setembro 30, 2013

O violoncelista japonês. Deixei-o no metro em São Sebastião com a cabeleira escura farta atada no elástico, e o olhar reservado.
O plástico a envolver o instrumento.

setembro 29, 2013

A realidade podia ser melhor que a imaginação. Podia ser indiscritivelmente mais assustadora que a ambição do pensamento de alguns, e por isso a rapariga atraia-se aos locais obscuros ou enferrujados e impregnados de satisfação histórica.
Às vezes não eram os livros. Eram as coisas tangíveis que provavam a sua deliciosa contaminação das histórias.
Era feliz por vezes. Na consequências das estações.


setembro 27, 2013

forças

Graças ao silêncio Outonal das coisas, e o vento que soprava as folhas híbridas descortinei a realidade do consultório de radiologia pela manhã com ternura. O edifício antigo e os pés marcados no chão.
Mais tarde ouvindo os senhores mais velhos na mansão, percebi que só poderíamos ajudar os outros com um silêncio cingido à força das coisas calmas.



setembro 26, 2013

"Nós somos sombras e temos luz"

O trovão caiu durante a aula do Renascimento. Da boca da professora saíram palavras sobre a idade das trevas, e por momentos voltámos à realidade dos pecados e à história deliciosa, no entando trágica.

setembro 25, 2013

Ofereci o lugar do metro ao velho. Pela gabardine beje. A camisa delicada e o colete de algodão escuro. O chapéu de chuva e pasta azuis marinho. O chapéu carrancudo cinzento. A sua estatura baixa de homem fora de negócios, só com a vida. 
O sorriso colhido recentemente.



setembro 24, 2013

A importância que tinha o mar no fim de tarde, e o cheiro que não era intragável.
A petrarca voz salgada do azul do mar.



setembro 23, 2013

a beleza

Dentro do lavadouro ela imaginou o regresso dele na luz que nascia das frestas do cimento. Ela, sentada sob a pedra fria dos tanques, e com os pés descalços cheirava a sabão e sorria para as rouoas que não eram suas.
A luz delicada que entrava e riscava o vestido dela vinha em relatos como o olhar dele e o amor que fariam depois.
Era uma visão sedutora e atraente.


setembro 22, 2013

A rapariga deslizava a escova embutida em cera no casaco sem pressa. Lá fora chovia, em Inglaterra.
Chovia forte e a loja quente guardava-a com prazer. Os casacos alinhados como nos armários de casa e o cheiro novo das colecções.
Nesses tempos de anos 60 tudo era envernizado, até os seus pensamentos fora de órbita.


setembro 21, 2013

património

O homem de barba inchada cinzenta caminhava à nossa frente com o passo avantajado. Não proibia os pés ao passeio e cuspia voluntariamente os relatos da história com quem dormia durante a noite, junto da almofada.
O senhor Figueiredo de Carnaxide era prestável e de um doce enferrujado.
Inesquecível.



setembro 20, 2013

Na loja de velas

"How far that little candle
throws his beams!
So shines a good deed
in a naughty world".

WILLIAM SHAKESPEARE
Merchant of Venice


o homem que se sentiu seguido numa rua em Nova Orleães e escreveu uma canção


setembro 19, 2013

Só a vi na traseira do corpo delgado. A blusa colorida e as longas calças de algodão vermelho, que desciam pelas pernas como um rio. Os caracóis rijos na cabeça pequenina e os olhos curtos, claros de mel.
A manhã  era doce no comboio.


setembro 17, 2013

Às vezes choro.

setembro 15, 2013

Ontem o homem casado estava na televisão. Descobri-lhe o rosto lentamente, como aos bocados, sob a chuva cinzenta que se acumulava nas vidraças da sala vazia.
Relembrava espectros da mulher morta. Os passos dela no areal, quando ainda eram em conjunto.
Ele chorava. O homem chorava.


setembro 13, 2013

Irmãs de Sangue

Nadámos na água enquanto o Outono tentava penetrar nas nossas vidas. A chegada de uma nova responsabilidade. A força avassaladora do crescimento.
Na água era apenas felicidade, e amizade.



É péssimo mas óptimo. Chegar à casa sem sombra e dor no corpo.
E olhar à volta e haver satisfação.


setembro 12, 2013

Eras convincente como a lua.

setembro 10, 2013

Pluk de dag

Comecei numa secretária bem pequena junto à vidraça. Metade dela. Uma manhã de sol, que iria ser de chuva e neve.
Mas seria nova a cada dia. E eu gostava.


setembro 08, 2013


O casulo da dona da loja era mais abaixo. Um pequeno bloco de paredes que protegiam os livros velhos, já reformados. Deixar-me-ia estar se os anos 80 não me esperassem no Hipódromo.


setembro 07, 2013

remember?

Ontem fui ver os barcos a Cascais. Ver a casca do mar, que fala. O vento a soprar devagar, sem medo, contente.
Ontem fui ver a relva crescida junto ao pés e os cantores no palco. A sensação de se estar livre.
Ontem fui ser feliz, voltando para trás. No tempo


setembro 06, 2013

O amor também acorda às 09h da manhã para fazer curativos. Também espera para se levantar. Tira horas para ir ao médico. O amor também verifica se está na posição certa para dormir. Se a barriga dói devido ao alimento.
O amor no final de contas é uma doença, e insistimos tanto em curá-lo, para nos sentirmos melhor.


setembro 05, 2013

as pontes

A mulher dentro da carrinha ouvia os pingos da chuva a bater no vidro. Procurava por ele no aguaceiro, e quando viu a sua imagem em direcção a si, pensou na possibilidade de ele não a querer, porque tinha, instantes depois, recuado.
Nesses segundos, encharcados em desapontamento, ela pensou que o tinha perdido para sempre.
Na estrada. No céu cinzento.



setembro 04, 2013

A minha visão cumprida era o olhar verde metálico da patroa da livraria encaixado nos livros às 22h da noite sob o som do jazz do rádio. Um bocado de céu solitário. Uma cama literária.


setembro 03, 2013

Havia no Chile uma rua com candeeiros onde um homem tocava acordeão. Tocava « o bom pastor» dos Madredeus sob o sotaque ardente da Lua.
Era verão.
A Alba estava sentada a ver o homem tocar, e cantava para dentro. Talvez estivesse apaixonada, ou seriam as noites quentes a confundi-la.


O percurso na avenida com páginas de luz solar a tapar a janela do carro. São estes fins de tarde.


setembro 02, 2013

Elena



Elena era búlgara. Os seus cabelos eram dialectos do sul. Finas camadas de raios louros que desciam até aos ombros. Faziam frente aos olhos verde-esmeralda. Sempre acreditei que Elena era madeixa loira perdida no oeste. Uma língua que atravessava os outros invulgarmente e que prendia. Só a tive por poucos dias. Lembro-me do seu sorriso de estudante. A sua forma atlética, praticante de ténis, e dos sonhos que se escondiam no sotaque enquanto falava estrangeiro.
            Elena era um mistério. E continuará a sê-lo, como as canções das montanhas frias do país de onde veio.


02 de Setembro

Prometeres que aquele amor ia ficar vivo, era fazer arder essa promessa no chão da nossa casa.
E entre nós já não há alicerces.


O sorriso da miúda a falar de quem amava. O sorriso de brincadeiras. O olhar triste enquanto fumava e pensava nele.
As relações que são difíceis.