setembro 28, 2010

Velha Raposa


Já ouvi muitas histórias de amor. Já vi muitos beijos. Já assisti a muitos abraços em publico. Mas nunca vos vi a voçês encostados a um parede pintada com um clássico grafitti nas ruas da cidade.
Já vos vi lançar segredos através do olhar enquanto se cruzavam ao pé do café e já vos vi beijarem-se no dia do vosso casamento. Namoraram entre as vinhas e contavam histórias junto à mesa dos queijos. Era na grande mesa onde fazíamos os almoços de família que se abraçavam e eram cúmplices no tempo e na história.
Houve alturas em que vos vi, vestidos corriqueiramente e alegres a correr pelas portas a fugir das brincadeiras um do outro. Ela com um vestido vermelho e um laço na cabeça e ele com uma camisola de lá e umas calças vulgares castanhas. Já vos vi amarem-se como um para sempre de Igreja.
Já vos vi chorarem por dores diferentes abraçados um no outro nas noites frias. Já vos vi fazer juras de amor às escondidas que eu bem percebi. Era pequenina mas assistia ás vossas palavras de jovens amantes juntos do pomar, debaixo de um sol ardente numa vila longe dos olhares preconceituosos de uma sociedade vanguardista. Eu assistia como um aluno aplicado aos gestos doces dela enquanto se sujava na lama do caminho para a quinta e ele a rir às gargalhadas puxando o busto dela contra o seu e queimando-lhe os lábios de prazer com um beijo eterno.
Já vos vi tão elegantes nos vossos fatos de casamento, atenta junto à porta da Igreja e já corri para o vosso colo quando tive medo dos bichos da floresta. Nessa altura tinha medo mas agora não. Agora sorrio de tenho saudades de um amor assim. Cresci adolescente e vi essa fotografia parada no tempo junto a uma cómoda velha de uma casa de campo que agora recebe novos sorrisos e novas gargalhadas.
Agora é a minha vez de ensinar outra rapariga que espreita e aponta no seu diário todos os episódios de uma vida feminina e mais tarde sabe usar um batom vermelho que condiz com o seu vestido deixado pela antiga enamorada.
Agora é a minha vez de trazer as crianças alegres para casa à hora do jantar e de lhes servir crème brulée para mais tarde se sujarem na diversão de uma nódoa eterna no tempo.
Agora é a minha vez de fazer história. Mas será que o rapaz espera por mim guardando um sorriso atraente para me oferecer enquanto me mantém num abraço contra o seu corpo sujo do calor?
Será que andas aí?
Podes vir a correr, hoje o campo é só nosso.

setembro 27, 2010

Uma mercearia transportada num camião de França


Há pouco tempo a minha mãe deu-me um colar em ouro com uma chapa pequenina onde o signo peixes brilha na luz do sol das melhores tardes solarentas de Lisboa.
A essa chapa juntei um berloque em ouro de uma pequena âncora que estava perdida no chão e que a minha mãe achou há umas semanas atrás. Nunca gostei de usar ouro. Nunca achei o ouro atraente. Sempre achei que o pescoço de uma senhora se deteriorava na presença de um colar em ouro, por isso tenho usado colares de prata toda a minha vida. Mas desta vez, o pequeno berloque saltava alegre à espera que eu o apanhasse e colocasse junto do meu pescoço. Deduzo que de há umas semanas para cá tenho-me rendido às delícias de um colar de ouro que a minha mãe me deu em pequenina. Agora ando com ele e com aquela âncora que me lembra o mar furioso dentro daquele pedaço pequenino de ouro. Quem diria que um pequeno berloque trouxesse consigo a força de mil canhões e embebesse a força de mil águas salgadas furiosas?Não sei a resposta,mas tenho a certeza que não sou pessoa melhor por trazê-lo comigo. Apenas me sinto mais humilde e refortalecida por carregar acima do peito um pedaço de criança.
E depois surge a pequena questão que me atormenta todas as noites? Porque não transformar aquele velho espaço numa mercearia ou chocolataria e trazer vida a uma pequena vila que necessita de uma intervenção emotiva? Ou porque não trazer de volta as vinhas e remodelar a casa do velho conde e tornar a vila um lugar mais acolhedor e cheio de vida? Porque não?
Quando penso nisso trago no nariz o cheiro a maçãs caramelizadas e a sumo de laranja fresco pela manhã. O cheiro a lençóis lavados no estendal entra pelas narinas apressado e instala-se na minha cabeça como se fosse uma almofada feita de nuvens. E é aí que me lembro das crianças a correr, de um escritório cómodo e da cara triste de uma secretária aborrecida que esconde na gaveta uma laranja em pulgas para sair daquele compartimento. É exactamente nesse segundo que me recordo de um velho professor de Latim e da sua caneca de chá e me lembro da minha melhor amiga num vestido branco de verão, e um ramo de geribérias laranjas na mão a sorrir para os familiares e amigos que estão sentados na mesa grande ao pé das árvores de fruto.
É ai que paro e penso que é possível trazer a felicidade de novo a estas terras e é aí que o amor reside. Reside em todos os lugares de todas as vidas presentes naquele campo. Por isso é possível ser-se bom no campo. É possível ser-se bom em qualquer lugar, desde que os nossos sonhos nos persigam e nos beijem a testa segredando palavras de coragem.

