agosto 31, 2013

fim de tarde

No salão enorme e simples, o ar condicionado funcionava. A mulher de lábios bordeaux explicava como ensinara filosofia à filha num dos passeios a Sintra enquanto as perguntas povoavam o pensamento de ambas. Esse local era a Estefânia. No relato, bordada na fala, exibia a sua dedicação aos livros.Confessava que nunca parava de falar. O amor eterno nos cabelos ruivos. A exigência. Tudo no salão de beleza em dez minutos, enquanto o sol desmaiava.


agosto 29, 2013

Casa Camilo

Desde 1956 que o Pronto a Vestir do Camilo existe. Com a boca da Igreja à sua frente, vende vestidos caros.
O Camilo, com barba imparavelmente a crescer, e a voz de general vende camisas e roupa de senhora que já pouca gente sonha.
Cruzei-me com ele no Natal. Nos outros dias, como o de hoje, solarengo e gasto, passo apenas pela montra a tactear os preços elevados, e imagino fiéis a sonhar como eu. A imaginar o tempo onde todas queriam vestidos. Onde os padrões tinham sucesso. Onde o cheiro da loja, com a mesma estrutura inicial aleijava o coração de desejo.
Hoje desejei que o Camilo continuasse a morar junto à Igreja, para, que depois de uma viagem fora no estrangeiro, pudesse chegar ao largo e sorrir na montra dos vestidos.


agosto 28, 2013

Pai

O meu pai. O meu pai tinha o olhar quebrado em frente ao mar. Os navios a passar. Os navios a passar como cruzeiros num resgate.
Também a postura farta dizia muito de quem fala com as mãos no restaurante perto do areal. Era a segunda casa que o roubava de nós, e ao mesmo tempo o trazia com tanta intensidade.
Era assim o meu pai. Um corpo de mar antigo e cansado, com o humor das rochas.
A boca salgada da fala e os sonhos de Alentejo.
Estaria sempre ali, à beira de um abraço.
Era o meu pai.


agosto 27, 2013

Tenho olhos de mar, porque sou mar também. Sou abrigo e revolução.


O rosto de gratidão, e a mancha de preocupação nos olhos de alguém que te procura, que busca ajuda e vê em ti abrigo é das recordações mais quentes que terás. Um abraço estrangeiro e um beijo no rosto.
A solidariedade é muito fácil até.


agosto 26, 2013

old man and a much younger woman

O homem subiu-lhe o vestido a leves centímetros. O sal derrotado na pele, e os ombros pálidos. Ainda não era verão, e queriam estreá-lo. Sabia que era mais velho. No entanto os olhos de rio que o olhavam na maresia do seu olhar enlouqueciam. Agora já lhe sentia a pulsação forte e os beijos que viriam. Tudo junto ao farol.


Há um espaço na sala onde decorre a paisagem. A frecha da janela onde pintaram cor. Aquece-me.

agosto 25, 2013

meia noite e um vestido

O corpo em mutação. Ela estava a tornar-se mulher.

agosto 23, 2013

Em miúda apanhava pinhões no Mosteiro de Santa Maria do Mar. Rasgava os trilhos secos do chão do mato que se estendia com os pés pequenos, e centrava o olhar no fruto seco. Foram assim anos que passei na floresta. Talvez tenha sido lá que comecei a escrever. Enquanto inventava histórias nos gestos e olhares das outras crianças, comecei a escrever. Comecei a perceber a poesia das plantas, e das árvores. O cheiro do matagal. O Inverno que nunca atravessava os campos, enquanto estivéssemos dobrados sobre os joelhos a apanhar pinhões.
A minha escrita começou na floresta, com a bênção de deus.



