abril 30, 2014

Não sei se foi do calor, das imensas páginas que escrevera anteriormente ou da visão da morte do João, e as palavras do Padre na missa mais tarde. Senti-me desmaiar com os dedos à procura de qualquer coisa, talvez o colo.
Fechei os olhos e rezei para que chegasse a casa cedo.
Abril acaba hoje.

abril 29, 2014

(29) Palavrar a cada dia - calor/Razões de Abril II

O cheiro da erva cortada na Embaixada de Espanha;
A narrativa de Agualusa;
O abraço da Graça;
A chegada de alguém;
A felicidade;
O chá de boas noites;
Os sintagmas de Linguística;
O focinho terno do meu cão;
O riso de Raymond T. McNally;
O comboio, sempre o comboio;
O casal no Largo do Carmo;
Os cravos de Abril;
Eu, mulher de vermelho;
Abril. 


abril 28, 2014

(28) Palavrar a cada dia - mente

Tremi na possibilidade de te ver na manhã seguinte. Imaginei que lia, com as páginas pousadas nos joelhos, e em curtos espaços de tempo girava a cabeça para o sol. Continuavas lá como estandarte da minha alma, e jurei ser tão feliz.
A imaginação é tudo o que temos.

Foto de Deviantart

abril 27, 2014

Enquanto estudava apercebi-me que seria sempre vítima do julgamento dos outros. A nossa qualidade, a nossa vantagem promete sempre a inveja de alguém que não compreende o nosso mundo.
Estou confortável com o que sei.


abril 26, 2014

Nuvens

Ando para te perguntar o que são as nuvens. Serão os sonhos do céu? Confesso que depois de ler “A vida no céu” de José Eduardo Agualusa não me sai da cabeça as samaumeiras e os dirigíveis que nunca vi circularem lá em cima. Tenho curiosidade em experimentar. Gostavas de voar? A propósito disso, há dias fotografei as nuvens porque pareciam pedaços de algodão. Quis guardá-las a caminho daquele jantar. Apesar de me esquecer do cartão onde se guardam as memórias, tirei uma única fotografia porque desejava guardar o céu de quinta-feira para te oferecer. Mas se não quiseres voar terei de a guardar comigo, ou na gaveta. Um dia destes voamos juntos.


 Quinta do Barão

abril 25, 2014

25 de Abril

É manhã, dia 25 de Abril. Acordo cedo, não tenho aulas. Lá fora a paisagem derrete-se numa cor leitosa e ouço os pássaros, não há barulho. Pergunto ao meu pai o que fazia há quarenta anos atrás. Trabalhava na mercearia.
Eu acordo não mais cedo que as 08h00 e vou para a Universidade aprender coisas. Hoje está fechada para irmos às comemorações. Uma das professoras ontem perguntou se ouvíramos a TSF, e reparei que metade da turma a ignorara. Contou-nos que recebeu um cravo com a Visão. Não estavam caros os cravos? Mesmo assim, hoje vou a Lisboa. Avisto a professora no Largo do Carmo à espera do golpe que mudou uma nação.
Decoro o som dos gritos e as letras das canções. As palavras de Vasco Lourenço são verdadeiras. Os nossos aplausos também. Quando tento perceber porque não respiro no meio da multidão, é porque estamos todos juntos, não há tempo para pensar até à Rua António Maria Cardoso. Enfim respiro junto à PIDE. A água dos canteiros ladeia-nos os pés e todos temos cravos na lapela do casaco, nos cabelos, nas mãos e até nas malas.
Hoje estou de vermelho, sou mulher. Vem aí mais gente, gritando. Vem aí mais gente gritando e insistindo " 25 de Abril sempre!Fascismo nunca mais!". Eu repito com força.
Apeei-me junto a um dos carros das estações televisivas e vejo a figura do homem de câmera em cima do carro filmando as gente sempre a descer, e acumular-se junto à concentração. Eu estou sempre aqui, no meio.
Abril é hoje enquanto esperamos os rapazes dos tanques, as meninas de Odivelas e todos os que querem filmar e fotografar como eu. Vem o gigante carro verde e cantamos a Grândola Vila Morena. O Hino Nacional com a mão direita sob o lado esquerdo do peito, onde temos Abril no coração.
Hoje não há tempo para respirar. Estamos todos juntos.
A coroa chega. A coroa cheia de cravos vermelhos chega, e beijamo-la com hinos, gritos, fantasias! Hoje podemos falar!
Percebo que somos todos iguais.Recebo o sorriso de António Costa. O braço de Maria do Céu Guerra. Dezenas de jornalistas que olham para mim na gabardina vermelha e boina branca a cantar o hino com um metro e cinquenta de altura. Hoje posso falar.
Hoje podemos esperar que a cerimónia acabe e seguir o tanque que expele fumo lá atrás. A mulher que vende cravos coberta pela bandeira vai atrás como eu, e o carro aumenta a velocidade. Estamos todos nos mesmos sítios que existiam há quarenta anos atrás. Continuamos com alegria. Estou feliz.
O tanque aumenta a correria e desaparece na paisagem, e nós, o povo, Portugal vamos atrás.
Desembocamos no Arco da Rua Augusta. O Terreiro do Paço sorri. Há sol. Há vida. Há crianças empoleiradas nas varandas segurando flores vermelhas semelhantes à minha.
Hoje há liberdade!

