janeiro 31, 2013

#12

Hoje vi o mar. E o vento falou.


chegou um envelope com a Norah lá dentro;

- máquina de escrever;
- frasco com alfazema;
- vestido vermelho da avó Luísa;
- o humor da avó Francisca;
- jantar de aniversário da Isabel;
- tesouros da loja social;
- saída com a gémea e a Sofia;
- Apresentação do livro "A Mensagem" do Guilherme Gomes;
- conversas com o André;
- café com a Raquel;
- falta de sono dos poetas;
- liberdade dos homens;
- café com menos açúcar;
- Carta do "Vamos trocar uma história?";
- Carta ao André, à Inês, à Raquel, à Mariana; à Daniela, à Joana, à Maria Inês, etc.;
- testemunho da Joana;
- a versão dos retornados da Sandra;
- os cabelos brancos da cliente da mãe;
- a literatura portuguesa da Patrícia Reis e do Vítor Serpa que adquiri esta semana;
- "Portugal de...";
- a Ana de Amesterdão;
- a pele macia do meu pai;
- os sentidos;
- o café na praia;
- as camisas dos anos oitenta;
- o CD do Sinatra;
- os sonhos enquanto passava a ferro;
- os lábios;
- as pessoas;

porque a inês me ofereceu chá, purpurinas, pacotes de açúcar e músicas que apelam ao coração eu dou-vos  um bocadinho de mim.


janeiro 30, 2013

pennies from heaven

Sinatra é um excelente acompanhante no toca a costura. Na sexta tenho um encontro com um poeta e um jantar de aniversário. A blusa lilás dos anos oitenta vai cheirar a tabaco antigo e álcool que se recomenda. A noite, essa, vem depois.


janeiro 29, 2013

Será que os poetas nunca dormem?

O homem que mudou a minha vida era professor de físico-química. Estava na fila de uma livraria em Oeiras e segurava na mão um livro sobre o 25 de Abril.
Quando essa revolução aconteceu eu ainda não tinha nascido e não tinha visto cravos só então aos sete anos. Esse homem que estava na fila não tinha nome. Não lho perguntei, foi muito rápido e subtil até me perguntar se eu conhecia a história do tal livro que ele ia comprar, e mais tarde me contar que tinha dado aulas num carro.
Escusado será dizer que durante os sessenta minutos em que permaneci à sua frente espantado com a história descoberta nos olhos dele, a livraria esqueceu-se de nós. Eu não sabia o nome do professor, mas fiquei a saber que a revolução tinha prometido muita coisa a muita gente e tinha sido dura com os portugueses.
Ele pouco se alegrava com o facto de ainda ser dos poucos que obtinha reforma depois de completar uma vida a fazer o que gostava.
Oh mas os olhos dele sangravam.
Se não fosse esse equívoco eu não olharia para o seu livro nem teria dito que não conhecia a história do mesmo.
Talvez ninguém saiba mesmo o que chegou a acontecer com Portugal e com os nossos sonhos todos, mas ele parecia estar decidido em tentar saber a minha escolha para o futuro.
O professor honestamente criticou a psicologia e os olhos dele brilhavam mais uma vez a falar da ciência.  Talvez ele tivesse razão. Talvez esses cientistas todos fossem salvar-nos todos da miséria, mas eu nesse dia tinha tomado uma dose forte de teimosia não deixando de ouvir as palavras certas do professor:" Pense bem antes de escolher. Pense bem".
Talvez ele não tenha reparado nesse breve instante onde o ritmo das coisas pareceu voltar ao normal, e subitamente a fila da livraria tinha ganho mais adeptos. Lembrei-me que o telemóvel tinha tocado e que a minha irmã me esperava à porta da livraria impaciente.
Não evitei olhar para trás. O saco pesava, mas ainda tive tempo de olhar para o professor mais uma vez e esperar que momentos mais tarde me lembrasse dele, e depois sim agradecer-lhe por aquele chapéu. A indumentária. O carro cheio de alunos e a minha certeza de que o meu futuro passaria nas letras.


janeiro 27, 2013

#11

devia-se chorar mais de felicidade.enlouquecer de harmonia. dançar até matar o corpo. devia-se viver mais sem se embasbacar com o ridículo. fazemos todos parte da diferença-

certo?