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«Do I have to tell the story
of a thousand rainy days since we first met? »

do amor

Sentei-me na estação. O colo aquecido pelo sol enquanto o comboio de uma das irmãs não chegava. A rapariga, fresca de azul, com o elástico a prender os cabelos loiros finos num rabo de cavalo, a saia leve com bolas, a blusa azul e as sandálias mostrando os pés cuidados, apoiava a cabeça no ombro dele. O rosto de verão apaixonado, que falava baixinho entre os  lábios e o semblante dele. A pele escura que a abraçava. Contavam os seus planos do dia. Falavam preterivelmente sobre a sorte que os podia atingir, até que a máquina a chiar chegou à estação e ela se lançou para dentro de uma das carruagens deixando-lhe um beijo rápido.
Era um beijo de verão. Seria uma despedida de verão. Fresca. Pouco doída. O amor interacial.



agosto 21, 2013




Não decido escrever-te a altas horas. É apenas o esforço da noite a trabalhar em mim.

lições

O homem, que em criança vivia paralelamente à quinta, roubava laranjas das árvores.
Conta-o com uma felicidade desmedida enquanto a tia jaze deitada dentro da caixa na casa mortuária. Hoje diz-me que a determinação é o mais importante.
Não me deixa esquecer tais palavras à saída do evento.
Vou dormir, com o sonho das letras. Afinal também eu quis sempre roubar laranjas.



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Foge. Comigo.

agosto 20, 2013

21 Agosto

Há uma nódoa tua nas roupas que visto. Um traço de ti, dos teus segredos. A Lua está cheia, e há uma história tua nas roupas que visto.
Uma admiração. Uma cascata. São tudo sentimentos.


agosto 19, 2013

Carta para ti, que és quem eu quero ser

Está uma noite perfeita.
Quero dizer-te, que agora, sou diferente do que és aí nesse poço de juventude. Vives num mundo onde encontras sempre imaginação nos cantos. Aí nesse pedido de felicidade, estás tão diferente de mim já tão adulta nas palavras.
Hoje a noite está perfeita também nas frases. Bebo cada vez mais o vinho na comunhão das estrelas. Elas parecem-me diferentes. Mais rígidas, talvez difíceis, mas não menos reais que as tuas. A vida que conheces é menos complexa, que a que encontro agora, mas ainda assim tens oportunidade de entender que a imaginação sempre foi parte da realidade.
Hoje a noite cospe a luz de uma forma sedutora. O céu está mais negro que o habitual. As estrelas aparecem. Estamos em África. As irmãs em África, e eu não desisti de escrever. As outras saboream os animais, e venho para a tenda escrever sobre as estrelas que queria que fossem já tuas. Mas sei que as terás com tempo e determinação. Com lágrimas de frustração, tão diferentes das minhas de satisfação da vida tão certa que parece ser agora, ao contrário de antes.
Antes tudo parecia tão aberto e incerto. Desproporcional. E agora a fogueira arde em frente a nós, e o futuro é uma das fogalhas que se espectram no ar.
Parece que te vejo, pequena, aí nessa cómoda existência de embriaguez e sentimentos. São todos elevados, não são?
Hoje a noite está perfeita. Porque não duvida das estrelas, nem de quem sou.



do mar

Não seria suficiente o mar, e o fogo do céu. Não seria suficiente o fogo de artifício que infectava o céu de cor enquanto recuperava a respiração perdida no concerto. Não seria suficiente a "mentira" gemida pelo cantor em cima do palco, enquanto o vento rasgava por entre a multidão e me deixava feliz. Não seria suficiente uma baía com gargalhadas. Um refeição fast food com abraços. Todas com a mesma cor nos lábios. As flores no cabelo. Os tropeções nos passeios, e a multidão à volta de uma loja assaltada, enquanto procurávamos um postal de recordação. Não seria suficiente as caipirinhas com o travo acentuado da lima, e uma caminhada na calçada de mãos dadas. Não seria nada suficiente um regresso de comboio junto de italianos. Não seria suficiente a eduação que demos a meros estranhos, que gozavam com o nosso exterior. Não seria suficiente a exposição dos corpos aos carros que passavam. A rua deserta a receber o som dos nossos passos. Fotografias perto da moagem. Gargalhadas que cansam a voz. Não seria suficiente adormecermos pela madrugada no sofá e no chão, para acordar com a casa em silêncio. Não seria suficiente um almoço tardio, um fim de tarde pachorrento e uma chegada a casa com duas cartas na escrivaninha.
Não seria suficiente se não houvesse amor.


agosto 18, 2013

Irmãs de Sangue III

As três adormecidas sobre a luz de azeite da madrugada tentavam juntar os sonhos. As insónias de Raquel auxiliadas pelo cigarro. Os regressos eram sempre assim. E agora a sala já com os cortinados. Os espaços vazios das molduras compradas recentemente por preencher adormeciam também no escuro poupado pela turbulência da sala. Amanhã seria domingo.



agosto 17, 2013

quadro


 Não quis acreditar no amor. O homem preferia antes o álcool, e o silêncio. Decidiu escolher uma verdade inolvidável que o protegia do mundo, dos monstros. E afinal o monstro era ele.



do patriotismo

"nós portugueses, somos portugueses intensamente até morrer".