setembro 23, 2010

rita

PARABÉNS minha maninha mais nova. Estou muito orgulhosa de ti *.*
Amo-te

setembro 20, 2010

a criada com pantufas cor de rosa


Junto ao portão verde move-se uma senhora cujos olhos de mágoa aspiram a revolta contra a filha que teima em fugir da sua vigia.
A criança agitada grita com a criada que cheira ao pó dos móveis da casa onde trabalha.
Para lá do portão, avista-se um pequeno terreno de ervas perdidas que transpiram o sabor da infelicidade. Será que ela terá consciência do acto criminoso? Não. Ela não sonha em plantar árvores de fruto nem deixar a criança ser feliz na sua liberdade. Revoltada com o tempo, ela sonha com vestidos de gala pendurados num camarim de uma artista que está morta.
Essa artista com lábios pintados de vermelho vivo que nunca beijaram ninguém, nem se aproximaram do corpo de um homem.
A criança sim. Essa sonha com um pomar onde ela possa correr e fugir dos inimigos da mãe dela. Sonha com o rosa das flores que finge tocar no vazio do terreno multado pelo portão. Grita pela liberdade enquanto a mãe riposta delirando com diamantes cor-de-rosa.
Mas o que ela não sabe é que o único cor-de-rosa que existe é o das pantufas que ela calça.

setembro 17, 2010

chegou o papagaio amarelo


Eu gostava que o mundo parasse por pequenos instantes e que essas pequenas fracções de tempo cobertas de recheios vivos, com cor e sabor pudessem ficar guardados em pequenos frascos de vidro como os dos iogurtes. Era bom, mesmo bom. Quantas vezes não choramos por dentro com medo que o tempo passe rápido demais e se esqueçe de guardar as palavras mais bonitas e os rostos mais inesquecíveis de sempre. Eu já chorei por isso. Já me encostei a uma parede a chorar por essa razão. É impossível parar o tempo e beijá-lo para ele não se ir embora. Para ele não partir. Mas a verdade é que acabam por vir sempre momentos novos que não queremos voltar a esqueçer e parece que o momento a seguir é o melhor de todos. E não é verdade? O que vem a seguir é sempre o que esperamos com delícia e expectativa. O próximo filme é sempre o nosso preferido. O próximo livro é sempre o nosso livro eterno que guardamos na mesa de cabeçeira junto da cama.
Mas existem pessoas que não mudam de nossas preferidas para inimigas. Existem pessoas que o ódio nunca as transformou em inimigas. Existem pessoas que permanecem etéreas no coração dos fracos como o meu. Que não traem mas magoam sem sequer se aperceberem desse pequeno crime que aflige a alma dos parvos.
Eu sou uma parva que anda de pés descalços.
Eu conheço essas pessoas.
E quando o momento chegar continuamos a chorar no duche, a bater com os punhos no azuleizo da banheira e guardar para dentro para aguentar a próxima batalha. Porque é assim que as pessoas como eu agem.
Engolem e engolem até que um dia o balão acaba por explodir com a pressão.



