agosto 31, 2010

voa voa

Eu nunca pensei em ter a casa perfeita. Quando era feita de inocência sonhava com vestidos cor-de-rosa e casas de seda. Agora sou uma estranha para essa menina e contento-me com uma casa de madeira, branca e azul. Gosto de saber que tenho cadeiras antigas que combinam com uma mesa de cozinha onde pouso o café quando acordo de manhã e ouço os pássaros chilrearem de liberdade. A mesa que me escuta no silêncio da noite enquanto janto ao teu lado.
Gosto de me sentir confortável na minha parka verde escura e nas minhas botas pretas. Não tenho inveja das grandes artilharias que sonhei em tempos. Podes ter a certeza que mudei. Sou feliz assim. Sou despreocupada em certas questões e durmo numa cama de grades com uma colcha com flores velhas. Podes não acreditar mas como o peixe salpicado no azeite e no alho quente saídos do forno e à noite gosto de observar o farol. Gosto mesmo. Ainda sorrio como dantes mas agora já faço muitas mais das coisas que imagino na minha cabeça. Já não choro só para mim. Partilho as tristezas com alguém.
E sabes uma coisa? Acredito na sorte. Agora coloquei um saquinho de ervas junto a uma cama e sonho no escuro como uma criança. Ainda sonho. Sonho muito. Provavelmente tudo isto não passa de uma mentira, mas eu quero acreditar que é agora que tenho de fazer isto. É agora que tenho que imaginar um móvel azul de cozinha com janelas tapadas por arame e uma banheira de pés que cheira a sabão natural. É agora que tenho que nadar selvagem como os peixes do mar bravo em frente à minha casa.
E gostava de ter a tua companhía. Gostava de ter uma amiga de volta. Sinto falta dessa tua certeza e desse realismo. Sempre te quiz ensinar a sonhar mais. Sempre quiz dar-te a conhecer o meu mundo porque é assim que eu sou e sei que me aceitas como sou. Por mais que insistas em palavras negativas, eu sei que escondes um sorriso que há muito espera sair.
Eu sei que sim. Quero mostrar-te a minha casa. A minha cozinha que cheira a compota de framboeza e cheira a sal do mar. Agora tenho um barco seguro.
Não tenhas medo joana. Só quero que voltes a casa. É seguro.

agosto 29, 2010

soledad


Quase picava e ardia a sensação de olhar aquela imagem. A Lua participava na peça abraçada ao negro do céu. Envolvia a água que embalava os barcos, numa luz intensa e brilhante. Quase jurei chorar naquela noite trágica. As palmas continuavam al longe enquanto o cenário marítimo continuava na calma dos seres escondidos debaixo das águas.

As redes entrelaçadas umas nas outras, traziam o cheiro a peixe e no fim da noite a praia servia de cenário para os namoros fictícios e as gargalhadas de horas mortas. Eles certamente estariam abraçados numa das tendas a celebrarem a vida inocente de dois jovens que se amam e que se envolvem no desejo físico de se encontrarem. O mar introduziu-os e agora vivem longe da multidão, num globo à parte, onde o cheiro do mar lhes cobre o corpo de sal. E eles parecem não se importar. Fazem parte um do outro. A saudade um dia os vai separar para oceanos diferentes, quando tudo estiver morto, ao som das teclas de um piano que acompanhou uma voz grave desejosa de não partir. De permanecer quieta como o frio de Inverno faz em tardes geladas em que se observa o mar por detrás de uma janela baça pelo calor de uma chávena de chocolate quente que me preparaste. De seguida vais-me abraçar envolvidos numa manta quente e sem me sussurares ao ouvido, vais libertar com força as palavras da tua boca, vais-me amar como me amaste há muito tempo atrás, quando a existência desse amor ainda não era sólida para ti. Queres que te conte outra vez? Eu lembro-me, numa tarde chuvosa em que o mar agitava as almas da ilha. Eu, coberta de gotas cheias de raiva, puxava a rede para dentro do barco, com a força de um leão. Os dedos cortavam-se na corda e manchas de sangue salpicavam na estrutura de madeira. Tentaste ajudar ignorando os meus gritos dizendo-te para fazeres o contrário do que estavas a fazer. Fizeste-me perder o peixe. E isso não te perdoo.Fizeste-me perder o peixe e seguiste-me quando enfurecida larguei tudo e dirigi-me a casa. Não queria saber do sangue nem da chuva que me encharcava o corpo.