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O vento hoje grita lá fora. Talvez sejas tu a querer falar comigo.

agosto 16, 2013

Tenho as paredes cheias, não de ti

Tenho as paredes cheias dos recortes de jornal do "Ouro sobre azul", de "Uma ponte no Bósforo", da "Caza das Vellas Loreto", e mapas da Roménia. Imagens de Wagner. Vestígios de postais da Gulbenkian, e artigos de Drácula. Tenho a secretária antiga a magoar-me os joelhos, e o Sting a soprar "Russians" em Berlim. Tenho a caneta na mão que vomita, a sangrar de tinta, e nenhum vestígio de ti. Prefiro-te assim. No vazio da menstruação.
Na preguiça que me atravessa o corpo. Prefiro-te, pois, assim, como a camisa turva e amarelada que precisa de ir para a lixívia. Preciso de ti assim, como os sons de aviso da guerra. A poeira que me fecha o coração. A fome que mantém a distância pela estrada, que existe. Preciso de ti assim. Frio e cruel. Real, então no chão.



agosto 15, 2013

Era tudo o que eu queria

Era tudo o que eu queria: sentir-te a pulsasão na pele exaurida, enquanto os cabelos selvagens me escondiam a cara de ti. Adormecermos a seguir à viagem dos corpos, e sentirmos que era amor.
Era tudo o que eu queria. Que fôssemos uma música dos anos 80.


Pablo Neruda Porto cor de céu I

"Quando desembarcas em Lisboa, céu celeste e rosa rosa, estuque branco e ouro, pétalas de ladrilho, as casas, as portas, os tectos, as janelas salpicadas do ouro verde dos limões, do azul ultramarino dos navios, quando desembarcas, não conheces, não sabes que por detrás das janelas escura, ronda, a polícia negra, os carcereiros de luto de Salazar, perfeitos filhos de sacristia a calabouço, despachando presos para as ilhas, condenando ao silêncio pululando como esquadrões de sombra sobre janelas verdes, entre montes azuis, a polícia, sob outonais cornucópias, a polícia, procurando portugueses, escarvando o solo, destinando os homens à sombra."

Feet on the dock

Fui para as cores da varanda. Encarei o muro como o cais. As cores invertidas, mas a mesma tentação, e o mesmo cheiro. A mesma constelação de dúvida. Era só atravessar. Depois pensei que nunca fantasiei com a escrita. Nunca fui bucólica com a escrita. Nunca foi uma parte desintegrada da imaginação, que permenece sonho, enquanto não temos coragem de os perseguir. Nunca foi uma ilusão nem uma imagem de cabeça que se percorre. Nunca foi missão. Nunca foi tarefa.
Foi sempre um banho. Os gritos que dou em silêncio quando te vejo na noite, ao meu lado,  a partilhar o nome das estrelas.
Foi um cio completo, e uma corrente de rio, de ideias, que teve sempre início. Um cardume de vontades. Terá sempre curso.
Onde vai desaguar? Depois se verá.



das diferenças

Quando partimos é a morte que acontece no corpo. O resto sobrevive.

agosto 14, 2013

a destruição está-te no ADN.

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“Chega-me olhar-te todos os dias para todos os dias fazerem sentido.”

14 de Agosto

Quero reformar-me de ti, mas não temos idade.

dizer-te

Gosto do vinho antes da digestão. Do regresso da praia. Da água a manchar o corpo. Do desejo. Da música na noite de amor. Do som do rio, acompanhada. De andar na noite sozinha,
 Das conversas que tenho contigo, e são sabes. Das palavras que não dizes, e repetes

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agosto 13, 2013

13 de Agosto

O autocarro a expelir som da parte de trás ali perto soou como sinos pela minha janela. Cheirou-me a verão. Ouvi o verão, e pensei que eras tu que chegavas.