Obrigada Abril!




abril 24, 2014

factos

Passei pela Praça de Espanha, a caminho do metro com a pasta de finalista na mão e subitamente o campo de flores brancas e amarelas foi invadido por uma nuvem de sol. Que contradição tão maravilhosa. 

abril 23, 2014

(23) Palavrar a cada dia - Vivência

«Afinal, o céu é mais bonito havendo mar e havendo terra.»





Olha antes do carro trabalhar, escutei a noite no dia. Pedi à minha irmã, que, por instantes, parasse de falar para eu ouvir os pássaros. Há tanto tempo que isso não acontecia, é como prever a tua chegada. Já não me lembrava da tarde assim, desde que me apaixonara por mim mesma no reflexo da água do lago.
E hoje, com tantas dúvidas e cruzadas o som dos animais fez-te chegar. Estás mais perto do que pensava.


abril 22, 2014

Projecto Novo - «O resto é silêncio»

O Ricardo Cunha começará a escrever neste blogue. É um princípio, e como todos os começos pode trazer com ele alguma estranheza. Para quem lê esta página, que já celebrou alguns anos, sabem que falo maioritariamente do amor. A natureza da minha escrita, é em todos os sentidos pouco transversal e oposta à do Ricardo, por isso não hesitei em aceitar o seu convite. Precisava deste empurrão, deste desafio. A natureza do homem só avança se for estimulada, confrontada. Acredito que o ar que vem dos blogues dele, e que poderão ver através dos links aqui abaixo, trará uma nova atmosfera ao meu lugar.
Com calma, e paciência perceberão os seus motivos, o seu esqueleto, a membrana dos seus parágrafos e histórias que podem ser tão doces quanto trágicas.
Tenho a certeza que se irão surpreender.

Para o conhecerem melhor, espreitem aqui:

1 - http://meia-noite-intermitente.blogspot.pt/

2 - http://umquaseblogue.blogspot.pt/

3 - https://twitter.com/ricfilipx (twitter)

Vamos a isto?

(22) Palavrar a cada dia - ficar

«Eu não sei
O que é que te hei-de dar
Nem te sei 
Inventar frases bonitas

Mas aprendi uma ontem
Só que já me esqueci
Então olha gosto muito de ti»


abril 21, 2014

(21) Palavrar a cada dia - Luta

Luto a cada dia pelo brinde da natureza. Essa paixão celeste que desce à minha pele e se infiltra pela terra adentro. Há segredos que adoro descobrir. Tal como tu.


abril 20, 2014

abril 19, 2014

Ontem fui passear o cão. Recebi a carta da Irina da Sibéria. Guardei com carinho o caderno das flores. Pensei nalgumas coisas que te queria dizer. Reorganizei a minha cabeça com a pressa de chegar a casa, e lembrei-me do saco de chá que deixei em cima da secretária. O cão estava agitado no jardim, mas esqueci-me de tudo. Quando cheguei à zona dos arbustos lá estava aquele todo verde, lembrando o café Limo verde, com os fios de sol lá por cima. Se pudesses ver isto tudo, comigo ou sem mim. Se pudesses compreender o quão bonito tudo é caramba. O vento a balançar as folhas verdes, tão semelhante ao movimento do mar, e elas ali saudáveis. Ou, outras vezes, tão quietas quando há apenas sol. A Primavera é isto tudo. É esta quantidade toda que eu gosto de ti. Da mesma forma que me espanta a originalidade do jardim, o teu corpo e as tuas palavras  me anestesiam. Não consigo pensar noutra coisa. Só queria que soubesses isto. 
Enquanto isso, deixo o cão em casa, e vou dar uma volta. Preciso do resto, das flores

(19) Palavrar a cada dia - Novo

«Being close to craziness is being close to you»

abril 18, 2014

(18) Janela

A tua natureza não é tão previsível assim. Na tarde de hoje quando corri para o banco da estação deixei-me preguiçar sob o sol e fechei os olhos. Vinha-me um cheiro a laranjas de longe e lembrei-me da narrativa dos cinco quartos de laranja de Joanne Harris. Nessa realidade haveria um homem. Nesta apenas vazio. Deserto. Solidão.
Hoje não há mais nada.


«O amor é um grito mudo. Acorda e muda tudo.»

Nada é eterno, mas nada disso me interessa. Apercebi-me hoje da efemeridade das coisas tal como das crenças. És o que eu melhor acredito.

abril 17, 2014

Ali pela vila estavam os barcos, o meu corpo deitado na baía a ver as gaivotas passar sem o teu braço à volta da minha cintura.
Um dia realiza-se.

