Eu nunca pensei em ter a casa perfeita. Quando era feita de inocência sonhava com vestidos cor-de-rosa e casas de seda. Agora sou uma estranha para essa menina e contento-me com uma casa de madeira, branca e azul. Gosto de saber que tenho cadeiras antigas que combinam com uma mesa de cozinha onde pouso o café quando acordo de manhã e ouço os pássaros chilrearem de liberdade. A mesa que me escuta no silêncio da noite enquanto janto ao teu lado.
Gosto de me sentir confortável na minha parka verde escura e nas minhas botas pretas. Não tenho inveja das grandes artilharias que sonhei em tempos. Podes ter a certeza que mudei. Sou feliz assim. Sou despreocupada em certas questões e durmo numa cama de grades com uma colcha com flores velhas. Podes não acreditar mas como o peixe salpicado no azeite e no alho quente saídos do forno e à noite gosto de observar o farol. Gosto mesmo. Ainda sorrio como dantes mas agora já faço muitas mais das coisas que imagino na minha cabeça. Já não choro só para mim. Partilho as tristezas com alguém.
E sabes uma coisa? Acredito na sorte. Agora coloquei um saquinho de ervas junto a uma cama e sonho no escuro como uma criança. Ainda sonho. Sonho muito. Provavelmente tudo isto não passa de uma mentira, mas eu quero acreditar que é agora que tenho de fazer isto. É agora que tenho que imaginar um móvel azul de cozinha com janelas tapadas por arame e uma banheira de pés que cheira a sabão natural. É agora que tenho que nadar selvagem como os peixes do mar bravo em frente à minha casa.
E gostava de ter a tua companhía. Gostava de ter uma amiga de volta. Sinto falta dessa tua certeza e desse realismo. Sempre te quiz ensinar a sonhar mais. Sempre quiz dar-te a conhecer o meu mundo porque é assim que eu sou e sei que me aceitas como sou. Por mais que insistas em palavras negativas, eu sei que escondes um sorriso que há muito espera sair.
Eu sei que sim. Quero mostrar-te a minha casa. A minha cozinha que cheira a compota de framboeza e cheira a sal do mar. Agora tenho um barco seguro.
Não tenhas medo joana. Só quero que voltes a casa. É seguro.
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