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observei-me ao espelho do carro sob o sol das 18h da tarde. A madeixa de cabelo em frente aos olhos  num molho de azul marinho.
Há coisas que a natureza não anula, e hoje sou eu.

"Lisboa e luz boa Lisboa e Pessoa Lisboa tem Chiado Tem A'Yama e Tem Fado"

Ontem fui capaz de voltar ao Terreiro do Paço. Escutar as águas, quase tocar-lhes. A sé. A luz comida da Sé. Os passeios que magoam os pés. A história de Portugal num arco. Ontem fui capaz de voltar ao Paço. De viver sem ilusão.



agosto 12, 2013


cresces cá dentro.

acredita em tudo o que te digo

Não entendo como podemos chamar aos candeeiros apenas candeeiros, quando a luz que emitem, é a luz dourada de epopeias singulares. São apenas candeeiros, e são ópera desconhecida. São os objectos que emitem luz divina quando nos vemos. São os conselheiros da noite. Como nós que somos amor. Os nossos corpos são amor. A forma como beijas ou tocas é amor.
É genética, mas também amor.


agosto 11, 2013

mortes que não deviam ter lugar no verão

A Eduarda morreu. Não a conhecia. Dava aulas de piano. A mulher morta no caixão, rodeada de velas, e os outros a chorar lá fora na noite de verão. A morte mostra-nos que somos insignificantes. Mostrou-me que já sou indiferente, até fria.
Só o caminho do passeio se destacou. O smoking do seu sobrinho. O andar cambaleante de 50 anos só com uma tia. O primeiro passeio até ao portão da casa. O pequeno cruzeiro de pedras iluminado pela lâmpada do quintal, e pela sombra dos arbustos no princípio da casa. Aquela casa que já não era sua. Não era de ninguém. Era agora da morte.


agosto 10, 2013

Ninguém quer saber do passado já. E é assim que perdemos o futuro.


agosto 09, 2013

09 de Agosto

Há um lugar onde estaremos todos depois. Um concerto de poucas expectativas que acabará com as nossas vidas em lugares certos. Há um lugar onde, nós, estaremos estacionados depois. Imagino que uma embarcação de acções nos levará para lá, e nas casas existirá amor. Noutras, os divórcios serão agudos. Noutras existirá orfandade. E noutros, ainda, a casa não terá chão.
O lugar onde estaremos foi construído por nós. Vejo-o agora, amor.
Querido, o lugar onde chegaremos mais tarde será um sudoeste de emoções que virá sem arrependimentos e naturalidade. Será estranho talvez. Arder-nos-á nas entranhas de desilusão, mas será o lugar que conquistámos.
Se for uma ilha com mar já só serei feliz. Se for uma casa com chão serei feliz. Se forem cavalos na praia serei feliz. Se for um lugar contigo serei feliz.


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Podes alimentar o mito que quiseres de ti, que eu já te conheço as entranhas.

agosto 08, 2013

Irmãs de sangue II

As manchas circulares de luz, que o estore oferecia, aqueciam a laje da lareira. As três entendidas no sofá enquanto o filme rolava. O verão a acomodar-nos. O meu vestido azul e lilás. O cheiro do vento a entrar pela janela aberta.
Vejo a felicidade num prefácio visual e simples.


08 de Agosto

Viciamo-nos tanto no amor porque queremos alguém ao fim do dia, quando chegamos a casa. Queremos um rosto na manhã a seguir a sexo, na manhã de chuva, ou na manhã embriagada.
Gosto de amor, porque vicia. Ultrapassa-nos. Prende-nos.


agosto 07, 2013

O mestre de ser quem sou

Nunca tive mestres, tive estalinhos nas orelhas. Na depressão católica do 5º ano percebi que queria a escrita devido a um estalinho numa orelha. Compreendi uma viagem dentro de quatro paredes que se desfaziam. Repeti palavras. Ainda hoje repito palavras, e lembro-me do estalinho na orelha.
Da facilidade com que se julga a realidade com dez anos, e um professor que nos dá estalinhos nas orelhas. Quedei-me pelos estalos, tal como as palavras. Ele era grande, enorme, gordo, com um sorriso obeso e maravilhoso.
Só mulheres em casa, até no papel. Ele era a fuga da depressão e uma viagem desculpada. Já disse que não tive mestres, apenas estalinhos nas orelhas. A Línguas Portuguesa como compreensão parodiada da minha existência.