Ao iniciar a noite a cada domingo, fico quebrada pela quantidade de coisas que acontecem numa semana.Quem não fica? Quem não se arrasta durante esses segundos para pensar em todas as coisas que não se vão repetir e que são tão diferentes das que chegámos a imaginar ou daquelas que sem sabíamos de tal existência. Essa consciência do tempo é assustadora. Hoje é domingo, é de noite e sei que daqui a uma semana será domingo outra vez. Ouvirei vozes diferentes. Fará duas semanas que a minha avó morreu e é menos uma Francisca no mundo. E nós ficamos aqui a enraivecer pela consciência abrupta do tempo. Ficamos cheios de raiva por nos apercebermos em menos tempo do que o de agir, que a vida pode ser uma merda. E podemos viver no buraco durante dias e semanas. Os mortos nem dão pela diferença.
Hoje que é domingo só me arrependo do que não fiz. E fico feliz pela diferença distante do início da semana. Se sou mais ou menos feliz não interessa. Vou ter com a Francisca não falta tempo. Mas hoje é domingo e quero estar mais perto dessa distância e saber que sou feliz. Não morrer quando os outros morrem. Não cegar com a indiferença do mundo. Porque mesmo dentro da merda há um lugar para nós.


ponto final parágrafo

Não é por mim. Sei como é este aperto que nos afoga qualquer possibilidade de regressar à superfície. Agora reconheço o esforço dos refugiados que quase se tornou involuntário em ter uma vida melhor. Em sonhar com mais que um apelido que não era deles. Hoje senti esse aperto e reconheci que nunca mais quero voltar a ele. Sentir as entranhas a mexer e a revoltarem-se. Sentir o ar pesado, cheio de chumbo do amor. Sentir o nó constante na garganta da rejeição. Ver tudo negro. Não pensar direito. Hoje percebi como é não se ser feliz, e desejo não voltar a esse lugar. Tenho mais talento para tentar ser feliz. Aí tenho mais cor que o resto dos outros.


janeiro 26, 2013

bazar

Eu moro numa rua de um poeta/jornalista. É para contar mais?


amar em tempos de guerra

Às vezes julgam-nos por querermos o mundo todo. Esses que estão cheios de vazio. Não pedem nada.
É isso que me deixa mais triste. Principalmente hoje.


janeiro 25, 2013

enquanto a Primavera não chega

A partida necessária a Portugal é para dentro de si próprio. Para o coração sujo de terra e esquecido. Está na altura de lutarmos pelo que está aqui e não lá, onde estamos fartos de nos repetir.


janeiro 24, 2013

Portugal e um vestido vermelho

Eu não pensava nesse mal. Se querem que vos seja sincera, não pensava nas urgências de fazer alguma coisa, porque nem eu aí tinha jeito para aclarar a voz e ser mulher. Julgar o mundo com verdade não é compatível com os discursos destes dias. Quanto mais naquela idade onde eu não tinha mala com batom e pó de arroz.
Agora tenho menos. Agora tenho uns papéis e umas canetas. Ando a juntar dinheiro para uma máquina de escrever e parece que sou idiota por gostar assim de Lisboa.
Ontem a minha mãe fez sopa e jurei ser a melhor refeição do mundo. As sopas curam tudo, até o mal de amor. E agora que estou vazia disso nem sinto o sabor da sopa na boca.
Mas regressava ao princípio. Eu não pensava nesse mal que é a morte e nos morrerem. Sei-o porque sei ser alentejana e sentir na pele o que é morrerem-nos. "Foste embora, e agora como é que eu fico". Se Portugal se for embora como é que eu fico?

hoje que andei à procura da fotografia da avó Luísa pensei nesse mal. No mal de Portugal se ir embora e eu não saber como ficar.


#10

Eu podia dar a volta ao mundo em oitenta dias.

camané recebe-me em casa

lá dentro da luz ofusca e confusa do café esqueci-me da tua morte. é o Karma.


janeiro 23, 2013

#9

- fiz sopa para o jantar.

mas o que eu queria mesmo era um livro. com Portugal lá dentro.

a inês ofereceu-me isto


« a barraca»

posso-vos escrever a todos, posso?escrever até que se lembrem de Portugal?

janeiro 22, 2013

falei à Daniela de amor*


gosto das histórias de amor por isso
por esse encontro despercebido ou não das almas


#8


as saudades são com certeza o que temos menos um com o outro. temos é desespero de não nos voltarmos a ver da mesma forma. receio de já não voltares a vestir as mesmas roupas e falares de forma diferente. de chegares mas continuares lá. o que nós temos é um pavor alucinante de nunca mais termos a certeza da presença um do outro. e da soma de todas as certezas que temos na nossa vida, nos faltar aquela, a que nos mantém de pé. a que nos mantinha vivos.