E agora vão-se foder.

setembro 16, 2010

os melhores dias da nossa vida


Realizar pequenos sonhos é fácil. Muito fácil até :)

setembro 15, 2010

jantar atribulado


Oh como te odeiei naquele instante! Naquele momento que me tentaste roubar o lugar que eu mais desejava há anos. Desde o dia em que nasci. Não compreendias a euforia que arrebatava o meu coração de miúda naqueles segundos, em que olhei para ti enquanto estava sentada na cadeira depois de um convite fantástico, e tu feito Benjamin roubaste-me o lugar. Tive a certeza que eras um assassino, ladrão definitivamente. Mas enquanto te regozijavas nessa tua alegria incomodativa eu travei-te o gesto e fiz-te frente. Pensaste que por trazer uma gabardine vermelha vestida que me sustinha em gestos inocentes e fracos.
Como te odiei naquele momento! Mas não durou muito. Tiveste o azar de me fazer companhía e partilhar com a autora. Não te ficaste a rir no final. Mas agora posso-te confessar que me espantaste. Eu nunca acreditei nesses olhos castanhos que passaram a ser azuis no momento em que a pergunta chegou e disseste que acreditavas no amor. 'Desculpa?! Podes repetir isso?' disse eu num inglês acabrunhado que se fazia distinguir naquela mesa. Senti o ardor de uma lágrima estúpida a querer sair do meu olho e contive-me a tempo. Explicaste-me o amor de uma forma que não conseguia compreender. Eu queria odiar-te a todos os santos minutos e foste presunçoso ao ponto de me enfraqueceres com tal discurso.
Idiota. Deixaste-me estática durante um jantar ideal e ainda me livraste das câmaras e dos papparazzi. Obrigada mas porquê quando o teu casaco azul de lã te fazia parecer tal e qual um perfeito assassino? A verdade é que me seduziste no final de contas. Conseguiste roubar-me o que de mais precioso eu tenho e o que muita gente teve a ousadia de roubar ao longo dos anos. Foste um cobarde tanto tempo. Até que eu apareci naquela gabardine vermelha da porche e tropeçei nos teus sapatos. Só que ao contrário dos outros eu não caí, apenas tombei na tua direcção.
E agora quero-te dizer que foste uma surpresa. Eu queria-te bater com toda a força que tinha. Estávamos um contra o outro até que o tempo se esgotou e fez pressão entre nós. Não me lembro daquele pequeno espaço curto que me pressionava contra o teu peito. Só queria sair dali. Aquele cheiro a ouro azul que vinha do teu corpo. O odor. O odor a folhas secas de outono e do perfume dos lírios que espalhaste nos meus cabelos e transportaste para os meus braços quando me afastaste do flash e do brilho que vinha no fundo do túnel. Não sei porque fizeste aquilo. Mas conseguiste. Duvidei de ti a noite toda, a tarde toda. Não queria entender como conseguias compreender tão bem o amor. Eras jovem. És tão jovem caramba! Não podias ter explicado daquela maneira. Não me podias ter provado com um beijo frio como aquele que me deste. Congelaste-me entendes? Lançaste uma seta contra os meus lábios e fiquei com arrepios no corpo todo. Quase me basteste com aquele beijo e foi tão rápido que só consegui distinguir o sabor a rosas brancas com o fumo do tabaco de bar irlandês.
E foi assim. Conseguiste. Transformaste-me na Albertine e finalmente me apercebi que tu eras realmente um assassino. Sim foste o Benjamim até eu te dar o número que precisavas. A partir desse momento, tornaste-te no Rapaz de Olhos Azuis e desde então que não tenho tido enxaquecas e continuo a usar a minha gabardine vermelho-vivo.

