março 27, 2015

"The coldest winter I ever spent was a summer in San Francisco".

A Ana Paula estudou Germânicas - inglês e alemão - na Universidade Clássica de Lisboa. O seu falecido marido, o primeiro, levou-a a viajar em Marrocos, a São Francisco, à Florida e ainda à Califórnia.
Ana Paula assistiu ao casamento de Michel da Euronews com Neza, também da estação sediada em Lyon, numa estância na Turquia. Esse casamento repetiu-se em Portugal, mas esse na Turquia fora maravilho. Neza estava coberta de ouro nos braços e no peito. Ouro que ela nunca usava.
Ana Paula lembra-se de passear em Marrakech, jantar em Marrakech e de ter um guia só para si e para o falecido marido.
Citou uma frase falsamente atribuída a Mark Twain : "The coldest winter I ever spent was a summer in San Francisco", quando se recordava da humidade.
Anda sempre com o gato. Uma fera preta de olhos verdes. Talvez carregue o diabo, talvez não, mas ele anda aí em qualquer uma dessas formas.





março 15, 2015

Gnossienne nº 2

Escrevi a Eva através da ajuda de Alison do New York Times.
Sorrio ao vê-la através dos meus sonhos.



março 06, 2015

Charles Baudelaire - Um hemisfério numa cabeleira

Deixa-me respirar longamente, longamente, o aroma dos teus cabelos, neles mergulhar todo o meu rosto, como um homem sedento na água de uma nascente, e agitá-los com a mão como um lenço aromático, para sacudir recordações no ar.
Se pudesses saber tudo aquilo que vejo! Tudo aquilo que eu sinto! Tudo o que ouço nos teus cabelos! A minha alma viaja por sobre o perfume como a alma dos outros homens sobre a música.
(…) No oceano da tua cabeleira avisto um porto irrompendo em cantos melancólicos, homens vigorosos de todas as nações e navios de todos os formatos recortando arquiteturas finas e complicadas num céu imenso em que preguiça o eterno calor.
Nas carícias da tua cabeleira reencontro as demoras das longas horas passadas num divã, no quarto de um belo navio, embaladas pelo rolar imperceptível do porto, entre os vasos de flores e os cântaros refrescantes. (…)
Deixa-me morder demoradamente as tuas tranças pesadas e negras.
Quando mordisco teus cabelos elásticos e rebeldes, julgo estar a mastigar recordações.

março 02, 2015

1914, Março. No canal de Suez, a bordo.

Opiário

Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro

É antes do ópio que a minh'alma é doente. 
Sentir a vida convalesce e estióla 
E eu vou buscar ao ópio que consóla 
Um Oriente ao oriente do Oriente. 

Esta vida de bordo há-de matar-me. 
São dias só de febre na cabêça 
E, por mais que procure até que adoêça, 
já não encontro a móla pra adaptar-me. 

[...]

E afinal o que quero é fé, é calma, 
E não ter estas sensações confusas. 
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas — 
E basta de comédias na minh'alma!