esse ar que respirávamos.


lá fora chovem pedras

Lá fora chove caos e aqui dentro já esteve pior. Que o tempo nunca te leve, porque a brisa do vento sabe tão bem.


janeiro 21, 2013

#7

[amanhã às dez vais para debaixo do chão, e eu ainda não sei como me despedir de ti. perdi essa força de contar com os dedos todos os dias para sermos felizes. vais lá para baixo e todos dizem que alcançamos o céu. o que é isso, o céu? amanhã às dez vais-te embora e eu não quer ir. quero ficar sem que sofras por ficarmos aqui sem ti. sim, porque esta gente parva que nós somos vamos andar a chorar porque em ti já ninguém te toca. o céu está cheio de corpos eu sei. mas como estava a dizer, amanhã às dez vais-te embora e com tanto para dizer nada cabe nas horas que me restam de hoje. já me perdi tantas vezes nas palavras, mas desta vez é grave. desta vez há mesmo um vazio grande cá dentro. desta vez ainda me doem os olhos desde a manhã e vai continuar até superar a tua morte de mim. até me sair o vazio todo para levar-te para a frente e esquecer-me do dia vinte e um. odeio janeiro e vou odiar até à morte. odeio-te a ti que morreste e nem me deixaste despedir de ti. odeio-me a mim que me esqueci de te telefonar a saber se estavas melhor. odeio o homem que te há-de enterrar no chão para sempre. odeio a chuva que vai cair enquanto te vais embora e o sol que nunca mais chega. odeio a vida porque trás a morte. odeio a vida porque me deu a ti e me tira de mim quando quis enquanto dormias. E amanhã enquanto dormes descansada às dez da manhã, vais-te embora e eu ainda não sei como me despedir de ti.]

hoje morreste-me

agora já sei o que isso é. isso de não haver chão. de não querer respirar. de olhar as pessoas nos correios e não ter cara para fazer pedidos. de andar na rua quando há sol e querer dormir. de se irem embora sem avisar. de os expulsarem de cá sem justificação. agora já sei o que isso tudo é. isso de não haver mais. não haver mais nada.

apenas morte.


janeiro 20, 2013

odisseia

A vida? A vida é esse entusiasmo constante que chega a doer nos ossos. Essa estupidez incrível de arriscarmos tudo para nos sentirmos em êxtase. Para termos orgasmos de sentimentos. Esse roteiro endiabrado de trajectos que nos leva às melhores e piores pessoas de toda a parte. Que nos leva a cansar, e pedir por mais. A bocejar e implorar por mais uma aventura. Para que nos batem à porta e nos encham de beijos. Para que tudo seja uma ironia saborosa que apenas nos consciencializamos no fim dos dias. Somos tão ignorantes que nos passa despercebida essa ideia de um fim. Temos sede de infinito. Somos homens. Temos fome de infinito. Somos mulheres.
Mas por breves momentos, temos bebedeiras reais. Vivemos. Amamos. Damos um passo e somos felizes.

A Vida? - É essa cabra que me dá prazer.


para os que ainda não...

A vida é uma coisa perturbadora e maravilhosa. Só não sabe isso quem ainda não viajou. Quem nunca pegou num livro.
Esses são os desafortunados.



histórias de pais

Conheço o mundo porque estás aqui. Conheço o amor por tua causa. Conheço a paixão por tua causa. Conheço tudo por tua causa. Obrigada :)

Parabéns Pai*

janeiro 19, 2013

Depois do Adeus

Há um sabor amargo, no entanto doce da revolução. Lá nasceram novos caminhos. Começaram novas vidas. Há quem tenha morrido, mas que cá nasceu. É assim que o mundo tem crescido.

#6

Às vezes a tempestade atravessa-nos a porta para trazer o clarear. A certeza de quem somos. Um tempo só para pensar- Amanhã voltamos a ser todos outros nós de novo.


o Moraes

"A vida é a arte do encontro".