Pérgola House - Avenida Valbom


Baía de Cascais

(17) Palavrar a cada dia - cama

Passar todos os dias da minha vida com os teus lábios no meu ouvido sussurrando o meu nome nos lençóis da cama.

abril 16, 2014

Sim, estou em mim. Sempre te quis e quero. 


abril 15, 2014

(15) Palavrar a cada dia - acto

Caminho e pratico o acto de olhar para eles. Ver para além do mar, com sentimentos.


Às vezes espero que não seja tarde demais para mim.

abril 13, 2014

As razões de Abril

A natureza.
O que a natureza me faz sentir.
A relação que tenho com a natureza.
A natureza nos dias bons.
A natureza nos dias maus.
O pólen do ar.
As caminhadas com o cão.
O meu sítio secreto.
As flores.
O canto dos pássaros.
O teu abraço imaginário na Primavera.
A Primavera.
Tu.
A fruta.
As cores.
A música, literatura e películas.
O sentir que apregoas.
A necessidade de ti.
Tu.
Tu outra vez.

«You are the only part of my life I haven't figured out yet.»



(13) Palavrar a cada dia - Viagem

Dói ter e não ter. Como ir e não ir.

abril 12, 2014


Ontem recebi um beijo de boa noite do meu pai, como todos os restantes dias. É a prova de que tenho pelo menos um homem da minha vida.
O outro és tu.



abril 11, 2014

(11) Palavrar a cada dia - sonho

Tive a certeza de ser uma honra partilhar os pormenores da tua vida. O chegares a casa e haver brisa e amor ou então silêncio. Oh..então na Primavera!




abril 10, 2014

A tua chegada será um oceano de alegrias.

abril 08, 2014

(8) Palavrar a cada dia - Cidade

Forte é a tua casa. Coração aberto, onde caibo eu lá toda mais o mundo inteiro. És a minha cidade.

Do I wanna Know - Artic Monkeys





















                                          Ir

distance

Sabes de cor as linhas desenhadas da minha anca. Os teus dedos são piano. Sei disso porque observo o reflexo dos teus gestos exasperados do prazer entre nós dois, que balança na parede à custa da luz da única vela acesa.
Cheira a rosmaninho, e a suor.

abril 07, 2014

o jogo

Olha como fui conduzida pelo carris esta tarde vinda da metrópole. O misto de sensações por que poderias passar se tivesses estado ao meu lado seduzido pela briza. O teu corpo junto ao meu. Quase parece Verão.




abril 06, 2014

ouve..

Digo-te o que és. És o envelope conservado. O selo de outra região. Aquele som de pássaro que tenho falado, e que me acorda na solidão de sábado. És o sorriso, ou o rosto contrariado, também há chuva. És a chávena de chá que teimo em tomar quando a noite se prolonga. O barulho do sol a subir pelo céu acima quando por vezes acordo cedo demais a pensar que estás à porta. O fio de luz que bate na janela do comboio em direcção à cidade. És a paciência de uma noite de televisão. O mergulho único despidos no verão. A receita que nunca me engano a cozinhar. O copo de vinho do Porto que não nego. És quem eu sou, às vezes duvidando.
És muito amor. És muita paixão.
És alguém que caminha e busca a viagem. Um diário. Uma fotografia. És o que ninguém nunca conseguirá ser.
A música de nós. A música do mundo.



(6) Palavrar a cada dia - azul

Amo cada célula do teu corpo. São azul.

abril 05, 2014

Abraça-me.

(5) Palavrar a cada dia - água

Água, Água, Água.
Que o mar seja sempre lugar de não retorno, se é para ir para eu pé de ti.


abril 03, 2014

Conheço-me demasiado bem para fingir que não se passa nada.

(3) Palavrar a cada dia - faca

Não podia prometer nada, a mulher, enquanto estava no comboio. Apenas constatou que ele não lhe saía da cabeça enquanto ela desejava que os dias que se seguissem morressem, para outros chegarem.

 Já é impossível a espera. É faca que corta.



abril 02, 2014

«outono»

A chuva podia cair a noite toda e trazer-te. De manhã acordaríamos, e haveria sol. 
Temo que os nossos corpos se encaixem, e quero que entres em mim.

(2) Palavrar a cada dia - Amor

Não sei bem o que é o amor, mas estava lá hoje no comboio quando a rapariga vestida de preto contava a história da branca de neve à filha entretida a fazer desenhos ao seu lado.
Agora que penso o conforto que acho em ti é sinal que nutro algo pela tua pessoa. 
Já disse.

abril 01, 2014

(1) Palavrar a cada dia - Espera

Às vezes não entendo a espera, mas concebo-a como um sinal do quanto gosto de ti, e tu de mim. Assim de repente somos uma balança de tempos coordenados.
Estou triste. Desiludida com a Humanidade. Com a condição de não te ter, fora a distância que nos separa.
O aguaceiro lá fora provoca uma irritação em mim, que me faz odiar tudo. A generalidade das coisas aborrece-me, e hoje sonhei que te via. Declarei-me ao teu estado de espírito enquanto me conduzias pelo corredor.
A pensão não tinha nome.