Seguiste-me os últimos passos e fechaste a porta com força. Eu continuei a gritar culpando-te de todos os males daquela ilha. Puxei palavras maldosas e abraçaste-me. Impediste-me do pior. Agarraste-me na força de um tubarão que se agarra à perna da vítima. Desta vez agarraste-me o rosto e não me deixaste recusar o doce e salgado da tua boca. Roubaste-me a fúria e desejei ter resistido ao movimento dos teus lábios nos meus. Não me deixaste resistir durantes as horas inteiras daquela noite, e deixaste-me apoiar a cabeça no teu peito e acariciaste-me o cabelo julgando-me adormecida. Julgaste mal. Estava bem acordada e essa consciência levou-me até a ti e às tuas cordas que me prendem todos os dias.

Fizeste amor comigo e fizeste-me perder o peixe. Mas o brilho desta noite, nada se compara a essa perda. É muito mais que mero peixe para cozinhar. É a luz da Lua que nos ilumina e não nos deixa temer a pior das palavras, o Adeus eterno.

Apple pie without cheeze is like a kiss without a squeeze.


Sim. Ela era bonita . Fazia lembrar os raios de sol que se escondiam do beijo das árvores forasteiras.

No canto do lábio escondia receios de uma mulher diferente. Ela desafiava a verdade das coisas e era dona de uma beleza comum. Ninguém lhe dizia que não detinha de uma beleza incomparável.Mentiam. A verdade morava no rosto rosado que carregava o sorriso de uma guerreira. Sim. Ela era bonita. Não o dizia muitas vezes. Julgava que o mundo serenava com a honestidade e a modéstia das palavras.

Por vezes, deixava escapar um sinal de compreensão no meio de uma selva de brutidão falsa. Navegava como os barcos, e tinha nos braços a força de cordas azuis e brancas.

Quando caminhava na rua fingia não ouvir o riso das flores e as exclamações dos pássaros divertidos comentando o seu aspecto corajoso.

Era uma rapariga. Uma menina escondida no corpo de uma mulher que magoava o mundo com a sua atitude lisongeadora. Curava pessoas. Curava o mundo da brutidão dos vivos e aclamava tantos que o amor segredou para junto de si. Costumava ouvi-la. Ouvia-a calmamente reparando no pormenor da sua voz. Era doce, como o açucar que desfaz o coração dos gulosos. E se a força de uma crítica a confrontasse, ganhava batalhas apenas sendo ela própria. Tinha explosões de alegria que encolhiam por vezes para deixar entrar lágrimas de tristeza.

Sim. Ela era bonita. Mesmo quando chorava, como o mar às vezes cospe na fúria do vento que o traz para sul.

Um mar límpido, voraz e bravo. Tal como o coração que ela tinha. Um coração de ouro.

Quando o Sol queima a pele e sentimo-nos extasiados, ela corre e abraça-nos o corpo quente. Refresca os problemas e esqueçe-se que o calor do Sol também a queima a ela. Apenas foge por entre as folhas de uma árvore pacata que um dia dará belos frutos.

Sim. Ela é bonita.