Ouvi dizer que desenterraram Portugal


Vou algumas vezes ao Chiado. Ainda dou algumas oportunidades à percentagem da costa portuguesa que dá pelo nome de Cascais, Estoril, Carcavelos até chegarmos às colinas lisboetas. Acredito que por aí, mesmo mantendo fervorosamente as poucas tradições que nos restam se ouça o som do fado a piar fininho.
            Sou da geração que esqueceu Portugal, não pelo facto de não saber como o manter de pé, mas porque a nós que nos vestimos de Prada e usamos Iphone nos julgam incompetentes nessa tarefa.
            Não sou da geração que finge não ver Portugal. Não me lembro de não gostarmos disto aqui. Muita gente ainda se lembra dos versos de Camões, que é a literatura portuguesa. É a poesia do povo. E a calçada lisboeta é a que está mais impregnada de fado nosso.
            Recordo-me de numa dessas ocasiões onde dei oportunidade ao Chiado de se manifestar, encher as montras da Livraria Lelo de beijos e talvez ter visto Florbela Espanca passar.
            Foi nesse dia enchido em mais de vinte e quatro horas, que decidi procurar Portugal. Talvez a nossa bebedeira seja ainda acreditar na poesia que a ciência recusa. Talvez a nossa bebedeira seja ser cego para não se ver que todos vestimos Prada e usamos Iphone.
            Eu apenas acho, e Portugal também achará, que a nossa embriaguez é saber que toda essa poesia é verdadeira.
            Não me recordo de nenhuma história decorrida no nosso chão não referir amor, paixão ou morte.
            Os portugueses ainda insistem em manter a bandeira. Não que não saibamos o que queremos e onde queremos estar e nos iludimos em tecidos tingidos.
            Queremos estar aqui e toda a gente concorda. Mas a verdade Portugal, é que agora por aqui não nos querem deixar sonhar.
            Não se enganem quando preferimos jogar pelo seguro e viajar em económica para Londres, Paris ou Berlim e nos matamos à fome para arranjar emprego. Ainda sonhamos como Pessoa quis. Mantemos essa consciência leve do que valemos e ainda damos algumas oportunidades aos nossos sonhos. Mas o mundo continua a encolher de cada vez que uma livraria fecha.
            Ainda temos alguma pele de galinha quando o futebol nos entra em casa, mas o chão está seco. Está difícil de andar.
            As ruas cada vez mais estreitas, que cospem desilusão de que cada vez que vemos os chefes de estado a pisar cigarros portugueses. Lares portugueses.
            E regressando a essa deambulação pelo Chiado. A Lelo está fraca. A Espanca cada vez mais se some na poeira da rua do Carmo, e o Grémio Literário já não abre portas a toda a gente.
            O que esperamos é que voltem a andar a pé. Que se lembrem do que Eça escreveu e do que Sophia de Mello Breyner nos tentava alimentar. Fernando Pessoa entre outros foi um dos lunáticos que curou Portugal das suas brincadeiras sujas de o estragar com mimos contemporâneos, e o que resultou disso foi um país sem graça. Lisboa e Porto tristes. Coimbra preguiçosa para os que aparecem na televisão.
            O que esperamos é que se ultrapassem a si mesmos e reconheçam que Sebastião faleceu e não quer voltar. Perecer e ficar no vazio, e estamos cada vez perto disso.
            O que desejamos? Desejamos o que ainda se deseja nas casas dos alfarrabistas. Nas mercearias antigas e nas casas de quem luta. Precisamos de poucos discursos que enterram Portugal e que corroborem o resultado final da nossa entrada na União Europeia. Estamos mais sozinhos que acompanhados desde o nascimento do Euro.
            Precisamos de nacionalizar Portugal. Que nos dêem motivos para ter filhos. Motivos que nos tirem a vontade de querer procurar o nosso país nessas esquinas que cheiram a cerveja e a corrupção.
            Precisamos da balança equilibrada e de livros que ditem o que está certo e que empurrem o mal das nossas fronteiras.
            É que na casa do Povo ainda se sonha. Cá, como eu, ainda se sonha com vinte anos e até morrer.
            Cá a gente fala, fala, fala. A pá do povo está emoldurada na sala.








janeiro 18, 2013

dia 23 este blogue faz anos

Sempre tive os olhos cerrados numa certeza. Não estou sozinha. Olhem para vocês, são a minha família.


âncoras nos bolsos

Acho que tenho talento para sobreviver.


#5

Lembro-me que em muitas coisas estamos sozinhos. Há sexo a dois que mata a possibilidade do amor.
Eu cá quero orgasmos de quem me ama. Quero o prazer de uma vida a dois. Sem complicações. Não quero meninos. Quero um homem.

sou escritora, mas também mulher.
Uma mulher de dois.



janeiro 17, 2013

"Ela cantava fados"

Antes da aurora nos rebentar a visão dos olhos com aventura tenho certos momentos em que deixo de estar triste. Em que todas as partes do mundo parecem sossegar, e adormecem a razão.
Sim, às vezes durante a noite sonho, e lembro-me de tudo quando ocasionalmente a luz decide espreitar e acordar-me para um mundo novo.

