abril 29, 2012

2.

Não há nada suficientemente bom para se dizer porque quando se chega a um buraco sem fundo não há palavras espalhadas pelo chão. Há o vazio.

abril 28, 2012

no entretanto




E eu vivia dessas intercalações porque eram mais resistentes que todos os sonhos que me preenchiam a alma. E já não me importava com a dimensão das tuas opiniões mas a vida teve saudades de mim e agora se ela quiser eu posso voltar. Posso regressar para o tipo de pessoa que era, para o lugar que me fez a mim e que me conduziu a um destino debaixo disto, debaixo desta guerra que se atravessa à minha frente. De outra forma eu estarei fora, porque não quero participar em batalhas e discussões. Eu quero viver do que gostei de ser, quero viver num lugar onde não há pessoas zangadas nem paredes por pintar.
Eu quero aquele lugar ali, mesmo do outro lado da estrada. Aquela casa com terra à volta e sol por cima das nossas cabeças.

abril 25, 2012

carnation



Hoje podia ser um bom dia para espalhar mensagens na rua, distribuir borboletas e luas de papel e oferecer chupa-chupas às crianças. Afinal é dia dos cravos.

abril 24, 2012

1.

Porque é que tenho tantas vezes a sensação de ser eu o barulho no meio do silêncio dos outros?

complicações essas

Gosto de não ser eu. De inventar-me e existir noutras histórias.

abril 23, 2012

eu cá

"Em tudo, a grande derrota é esquecer, sobretudo o que nos fez bater a bota, e batê-la sem nunca chegarmos a compreender até que ponto os homens são sacanas"

se as luzes se apagarem

- Não vás.

abril 22, 2012

ao corrente

- Dás-me demasiado valor.
 - Dou-te o que precisas. Dou-te a mão cheia do copo vazio que não me deram, e por isso, dessa forma, sou mais feliz porque há alguém que tem o que eu poderia ter, mas esse alguém é alguém de quem eu gosto.Podes não saber exactamente o que sou, ou as razões que me levam a gostar de ti, mas dentro de ti há uma massa de coração mole que não queres revelar, há uma força maior que te distingue dos outros e isso faz-me querer estar junto de ti. Fazes-me ser uma pessoa melhor assim como eu espero que sejas uma pessoa melhor. Curada, sarada e resgatada desta coisa desconcertante que é a vida amigo.




abril 21, 2012

ser

Eça e eu temos de ter uma conversa

os que acabam por acabar

- and only few people have given me that, because only them have bird souls.

abril 20, 2012

morrer como se sabe

(Nós somos o que queremos ser de nós no hoje e no amanhã. No passado feliz ou triste que tivemos e na existência que deixámos fugir. Sair da noite não é como sair do dia. Do dia morre-se, da noite volta-se a nascer como se rasga os céus quando há luz para dar à terra, como quando amamos alguém até nos esquecermos de existir. Hoje é um desses dias onde a noite me cegou do resto e onde se morre por haver dia. )

abril 19, 2012

quando uma ideia nos apanha

As noites andam frias mas já matámos todos os Invernos que nelas existiam. Agora todas as manhãs são Primaveras novas, Primaveras que se comportam como crianças nas quais em todos os segundos da tarde brotam do universo como um cesto de fruta novas esperanças . E andamos de braço dado porque é confortável e porque o sol não nos mata como a solidão mata os pássaros no poleiro. Às vezes o coração precisa de um descanso e o abraço vindo da lua é como um mergulho no duche de água quente, cura a sede de viver. Apaga a desistência. E parece que todos se cansaram de viver nestes últimos tempos. Parece que já não conjugamos a primeira pessoa do plural, deixámos de ser os todos para ser os individuais dentro da solidão humana. E eu recuso-me a deitar-me sobre o chão. A minha história está nas cicatrizes e nas coisas que calo, acho que não sou fácil de ler, mas quando me viro para respirar o mundo, inspiro o oxigénio das histórias e há um toque de mãos na rua que chega ao meu alcance. Eu não choro com a pura morte, choro com as partidas e com as felicidades que são arrasadas porque há muito vento nas mãos de quem não quer existir. Quer malograr o bem dos outros. Já matámos todas as desistências e denúncias que vingam a magia dos olhares obtusos e dos espíritos violentos. Hoje é um dia de nascimentos e quando se nasce, inspira-se fundo e abraça-se a vida.

abril 17, 2012

pim pam pum

Era capaz de jurar que ouvi Deus rir perto da minha porta. É que o destino às vezes gosta de brincar, e não é pouco.

abril 14, 2012

conversas com peixes

Eu sou peixes. Sou estranha dentro de mim e vivo demais dentro dos outros. Faço tudo com a tablete inteira do amor ingerida no corpo e não vejo fantasmas no escuro. Os meus fantasmas são outros. Porque nunca vi a morte crescer-me por dentro, construo casas para estranhos onde a malvada não bate à porta. Aqui neste sítio inseguro navegam vários navios sem rumo e outros que encontram a felicidade em águas furtivas, de algum pescador, de uma ilha perdida ou de uma sereia sem nome. A minha terra é incógnita e eu visto a roupa que ninguém vê. A minha casa não tem cortinas porque nunca me preocupei em esconder a verdade do meu coração desajeitado, mas quando quero chorar fecho a porta de casa para os vizinhos não ouvirem. Há conforto nessa solidão estúpida que todos apreciamos de vez em quando. E eu cozinho para o mundo e ponho a mesa para quem quiser entrar. Todas as palavras que escrevo são do universo, porque acredito que o meu amor não se esconde nas palavras que desenham o meu rosto que às vezes se esquece do novo. São esses mundos que me impedem de cair. São esses universos opostos que me mantêm acordada na existência incrível dos outros. Porque como vos disse, eu sou peixes e é na água que está a minha casa.

