelo de que falas, quando a cidade era outonal. Já reparaste que não somos outra estação? Podíamos viver numa redoma só de toques e sensações, e ninguém saberia desse segredo que é o amor. O nosso envolve paixão e sabedoria, porque é mesmo isso que tens de mim. O conhecimento da geografia do meu corpo. Os arbustos e marés que se tornam perigosas com o teu toque que me excita.

                
Hoje bebo café sozinha e já não estás. Não há sensação, só imagem.

março 20, 2014

I've got a crush on you

Há uma das fantasias em que entras no bar cheio de fumo sob o som do clarinete, e sem vergonhas pedes um pouco de álcool e sentas-te.
O mundo perdoa um jazz e uma bebida



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março 19, 2014

Vou-te contar que enquanto comia morangos reparei na verdade incontestável que é a auto-suficiência no mundo, e eu quero conquistar mais que isso. Estou a dizer-te que quero sair por aí, e viajar para conhecer o medo. Não quero permanecer numa redoma de vidro e deixar passar a paisagem africana ao lado. 
Eu temo, mas desejo com a mesma força o sorriso desconhecido, e a prova de que serei capaz de vencer a diferença. Serei capaz de perceber que teremos quantas multiplicidades de personalidades quantas auroras deixarmos acontecer.
Não estou a adiar, estou simplesmente à espera de um sinal.

imagem de The Guardian

março 15, 2014

Talvez é a ti que eu amo, mas não sei descrever um amor por um estranho de barba, que ocasionalmente expele um sorriso selvagem.


março 13, 2014

Roubei uma laranja e vim ler Hannah Arendt


Com a consequência do tempo estar agradável envolvi-me de novo na selva paradisíaca da Fundação de Calouste. Os jardins mantinham a pose exuberante de uma natureza que em tudo não é selvagem. Estes não eram jardins malauianos ou amazónicos, mas sim um recanto que sofria todos os dias manutenção, mas eu reconhecia-o como um milagre no meio da civilização.
A questão da paisagem que se tinha discutido voltava agora com força. Esta era uma localidade que falava mais alto que o homem, embora muda. Os animais e as plantas, e a presença humana que variavelmente invadia o espaço, contribuíam para a criação de uma paisagem cultural. Aqui não havia discriminação de idade e forma. As árvores aceitavam o meu dorso para eu descansar. Fechar os olhos e dormir a sesta. Quem não sentiria essa sensação de poder e liberdade, se lhe fosse entregue esse privilégio?
Paul Theroux continua sempre a ter razão. A viagem e a caminhada sem pressa constituem um dos melhores elementos da vida humana. Dizendo isto é admitir que o homem será sempre um procurador, em busca de qualquer coisa, que nem precisa de ter nome.

Essa pode ser uma palavra, um estímulo ou uma sensação. Para quê nomear se podemos sentir?

março 11, 2014

março 09, 2014

Ice House

« Desde o tempo da Companhia das Índias Orientais, nos séculos XVII e XVIII, a mão de obra indiana era explorada pela sua barateza. A mão de obra cule era a base do Raj britânico, desde meados do século XIX a meados do século XX, fosse a cultivar algodão para as unidades têxteis, fosse a cultivar juta para as cordas, ou chá para satisfazaer a sede imperial, ou (como na década de 1850) ópio indiano para enfraquecer a China, tornando-a uma nação de viciados e enriquecendo os britânicos. Os Indianos ainda estavam a ser explorados, mas a mão de obra não especializada e a força muscular deixaram de ser muito úteis; agora, os trabalhadores eram inteligentes, educados, essencialmente jovens, toda uma força de trabalho de cules cultos.»


antiga casa de gelo - Madrasta

março 07, 2014

a corrida do Eça

Já tinha dito que ouvira os tambores. Também, depois e ainda na tarde de sol ouvi a cancela do comboio junto ao porto de Alcântara e deixei que o vento me beijasse a cara. As janelas verdes são sempre boa companhia, e os regressos de carro com as janelas abertas a deixar entrar a Primavera são segredos que não contamos a ninguém.


março 06, 2014

"A saída para a crise está na poesia, não nos livros técnicos".

Ouço os tambores


março 05, 2014

O fecho da tabacaria

Enquanto segurava na analógica preta da Nikon apontando para o meu pai observei no quadrado a imagem amarelecida, talvez do tempo, da marca de outro século.
Segurei com força essa imagem na minha cabeça e esperei enquanto não tivesse esse presente comigo.
Agora poderia fotografar o mundo inteiro por causa da loja do senhor Costa.


março 04, 2014

I Guard your eyes

With my old man's wrinkled hand, 
with my old man's squinting eyes, 
let me hold your lovely hand, 
let me guard your lovely eyes. 
Worlds have tumbled, through their fall 
like a wild beast chased by fright 
I came, and I on you did call 
scared, I wait with you inside. 
With my old man's wrinkled hand, 
with my old man's squinting eyes, 
let me hold your lovely hand, 
let me guard your lovely eyes. 
I do not know why, how long 
can I thus remain for you - 
but I hold your lovely hand 
and I guard your lovely eyes. 



março 03, 2014

«A Primavera»

Desisti de beber o café no balcão e sentei-me no canto do café com o Diário de Notícias, e uma música de rádio que não reconheci de longe. Quando saí o estabelecimento já tinha vestígios de detergente no chão e apenas duas almas a conversar sobre futebol.


em conversa

Não há mesmo tempo para repetições. Tenho um bom exemplo disso. Comprei uma máquina descartável, e tenho-a trazido sempre na mala.
Sinto que os verdadeiros momentos na vida só merecem uma oportunidade para serem gravados.
Prefiro-a às máquinas digitais. Hoje toda a gente carrega smartphones e tecnologias que lhes permitem acumular demasiadas versões de um mesmo plano, quando o mais imperfeito podia chegar.

Não sei se concordas, mas cada vez mais aceito esta versão da vida para mim.

março 01, 2014

Encontrei terapia, talvez refúgio, na exposição sobre África que estava no centro cultural. No fim quedei junto à porta de entrada com o jornal nas mãos. Tantos confrontos lá fora para quebrar a solidão.