Sou de lá.

no fim da areia havia um homem que cozia pão debaixo do chão

Quero viver amores diluídos em paixões incomensuráveis. Para depois partir para lá. Para essa guerra do amor.


#4

Ontem ouvi que uma livraria ia fechar. O mundo encolheu.


janeiro 16, 2013

coisas deste lado

Que idade terias se não soubesses a idade que tens?- dentro dos nove ninguém dá conta  que decoramos tudo, e no entanto não há mal nenhum no mundo. Teria nove. Veria as árvores e nadava no rio.

O que é pior: falhar ou não tentar? - não me lembro alguma vez de não ser feliz com as minhas escolhas. Se não tentasse não teria o mesmo gosto pela vida.

Se a vida é tão curta, porque é que fazemos tanta coisa que não gostamos e gostamos de tantas coisas que não fazemos? - nada é mais insatisfeito que o ser humano. Eu sou uma Florbela Espanca por natureza. Quero o que não tenho. Faz parte para viver. Doer para sabermos que estamos vivos.

Depois de tudo dito e feito, terás dito ou feito mais? - as palavras podem matar as coisas. Tal como alguns gestos. Depende de nós saber gerir cada situação.

Cita uma única coisa que gostarias de mudar no mundo. - mentes.

Se a felicidade fosse a moeda do país, que tipo de trabalho te faria rico? - não acredito nessa possibilidade. Antes jogar com dinheiro que com sentimentos. Ficaríamos todos loucos.

Estás a fazer aquilo em que acreditas ou acomodaste-te com o que fazes? - escrevo. É tudo o que preciso. Sou feliz nesse lugar.

Se a expectativa de vida fosse de 40 anos, em que é que isso mudaria a tua vida? - As pessoas que têm medo da morte, adiantavam tudo. Sentiam mais cedo. Começavam a viver mais cedo. Eu fazia o que faço hoje. Vivia com tempo.

Até que ponto controlaste o caminho que tua vida tomou até aqui? - poucas vezes. Há pouco tempo é que comecei a "ver" as coisas e as pessoas. Agora já estou em mim. Já tomo conta de mim.

Preocupaste em fazer certo as coisas ou fazer as coisas certas? - a segunda opção é para meninos. E não digo isto porque sou rebelde. Não quero nem nenhuma nem outra. O que é certo ou errado depende de mim. Vivo para mim, e não para agradar o mundo, que mal conheço.

Estás a almoçar com três pessoas que respeitas e admiras. Todas elas começam a criticar um amigo íntimo teu, não sabendo que é seu amigo. A crítica é injusta e de mau gosto. O que fazes? - Ninguém se pode agradar a ninguém. Pedia para falar de outra coisa. Reconhecia a verdade.

Se pudesses dar um único conselho a um recém-nascido, qual seria? - não queiras crescer.

Passarias por cima de uma lei para salvar uma pessoa amada? - não gosto de leis.

Já viste loucura onde depois viste criatividade? - não é o mundo tudo isso?

Há algo que sabes que fazes diferente das outras pessoas? O que é? - escrever.

Porque é que o que te faz feliz não faz todos felizes necessariamente? - mais ninguém partilha as minhas necessidades. Os meus desejos são exclusivos a mim. A diferença faz-nos isso.

Cita uma coisa que ainda não fizeste mas que queres MUITO fazer. O que te impede? - Chorar na praça principal de São Petersburgo. Não tenho dinheiro para o avião.

Estás a prender-te a algo que não deverias? - sim. A uma pessoa. 

Se tivesses que mudar de país, para onde irias e porquê? - Levava Portugal para a Rússia ou Alemanha. Talvez Paris ou Escócia. A Europa cura-nos do resto do mundo.

Apertas o botão do elevador mais do que uma vez? Tens certeza de que isso acelera o elevador? - Não. Mas toda a gente faz isso. É uma ilusão psicológica.

Preferiria ser um génio preocupado ou um Zé-ninguém feliz? - Os génios são as pessoas mais perturbadas do mundo. Talvez haja alguma paz em ser anónimo. Talvez a segunda.

Por que é que és quem és? - porque não quero ser mais ninguém.