abril 13, 2012

spirit lights

"o nosso espírito, a nossa alma, está presa no nosso corpo e quando o corpo morre a alma liberta-se. O corpo volta a ser pó: somos pó das estrelas e é para elas que voltamos quando morremos. vimos das estrelas e para elas voltamos." é uma verdade

abril 12, 2012

A vida tem duas portas

Quando há chuva há uma tendência para me fechar no comboio e observar o mar entre as duas cercas transparentes que oferecem a vista das águas da escaldante Lisboa. Hoje não há nada que expluda e cuspa fogo. Hoje não há sonetos nas janelas nem florestas aromáticas. Só há um perfume de incerteza e quando chove eu prefiro olhar para o resto. Hoje não me apetece olhar para dentro e observar-me a viver. Ainda ontem a vida parecia de outra cor e hoje já roubaram a esperança dessa cor. Eu sou assim, sentimental, triste, sem volume, e quando a chuva cai dos céus eu fico ainda mais pequena como os barcos que permanecem eternos no cais. Há horas jogávamos ao jogo das perguntas debaixo de água e respondias com certezas e não desconfianças. Brincámos às existências, ficámos debaixo da soleira do Verão enquanto o Inverno nos passou ao lado e conseguimos representar sem mentir e viver sem existir. Hoje não há questões quando ontem cada explicação acabava com uma pergunta. Será que te apaguei da memória por pensar demais em ti? Será que te afastei sem sequer ainda te ter aproximado? É que me pareceste tão na palma da minha mãe e soube bem ter-te durante algumas horas. Soube-te bem? É que eu não sou apenas o que olhas para fora dos teus olhos, eu não sou apenas a visão da realidade mas o que te vai aí dentro dessa tua mente confusa. Nós não somos apenas parte do predicado um do outro mas também o sujeito. Foste tu que disseste que nos conhecíamos dentro dos outros, mas tu não sabes metade de ti e precisas de a agarrar antes que eu faça parte dela. Eu quero ser o teu sujeito e o teu presente mas será que vivemos em passados diferentes e que apenas nos encontrámos para ter a certeza que o tempo passa sobre nós? Eu não acredito em amores assim. Eu acredito na construção e neste dia de chuva ainda não há telhado sobre nós. Portanto vamos acabar com o jogo. O que somos nós?

abril 07, 2012

seguramos-te, porque o amor é uma visão

Nós já chegámos a casa há muito tempo e agora o tempo é pó, porque gastámos muitos dos minutos dele a tentar encontrar o caminho na direcção da porta e agora que chegámos a casa já não falamos. Já não escrevemos uns aos outros e o que dizemos não sustenta o que cobre o coração. O que nos mantém ainda são as mãos junto à cintura, unidas, mas não há calor já reparaste? Perto desse toque o frio congelou tudo e por isso é que nenhumas das palavras que queremos dizer nos saem da boca. Uns porque o vento as roubou, outros porque a coragem desapareceu e acabaram por enterrar as palavras no jardim. Eu ainda tenho palavras por cima da nossa terra. Apesar de abençoar o chão sei que precisamos de largar os sentimentos dentro das palavras para te ouvirem e eu estou farta que não te ouçam. Estou farta que hajam muitos silêncios que não dizem nada ou que dizem tudo menos o que é suposto ser a verdade da tua alma. Tu não tens uma alma. És uma alma. Tens um corpo. Por isso deixa-te escrever na história que tens medo de viver. Há coisas que vão existir e vão existir com um sorriso. E tu já nasceste. Falta a tua história sorrir.

abril 05, 2012

mundos pequenos

Sabes o que são os sonhos? Já descobriste que sonhos são esses os teus e os que pertencem ao outros num outro tempo onde não viveste? Eu sei que já percorri muitas terras e que quando finalmente me encaixei numa realidade oferecida tive a oportunidade de sonhar muitas coisas, e algumas delas contam histórias diabólicas e sem sentido. Eu nunca percebi a outra forma dos sonhos, aquela de não se realizarem. Eu nunca entendi o porquê dessa indiferença que os outros têm por nós até reler essas histórias endiabradas e ver bem o que tinha à minha frente. Mas as histórias não deixam de existir porque crescemos e agora mais que tudo eu quero entender a matéria fibrosa dos sonhos. Eu sempre quis perceber de que matéria é feita a nossa imaginação e até onde podemos ir quando assentamos o rosto na almofada. Sem isso não sobrevivemos nesta selva. Sem dicionário não deciframos as palavras que estão destinadas à descoberta e eu quero descobrir tudo o que há para descobrir. Eu não sou apenas a Alice que andou num país de maravilhas, eu quero ser outro tipo de Alice que cortou os cabelos louros e correu pelos mundos todos até encontrar o lugar recôndito da terra onde os papagaios sussurram e onde os elefantes cantam. E passando pequenas notas pelos pombos e dançando em frente a fogueiras as terras são descobertas enquanto dormimos. Eu hoje quero acordar e encontrar ainda assim esses mesmos mundos contrários que sonhei porque eu não quero apenas ver com a alma, eu quero ver com o corpo. O corpo que um ventre antigo entregou a outro mundo ainda mais antigo.