07 de Agosto

Há coisas que acabam como começam. Com a mesma intriga no olhar. A mesma ânsia. O mesmo fôlego. O mesmo desejo.

agosto 06, 2013

de rezar

Tenho um terço na mala. A coisa de madeira no fundo da mala. Não sei como largá-la, mas preciso dela. A mundanidade do material enquanto penso fora daqui.

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Não sei se é amor, ou se a casa foi abaixo. Mas às vezes treme sem significado. Quebro com a voz que nem conheço. Com o beijo que me manda sem estar aqui.
Não sei se é amor, mas a casa às vezes treme.


agosto 05, 2013

de viajar

Quando penetras no interior da viagem, no centro de ti, percebes que a solidão afinal não é inimiga. Só assim percebes o que te falta. Arriscas a perceber quem és. Hoje poderia ser de uma estrada qualquer junto a um vinhedo.


05 de Agosto

Não gosto de admitir que me vicio em ti. Que me vicio na ideia de ti. Dos teus contornos. Mas a verdade é simples, e as tuas palavras desenham-te na realidade.


agosto 04, 2013

os meus tios

Gosto dos meus tios. Dos seus lábios de páginas de livros. Do quintal dos meus tios. Da sua idade não conservada, mas amadurecida e pouco acomodada. Gosto do abraço dos meus tios. Do amor, que me entregam quando entro pelo portão da frente da casa onde moram. Gosto do seu café simples de máquina, e do cheesecake. Gosto dos meus tios. Da sua segurança. Da vida com eles. Da vida que não imagino sem eles.

ali no Estoril

Aprendi num bar encostado a um hotel, de luz cortada e cadeiras forradas a veludo que podes estar longe mas ao mesmo tempo tão perto. É só levar o copo à boca e imaginar que me falas do outro lado da mesa de mogno.


agosto 03, 2013

she remembers

Ontem no embrião da noite conversei contigo. Não havia álcool.
Conversei sobre a possibilidade do teu desaparecimento. Imaginei que nunca mais pudesses voltar, e que, aí, deixarei de ter com quem conversar. Também imaginei a possibilidade de toda essa ausência magoar-me mais que muitas outras coisas.
Como te disse, a imagem de ti cresce com estrutura e equilíbrio, e eu detesto que me quebrem os alicerces.
E não houve álcool. Apenas o teu olhar silencioso a olhar as paredes. A mescla da cor do vinho nas pupilas descansadas.
Estás tão longe, e ainda assim à distância de uma palavra.


agosto 02, 2013

das coisas sem nome

Aprendi que somos todos diferentes. Que somos loucos, ainda que vulgares.
Mas essa existência pouco cronicada é o ópio das minhas aventuras escritas. Se escrevo é para honrar os estranhos. Os outros já lhes ofereceram lugar.

agosto 01, 2013

és tu

sabes quando trago o vinho de uma vez e arde na boca? És tu, em mim.

"As minhas ideias"

A mulher certa beija-lhe o pescoço com vontades animais. Antes de entrar para o quarto observa o inverno resignado lá fora. As luzes apagadas. Sempre estiveram apagadas.
Os corpos encaixam-se. Toca-lhe no sexo, detectando o negro da cidade nas pupilas dele. Tem os olhos tão exaltados quanto o corpo, que não se desconcentra, apenas treme. Sabe que é ela. Ela que o excita. Não se atreve a chamar-lhe amor.
Chama-lhe antes uma doença de prazer que o infecta mais a ela no quarto de Inverno.
Ela sonha que há música, e, por isso, interrompe-o para pôr a tocar os sons do leitor de CD.
A casa é velha, tão velha. E o sexo agitado.
A mulher certa não repara que as roupas se reúnem no chão à berma da cama, mas sabe ao que os beijos dele sabem. A noz-moscada. A boca álcoolizada.
Quando ele entra nela sabe que a vida é injusta e Deus é verdadeiro. O deus que ele conhece.
Agora já só a vê de rosto apagado deitada no peito dele.
Ele pensa como é perfeito :" Esta é a mulher certa".