Tens sido o tipo de amigo que gostavas de ter como amigo? - Sim. Tenho amado mais e respeitado mais.

O que é pior, quando um bom amigo vai para longe ou perder o contacto com um amigo que mora bem próximo de ti? - perda é perda. Dói sempre.

Cita algo pelo qual estás mais grata. - pela vida.

Preferirias perder as tuas velhas recordações ou nunca poder construir memórias novas? - eu não consigo seguir em frente sem ter a certeza do meu passado. Não anulava nada o que tinha feito até agora. Perdia vidas.

É possível saber a verdade sem antes questioná-la? - há coisas que se sentem. Sabem-se, mas isso não é real para os cépticos.

O teu maior medo já se concretizou? - Não. Felizmente não vivo dentro da solidão.

Lembraste de algo que te deixou extremamente aborrecida há 5 anos? Hoje, aquele episódio importa?- a perda de uma amiga. Hoje não, tenho-a de volta.

Qual é tua memória da infância mais querida? O que a faz tão especial? - a escola. O mundo cabia lá dentro.

Quando no teu passado recente te sentiste mais viva e intensa? - Ontem. Soube que ia ser tia.

Se não agora, quando? - Agora.

Se ainda não alcançaste o que queres, o que tens a perder? - a vida.

Já estiveste com alguém, não disseste nada, e saíste com a sensação de que tiveste a melhor conversa da tua vida? - sim. A toda a hora. Os desconhecidos são tesouros também.

Porque é que religiões que pregam o amor causam tantas guerras?  - Não sei de nenhuma religião que pregue bem o amor.

É possível saber, sem sombra de dúvida, o que é bom e o que é mau? - não. São coisas relativas.

Se ganhasses 1 milhão de euros, largarias o teu emprego? - Não tenho emprego. Mas se o tivesse, não largava. O meu emprego será o que me faz feliz.

Preferirias ter menos trabalho ou mais trabalho em algo que realmente gostes? - Isso é trabalho? Chamo-lhe prazer.

Sentes que viveste este mesmo dia 100 vezes? - não. Não há dias repetidos. Eu nasço todos os dias.

Quando foi a última vez que entraste na escuridão com apenas uma vaga luz de ideia de algo em que acreditavas? - há uns meses. Quando um amor me morreu.

Se todos os teus conhecidos morressem amanhã, quem visitarias hoje? - todos.

Concordarias reduzir a tua vida em 10 anos para ser super atraente ou famosa? - isso é para o resto do mundo. Não para mim.

Qual é a diferença entre estar viva e viver plenamente? - estar vivo é existir sem se querer suportar. Viver plenamente é recusar existir e respirar com força. Aproveitar o que se tem.

Quando vai ser o tempo de parar de calcular os riscos e apenas seguir adiante e fazer o que é certo? - todos os tempos. 

Se aprendemos com nossos erros, porque é que temos tanto medo de errar? - porque não temos consciência que tempos depois vamos aceitar essa queda e sentirmo-nos bem com ela. Ninguém prevê o futuro e isso provoca ansiedade.

O que farias diferente se soubesses que ninguém te julgaria? - nada. Toda a gente depende de críticas. Mesmo a de nós próprios.

Quando foi a última vez em que reparaste no som da tua respiração? - não me lembro.

O que amas? As tuas acções recentes reflectem esse amor? - Amo tudo e todos. Toda a parte. Suponho que sim.

Daqui a 5 anos, vai lembrar-te do que fizeste ontem? E anteontem? E no dia anterior? - de tudo não. Dos dias que fizerem sentido lembrar.

As decisões são feitas agora. A pergunta é: estás a decidir só por ti ou a deixar que outros decidam por ti? - Já disse antes. Vivo para mim. Respiro-me a mim. Alimento-me a mim. Só assim posso fazer os outros felizes.

pés descalços

Quero celebrar o mundo. O mundo todo.


também quero como Pessoa quis

-sonho com Portugal todos os dias.
Sonho com ele a acordar, sem desejar ter nascido.
Sonho com ele, a querer ser grande, sendo pequenino.

Porra Portugal, ainda sonho contigo.




janeiro 15, 2013

#3

Hoje vi o mar.

notícias que chegam de longe

Se calhar o problema não é nosso, nem dos outros nem de ninguém. Porque pelo menos uma vez na vida o mundo pode ser maravilhoso. É preciso é fechar os olhos e ouvir a melodia do coração.


vou sair e ver se fico

Já tive um esconderijo secreto numa floresta por aqui. Lá falava com o vazio. Não tinha vontade de voltar a casa.

janeiro 14, 2013

Before sunset

[...]