agosto 27, 2010

frascos de especiarias

Eu lembro-me de vê-la sentada na cama vazia. Há muito tempo que a cama se divorciara de afectos. Ela escondia o medo com a posição que mantinha no corpo. O corpo encolhido, lembrado numas roupas vagas de pescador. Os poucos objectos que preenchiam a divisão permaneciam calados. As pequenas lembranças. O móvel antigo. O soalho velho e gasto que seguia a porta que estava fechada.
Acariciava os lençóis com as mãos e sentia o cheiro do sal. O odor de alguém que antes esteve ali e agora desaparecia nas sombras de outra casa. Ela olhava o tecto tentanto recordar-se das formas que imaginava no escuro em pequena. Eram formas elípticas, brilhantes, desenhadas com o seu dedo de pequena. Quase conseguia alcançar o céu se a noite não tivesse fim e a escuridão dos seus sonhos a acompanhasse no trajecto do areal.
Regressava das viagens do barco, das lições do mar e cruzava o olhar com uns olhos amargos à procura de uma rede de pesca segura. Certamente ele não repararia na silhueta desapercebida da rapariga que calçava botas de borracha e um anorak amarelo. Os cabelos voavam com o vento, que transportava o cheiro, o seu perfume feminino até ele. Até ele se embebedar nos seus sentidos e correr de novo ao encontro dos seus olhos. Ela sorriu. O mar ensinou-a a sorrir e permaneceu quieta, talvez procurando o lugar seguro na expressão do rosto que se estendia à sua frente.
Pareciam ignorar o movimento alheio dos outros corpos e aproximaram-se num elixir de emoções como uma catadupa numa batalha feroz.
Pareciam querer agarrar o destino um do outro até que a corrente a puxou do lugar e ela mergulhou nas águas ansiosas salgadas. Ele riu-se. Pareceu acostumado à imbecilidade do amor.
Era natural.

agosto 26, 2010

estrelas


durante a noite existem coisas mágicas.

agosto 25, 2010

em tua casa


E ela encheu-lhe o coração e ele vestido sem preocupações fê-la feliz. O cheiro dele. O odor da sua pele. Eram mágicos e por razão alguma ela deixou-o à espera no pontão. Os barcos deixaram de dançar ao sabor da água do mar e a casa ficou vazia. Em silêncio. Anos mais tarde na dúvida ela questionou e batalhou para esqueçer uma dor forte que tinha no peito. Não parava de a matar por dentro até que viajou até ele e avistou-o na casa que um dia foi abandonada. Quando entrou as cores do ar mudaram e a brisa do mar correu até ás suas bocas começando uma discussão acessa. Gritaram palavras de mágoa relembrando o passado e o meio que foi perfeito e lúcido. Agora os barcos conversaram levantando no ar um burburinho de satisfação. Largaram um olhar suave. Pararam no tempo e no meio de tantas palavras acessas de fúria os seus lábios encontraram-se na raiva de se tocarem e pertenceram um ao outro nesse momento. Os barcos exaltados de felicidade deixavam-se navegar nas águas agora calmas do mar e a praia estava deserta. Um beijo demorado e subtil. Quente e espontâneo enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto da jovem. Regressaram ao porto seguro e desta vez o destino colocou-os na mesma sala. No mesmo pedaço de mundo que um dia foi tirado de uma vida infeliz e colocado numa casa de bonecas numa pequena ilha de alegria. Encontraram-se e nem o mar pôde recusar a oferta de um regresso inesperado. O porto estava seguro.

premonição

tenho a sensação de que algo aconteceu meu amor. Como gostava de estar aí para te abraçar e dizer que está tudo bem :x

agosto 23, 2010

paper boat


O que faz uma rapariga perdida numa baía cheia de barcos? Ela, vestida simplesmente com uns jeans e uma camisola branca às riscas azuis procura algo perdido no mar. Ela observa atentamente os pescadores e aponta palavras no seu bloco de notas. Sentada no pontão atreve-se a mostrar um sorriso e a fazer perguntas ao velho homem que puxa as cordas do barco branco e azul.
Ele com súbita desconfiança larga palavras simples e faz a promessa de professor do mar. Ela pergunta e ele responde, desvendando os segredos da pesca e dos monstros marinhos. Como é bonito aquele sítio à noite!
E na promessa desse serão de uma tarde solarenta fazem juras envergonhadas de um regresso, de uma outra tarde passada naquele lugar.
Ela há-de voltar e da próxima vez irá encontrar o rapaz que a avistou ao longe sob a luz atenta do farol.
Ela vai voltar.

agosto 22, 2010

big mess


já estiveste virado do avesso? Eu já. Como se a porta que sempre esteve aberta se fechasse de repente na tua frente deixando marca no teu rosto. Todos os segredos que contaste foram revelados e agora não podes segredar baixinho, tens de te esconder do mundo. Até encontrares alguém de confiança vais ter de arranjar um esconderijo onde não haja uma beleza que mate a fera. Porque a fera foi magoada e primeiro que se levante deste monte de feridas terá de ter a ajuda de um braço forte que consigo erguê-lo desta grande confusão. É isso que vai ter de acontecer. Até lá reza. Talvez essa pessoa esteja mais perto do que imaginas.

