novembro 30, 2013

"(...) in spite of things silently gone out of mind and things violently destroyed"

novembro 28, 2013

cascata

Enquanto lavava a loiça, chorava.
"As the deer longs to spring water, so my soul longs to thee, my God!"
Respirei para dentro da imagem colorida do postal que viera da Sérvia. Cheirava a lavanda da água de colónia que estivera na minha secretária. E vi-me ao espelho através do mosteiro pequeno e quadrado.

novembro 27, 2013

A meia de renda que me subia até à coxa da perna. A minha mãe olhava-me com o olhar de quem sabe que eu já não sou uma criança. Haveria de ser de alguém. Ter o corpo dentro de alguém. Dizer palavras a alguém, e ela não podia fazer nada.
Já usava meias de senhora.

novembro 26, 2013

há chuva na estrada


sight seeing

O meu altar são os livros. Aquele lugar desassossegado que são os livros.
O púlpito em madeira que quase parece ouro, e alberga a noite inteira.


novembro 25, 2013

"When we dance angels will run and hide their wings."

novembro 23, 2013

como é que se respira sem possibilidades?
Não me agarrei ao estado das coisas. Fechei-as em gavetas, para não respirar.
Foi a partir daí que percebi que não poderia viver sem os estranhos e a escrita. A confusão de todas as coisas acumuladas.

novembro 22, 2013

Não vejo mal nenhum na religião. O problema é que durante muito tempo me tentaram oferecer desmesuradamente, até de um jeito forçado, a imagem de alguém de difícil acesso. Não O conseguia ver. Não o sentia quando o corpo abalava para lá das tristezas. Não o senti quando descobri o amor, muito menos o sexo.
Não sei, julgo que nunca saberei, quem é.
Mas não vejo mal nenhum na religião. Ela já passou por várias coisas.
Um dia foste tu, o teu corpo.
Hoje é outra coisa qualquer, que me arrasta até ao chão de noite a fechar o risco dos olhos.


Vital para a minha humanidade era saíres de rompante. Que não me viesses em reminiscências, umas atrás de outras quando entro e saio das coisas. Podias simplesmente ficar nesse globo parado. Sem palavras. Sem imagens.


novembro 21, 2013

Pudera que a tua voz fosse fina e baixa para que 
eu a pudesse deixar de ouvir nos ouvidos do coração.
Passei pelos acordes do som do inglês e não me lembrei de ti na paisagem.
Talvez porque sejas confuso, igual à pedra do Aqueduto pelo qual passo de carro nas manhãs.
Talvez voltes a ser mais. Agora és apenas um montante sólido no meio da minha confusão aérea.


novembro 19, 2013

Percebe que há uma amálgama de coisas, que nunca prevês, infinitamente mais bela e que te faz infinitamente mais feliz.
Até o brilho gasto da madeira.


Tentei escrever uma frase. Não consegui. Vou-me embora.

novembro 18, 2013

A minha mãe ensinou-me que o orgulho estraga paredes. Por isso decidi dar meia volta e pegar nas tintas. Vamos continuar como antes. Com um céu limpo entre nós.


Se não te perderes de ti, não te perdes dos outros.

novembro 17, 2013

" A saudade só se tem de quem se ama, por isso está tudo bem" Patrícia Reis
Por uns tempos tinha decidido dar uma oportunidade. A mulher fora atrás do semblante dele semelhante às folhas que caíam contra o chão, alvo da gravidade.
E fora aí que reparara que era tudo uma fraude. Uma malga de hipocrisia que deixava rasto nos pés.
Depois desse vazio, percebeu que não existia para os homens. Teria de existir para si mesma. Para o que olhava na quantidade de fora da janela que não passava de sombras.



novembro 16, 2013

Preciso de ti, não do

teu silêncio.

«Não quero, nunca, que vás»

Não sei como te explicar, mas vieste. Vieste ainda que em silêncio. Vieste do sul. Das praias do sul. Vieste não porque pedi mas porque querias. Vieste ao rio e vieste a mim. Olhaste o meu sorriso e descansámos em conjunto, quando o ano estava a acabar.
Vieste e eu nunca quis que fosses.

Não quero, nunca, que vás.


novembro 15, 2013

novembro 14, 2013

A Helena perdeu o pai. Não passará mais a ver os dias sob a sombra dos cabelos grisalhos do pai. O mesmo que lhe fugiu numa questão de horas.
A Helena, de quatorze anos, perdeu por uns momentos os sonhos. Foram-lhe roubados. Porque eles eram feitos com a força do sorriso do pai. O mesmo que agora está fechado, e a dormir permanentemente.


o barulho da chuva

Tenho o coração a saltar da boca. Os movimentos trocados devido a ti. Julguei que era paixão, mas afinal é amor.


novembro 13, 2013

wonderer

Enquanto o prefácio de Lyrical Ballads era descortinado, eu ouvia os balanços sobre a poesia e a prosa, sobre o verdadeiro verso romântico. Ao mesmo tempo pedia ajuda ao pano para limpar o anel que comprara recentemente, para que os seus diamantes brilhassem mais à luz branca das lâmpadas da sala comprida.
Afastei a mão lentamente à frente dos meus olhos e observei os pequenos pontos de luz a reluzir. Imaginei que tivessem resultado de um pedido teu.
Hoje desejo tudo de ti. Só desejo o todo de ti.





novembro 12, 2013

Já te contei porque choro?