Flowing downstream 
Caught in the current 
 I carry you 
You'll carry me 
That's how it could be 
 Don't you know me? 
 Don't you know me by now? 

Hoje quando via o Before Sunset  lembrei-me de que por mais anos que passem vai haver sempre nostalgia dentro de mim. Não no sentido de lamechice e lágrimas a escorrerem-me pela cara, mas no facto de acreditar em filosofias banais que se ouvem em cassetes dos anos 80 e em filmes dos anos 90. 
E tudo isso me fez lembrar de ti. Recordo-me de há uns meses atrás dizer que eras o património da minha literatura. Que tu,igual aos versos de Camões, inundavas-me de esperanças e por isso escrevia sobre ti. E eu continuava nessa andança pouco saudável que eu julgava que me levava ao colo.
Acho que hoje já tenho mais pensamentos adultos e racionais e me apercebo que quando cresço, mudo um pouco por dentro. 
Não deixei de acreditar no amor. Não. Não deixei de gostar de poesias enterradas e te quando me olham mais que uma vez, com ternura.
Cresço. Ganho uns centímetros. Perco-te na memória e penso noutras coisas quaisquer.
Não te esqueci. Apenas fiz umas férias. Tirei umas férias de ti.







janeiro 13, 2013

ando a escrever sobre Portugal

Tenho que ser justa, bruta e fria. Mas a verdade Portugal, é que agora por aqui não nos querem deixar sonhar.


##

Há uns dias disse que não tinha vergonha de ser feliz em tempos de guerra. E a nossa guerra agora é a crise.
Ser feliz não é só do passado ou do futuro, e nem esse devia ter nome.
A condição de sermos felizes às vezes parece não depender de nós. Às vezes parece que se esconde num sítio qualquer, parece que se agarra a uma coisa qualquer, e depois não sabemos o que fazer.
E hoje quando pensava nesse dia em que me atrevi a dizer que era feliz, deixei de lado a vergonha e quis trocar uma história.
Histórias não são exclusivas. Não distribuímos direitos por aí. A minha história é pequenina. É bem pequenina porque lá dentro está cheia de coisas vivas.
No início não sabia em que lados andava por lá.
Se eu nascesse quando tivesse nascido não tinha vivido, mas a verdade é que a minha história começa muito antes disso.
Não sei se te lembras de há uns séculos atrás terem nascido alguns poetas que se esqueceram de existir.
Aliás, eu recordo-me disso porque também me esqueci e agora sei viver a direito.
Agora já tenho paz, mas é paz que encontro nem aqui nem acolá. Existe em todo o lado. Sou de todo o lado.
Então a minha história começa quando todos os escritores de todo o lado decidiram ser escritores.
Ninguém decidiu nem ninguém lhes pediu. Apenas quisemos. E a partir daí já ninguém quis saber dessa coisa  que é agir normal. Ser mortal.
Eu lembro-me de ser pequena e de cheirar os quadros, olhar canetas, ver papel. E quando pensava em histórias era o recreio, era o céu cheio de estrelas, era a boca cheia de comida e a roupa suja de algodão.
Lembrei-me de escrever porque viver já o tinha feito muito.
Mas a verdade é que estava  errada. Só tinha calculado a percentagem de felicidade que eu julgava preencher a vida. Uma vida inteira.
Quando me começou a doer no peito e a estar triste percebi o que era estar viva.


acordei durante o sono

não criem alvoroço quando ao longe a luz sossega.



janeiro 12, 2013

cadernos da china

-estende a mão ao milagre.

( acordas quando lês o que não gostas e paras. É hora de voltar a casa).

Apetece-me falar de(o) amor

Apetece-me falar de amor mas esquecer que ele existe. Apetece-me que as pessoas percebam que o amor não é bonitinho nem baratinho. Que percebam que o amor consegue não existir porque lhe dão nome. Consegue matar as coisas porque acreditam demasiadamente nele. Que as pessoas percebam que essas coisas não se vêem, não se tocam, não se ouvem. Imagina-se, sente-se e conquista-se.
Apetece-me falar do amor. Daquilo que já estamos fartos de tentar perceber. Daquilo que nos enerva. Que nos destrói. Que nos alivia e descansa. Daquilo que é tão bom porque é mau de mais.
Apetece-me falar de amor. Apetece-me perceber. Apetece-me que percebam.