agosto 21, 2010

Cartas para Julieta


Sim, sim, sim! É isso mesmo. Romeu e Julieta podem não ter existido mas é uma verdadeira celebração do amor e do quão é importante não abdicar da parte mais maravilhosa da nossa existência, por motivos materiais ou exteriores ao amor.
Tudo se consegue com amor. E se Claire e Lorenzo conseguiram, então acredito que existe sempre alguém à nossa espera. E acredito no destino tal como a Sophie.

agosto 19, 2010

conquista


Que os melhores lugares do mundo sejam teus

agosto 18, 2010

conta-me uma história


Eu sonhei com uma noite de Natal. Estava lá toda a gente! Estava a paz de que precisava. O quente do écharpe e o amor concentrado em quantidades culinárias. Uma colher de chá de afecto, uma colher de sopa e 3/4 de sonhos por realizar e uma chávena de esperança. E no meio disso tudo, a coruja espreitava à janela e sorria, porque em noites como essas pouco é preciso fazer. Apenas viver, porque essa é a obrigação de quem sente. Sentir é mais que saber.

agosto 17, 2010

estúpida mariana

estás tu numa aflição e eu preocupada com o meu umbigo. cala-te boca! devias levar porrada sua estúpida ,

odeio-me :x

encontrei um entretenimento


com uma caixinha de 24 lápis de cera pode-se ser feliz para o resto da vida (:

agosto 16, 2010

casa de bonecas


Não percebo. Não percebo mesmo. Afastas-te assim sem dizer nada e eu que crie expectativas para ocupar o meu tempo. Já não há mais divisões para limpar. Os cozinhados estão todos feitos e este mês já fiz muitos bolos. O livro está a avançar e finalmente gosto do meu cabelo. Mas então e tu? Tu que és a única pessoa a quem devia contar todas estas coisas? Estou à tua espera há tanto tempo e não sei se mereço esperar mais. Começo a ter demasiadas saudades tuas. E já não sei se a praia vai continuar a estar livre.
Sabias que eu queria viver numa pequena casa para dois com canteiros nas janelas e um pequeno quintal para plantar girassóis? Sim, os teus preferidos. Eu só queria que estivesses cá para eu te dizer estas coisas da minha cabeça. Porque sei que és a única pessoa que me percebe e não me chama de maluca. És a única pessoa que me diz que posso ser quem eu quiser, e eu quero tanto ser como eu imagino na minha cabeça! Se soubesses o quanto quero viver o imaginado e não a porcaria que vejo à minha frente. Se soubesses que não era isto que eu queria para mim, e que uma casa de madeira me chegava para encostar a cabeça numa destas últimas noites. Quero contar-te tantas coisas e não tenho sinal de ti. Eu quero-te aqui ao pé de mim para te dizer que o meu coração bate um bocadinho mais forte pelo rapaz que passeia o cão no mesmo jardim que eu. Eu quero-te dizer que existem duas árvores no jardim junto da minha casa que dão frutos e fazem a combinação perfeita e dão uma sombra maravilhosa. Queria-te contar que acho tudo tão estúpido à minha volta. Que encontro o sossego nas coisas mais diferentes de toda a gente. No outro dia besbilhotei o armazém dos livros da Fnac e dei pelo homem do carrinho distraído e por 2 minutos fingi estar num sítio completamente diferente! Já te tinha dito que és linda? Não, pois não. Enquanto não vieres não te vou poder dizer essas coisas.

Agora a cozinha faz-me companhía.

agosto 07, 2010

o campo

Quero agarrar a ti o céu
Quero agarrar a ti o chão
Quero que a chuva molhe o campo
e que o campo seja teu
Para que eu cresça outra vez
Quero agarrar a ti raiz
Quero agarrar a ti o corpo
E eu quero ser feliz...

agosto 06, 2010

esconderijo

gostava que percebesses que a porcaria de mundo que temos é exactamente o melhor de todos.aproveita