A mulher à minha frente chorava aos tropeções dentro do café agitado. Eu olhava-a nos olhos, ouvindo as confissões, ouvindo o ruído do passado, e queria estender o braço e agarrar-lhe a mão. Queria, silenciosamente, mostrar-lhe que apesar da diferença de idades, eu estava ali, calada, sempre pronta a guardar segredo.
E no caminho para casa, na viagem detestável de comboio quis dar o nome dela à minha filha.
Ao que viria de nós depois do amor, e do sexo.





Consigo regressar aos sítios. Aos vidros braços da Igreja e do cheiro venenoso da missa. Parecem memórias tão mortas, mas deixam saudade.
Como o teu peito que não esfria porque não respiro deitada em ti.

novembro 11, 2013

enquanto me encosto a ti, devagar


O ódio sentimental que tenho por certas coisas, até pelo teu sorriso é a consciência da ausência da tua presença todos os dias. Mais. Da perenidade dos elementos que me envolvem na vida. Aborrece-me.

novembro 10, 2013

Irmãs de sangue

Não saberia por onde escolher entre um sorriso de regresso e uma imagem eternizada do sono do sol na praia da vila. Não saberia, por muito que tentasse, escolher entre as irmãs de sangue e o beijo salgado do mar.
São ambos eternos e inesquecíveis.



Obrigada por este Natal.

novembro 09, 2013

Olho para mim. Olho para o corpo. Para o que já não é só a súmula da felicidade. Olho para a rapariga que olha agora para o copo cheio do galão e que sente o corpo cansado. Agora rezo. Perco alguns momentos a pensar como seria se tivesse permanecido naquela Igreja em Praga. Tenho de lá voltar. Agora revejo o amor. Percebo que antes essa realização era um bocado simples que nos enchia a alma, e agora amor? Que fazemos se não estamos na mesma sala?
As paredes estão frias. Estive a esfregar os rodapés com um pano quente. Nem isso alivia a estação dentro de casa sem ti.
Agora que fazemos, se eu já não sou a miúda que só imaginava? Agora sou a mulher que quer a pele dos teus dedos macios por cima dos meus ombros. Podemos não fazer amor. Só fechar os olhos em silêncio, enquanto o galão ainda está quente.


Precisei de me confessar. De acabar com aquilo tudo, porque no fundo só criava o vazio maior de que eu tanto me tentava livrar.
Fui. Entrei. Larguei os restos, da mentira, e fechei os olhos.


novembro 08, 2013

novembro 07, 2013

Acho que te comparo repetidamente às coisas extravagantes, porque em mim crias sempre reacção.


Too lost in you


Ela não podia esperar que ele fosse o bocado que lhe faltasse da existência. Por isso, quando encarou as letras do bilhete da viagem na estação de comboios verteu as lágrimas que faltavam para correr.
Depois ele chegou, arrancou-lhe a mágoa e voltaram para casa, deixando Espanha para trás.


A minha mãe ensinou-me que o peixe fresco se distingue dos outros, na praça. pelos olhos.
São esses, que expelem o sangue da sua recente morte, que servem o melhor prato.

novembro 06, 2013

A sensação oclusiva de te ter nos meus braços deixa-me às vezes feliz. Tu a navegar no meu corpo, como ondas férteis, não quebradas.


novembro 05, 2013

é tudo

Pareceu-me que as dúvidas de Shakespeare fossem as mesmas que as minhas. Ainda que um homem centrado nas suas próprias idiossincrasias, ele pareceu-me tão semelhante na contradição entre o desejo incontrolado e na desilusão da doença do amor.
Não sei o que prefiro. Só sei que hoje escolho a chama dos teus olhos.


novembro 04, 2013

Dei por mim numa chuva de folhas amarelas na cidade, todas num rodopio incandescente outonal enquanto a manhã começava.
Lembrei-me de ti, por causa das folhas.


novembro 03, 2013


Sinatra contava-lhe que «amo-te» era tudo o que lhe conseguia dizer. E eu não sei o que te dizer.
Apenas que os alvéolos de fumo que voam do pau de incenso se parecem às curvas dos teus lábios.



Irmãs de Sangue

Jéssica partiria na segunda quinzena desse mês. Laura seguir-lhe-ia os passos no mês do vértice invernal, e o Natal seria mais uma vez diferente. O grupo repartido por outros continentes, onde as luzes se distinguiam mas onde o sentimento permaneceria o mesmo.
Seria uma ceia entre irmãs, no pensamento.
E da mesma forma que a música de jazz que saía da vivenda na rua outonal no caminho para casa me aquecia, essa mesma reunião ficaria gravada como os melhores poemas literários da nossa geração.
As irmãs de sangue ficariam juntas, como sempre estavam.




Quantas vezes não sonhaste com o reverso? A janela aberta para entrar o ar gelado do inverno. Por vezes é preciso reviravolta. A doença do coração. O querer-te sem expediente. O perigo do amor eminente.

novembro 02, 2013

A minha mãe dormia ali ao lado, e eu pensava no meu tio. Que ainda não tinha conhecido o meu tio dos barcos e ossos de mar.

Curva-te e lê


Linha d'Água - Mário Cesariny 

novembro 01, 2013


Chegou a casa e só queria um duche e o cheiro dele.
No entanto a casa estava vazia.