Que ninguém tem resposta. Mas que todos têm as perguntas.


porque chego a casa

Tem vezes que me esqueço de adormecer.O mundo lembra-se de ser interessante.


janeiro 11, 2013

girei ao contrário

Ás vezes acordo com frases. Outras acordo com música. Às vezes sem pedir visito Europa de Leste, camas Africanas e deserto frios.
Não peço nada. Não desejo nada.
Só escrevo. É de lá que me dão tudo.


janeiro 10, 2013

a trégua é o primeiro verso

Pode parecer ingénuo, no entanto vou contá-lo. Contá-lo, esse desejo desapegado de brincos e saiotes sentimentais. Esse desejo que se confunde com capricho de querer minutos a sós e minutos fora da solidão. Esse desejo para os outros, que não conseguem tirar os joelhos do chão e se emborcam de tristeza. Quero esse desejo simples. Peço esse desejo simples de pedir minutos a sós com a felicidade para eles. De ser egoísta e pedir ao tempo que seja meu para poder dá-lo aos outros. Tempo para eles crescerem. Tempo para eles se curarem. Tempo para remendarem o que está inundado de buracos. Tempo de se abraçarem e tempo de se Amarem. Quero pedir esse tempo que eles não acreditam para lhes dar o que precisam. Só quero um bocadinho de tempo, que nem é para mim.
Pode parecer ingénuo, mas quero contá-lo. Contar que um dia hei-de ganhar o tempo para fazer os outros todos felizes.


janeiro 09, 2013

Cartas de Amor

"Devias estar aqui. Devíamos trabalhar juntos... Ler o trabalho um do outro à noite... Inflamarmo-nos um ao outro, mantermo-nos um ao outro. 
É um grande crime esta separação."


Anais Nin e Henry Miller

três goles

Náusea é não conseguir estar. Não saber como existir.
Mas eu não. Eu adoro viver.


realejo

Os escritores não são ninguém. Limitam-se a ser nada.
Apenas obedecem ao desejo cego que mora dentro deles. O de reinventar o que nunca existiu. E desse fogo pode nascer satisfação ou tristeza.
Os melancólicos são os melhores escritores. Os que perdem e não ganham. Aqueles cuja alma dói sem quebrar nenhum instante.
Porque sem isso também não conseguiriam viver.
Os escritores são os que mais choram.


janeiro 08, 2013

árvores no tecto

Às vezes consigo ouvir o silêncio.
O silêncio é o ruído do que não há.


janeiro 07, 2013

Vou ser a viajante deste século

Acho que neste mundo de ladrões ainda tenho alguns amigos.
Alguns ainda não me inundaram.


janeiro 06, 2013

rascunho #1

Nunca existem sobras no meu coração. Dentro de mim há sempre falta, sempre uma espécie de vazio que se enche e esvazia mais rápido que o vento a soprar nas árvores. Sou uma insatisfeita por natureza, e as vozes caladas dos poetas enterrados nos cemitérios por aí sabem-no bem. Somos todos irmãos. Por isso sabemos todos o que nos falta.

O impossível.


Falamos tantas vezes de saudade e de fado

Um dia destes vou sair à rua e perguntar se não viram Portugal por aí.
Sim, um dia destes volto a casa.

janeiro 05, 2013

Portugal esqueceram-se de ti

Há muito tempo que não se contam histórias. Diz-se. Relata-se. E Portugal dentro desses relatos debruçados sobre a mentira foi esquecido. Talvez se tenha afundado no mar como navios espanhóis durante as guerras. Os Portugueses esqueceram-se de o cantar porque se esqueceram de viver.
Portugal encheu-se de pessoas que acreditavam mais no futuro que o presente e é por isso que agora não temos uma coisa nem outra.
Agora não temos nada. Agora nem coragem temos para chorar. Já nos cansámos de uma rotina que não existe e que nos atesta a invisibilidade.
Sim Portugal, esqueceram-se de ti.~


janeiro 03, 2013

L'appuntamento

Hei-de casar as vezes que forem precisas. Conhecer o amor é viajar repetidamente e às vezes não chegar a mudar de sítio. Hei-de casar as vezes que forem precisas. Cansar-me. Beber. Dormir e contar aos meus filhos que casamentos maravilhosos vivi cá dentro.
É, a minha cabeça está cheia de histórias.


janeiro 01, 2013

o amor não é uma porta fechada

Este ano vou escrever sobre Portugal. Para que não o esqueçam. Para que eu o lembre.