setembro 14, 2010

a cantora de fado


'aqui não vem nada empacotado como no supermercado', diz ela com a voz firme e atenta. Umas cantam no mercado, outras choram nos grandes palcos ao ouvirem as palmas. São assim as grandes mulheres que caminham neste país só e seco.
A outra continua na esperança de encontrar a mãe e a pequena que se esconde em sonhos adultos delicia-se na 1ª fila à espera de um autógrafo desejado. Ela sorri impecável para o pormenor dos sapatos vermelhos em sintonia com o seu casaco com capucho e finge estar mais atenta aos movimentos dos lábios da autora. Ela sonhou com esse momento e os seus olhos brilham segurando com força o livro contra o seu peito. Ela sonhou com uma tarde chuvosa na companhía de palavras estrangeiras que explicam o novo livro que conta uma história trágica, cheia de enganos e gestos perdidos. Também a rapariga da história veste uma parka vermelha, mas ela é uma assassina ao contrário da que assiste ao momento confortável na livraria do piso 1.
Quando sair do edificio vai guardar com carinho aquele livro pouco sujo pelo tempo. Vai recordar o episódio enquanto a rapariga chora pelo acidente que a afastou da mãe e a rapariga do mercado canta para os fregueses sonhando com o sonho de Amália que um dia cantou no Olympia.

setembro 13, 2010

romance arriscado


Queres saber uma coisa curiosa? Os olhos azuis nunca me impressionaram na verdade. Sempre gostei de olhos castanhos. De alguma forma o negro obscuro dos olhos cor de amêndoa criam em mim uma certa afectividade por toda a gente que os carrega. Foi por isso que me chamaste a atenção. Não consegui perceber bem se estavas a esconder alguma coisa perante a minha presença, mas gostei de saber que eras de um mundo completamente diferente. Eras mais do que podia imaginar. E creio que já te tinha dito que nunca acreditei que fosses real. Parecias-me uma nuvem que carregava restos de um humano que existiu há muitos anos atrás. Mas agora que já te pertenço, adoro todos os sítios por onde passámos. Todos os sítios que pisámos são diferentes. Todos eles tinham um desafio à nossa espera e mesmo num café onde te sujo a cara com gelado, e na praia cinzenta que chorava na presença da chuva nós somos inteiros e tão selvagens. Não temos preocupações nem fugimos do tempo mau que persegue os mais inocentes. Somos tão selvagens e no entanto sentimo-nos bem neste mundo cruel e sem escrúpulos. Fazes-me uma nova pessoa. Já te disse que não eras real. Já to disse com força para perceberes que não era suposto encontrar-mos alguém que encaixa no nosso corpo exactamente como deus quer. Já to disse com raiva por saber que queria o contrário mas tu ofereceste-me o sabor da revolta. Conseguiste provar o contrário. Se não fosses real eu não tinha sentido o beijo leve sujo e eléctrico que me deste. Queimaste-me os lábios. Deixaste-me exausta com o movimento da tua boca. Sabias que essa era a minha maior fraqueza. Descodificaste essa informação estudando as minhas atitudes. Como foste capaz? Não sei. Mas enterneçe-me o facto de seres um leão selvagem à procura de uma fémea ainda pouco preparada para o amor. Mas o mais incrível é que tens feridas graves que tentas esqueçer. Feridas que te tornam frágil. Eu gosto dessa fragilidade que escondes com palavras grossas, palavras angustiadas, um pouco menos feias quando estás comigo. Essa é a prova que te faço sentir melhor. Tenho a certeza que te vou ajudar a sarar essas feridas. Vieste de tão longe e eu encontrei-te num sítio improvável de te encontrar. É essa improbabilidade que me faz desejar-te mais. Eu quero sempre mais de ti. Eu quero acabar com essa mágoa. Porque sabes que mais? Quando me tocas não me magoas. Não me magoas quando me beijas o pescoço como se saboreasses um gelado em pleno verão do Alentejo. Não me magoas quando deslizas os teus dedos no meu braço e me dizes palavras trapalhonas ao ouvido como se ainda tivesses quinze anos.
És incrível. És de outro mundo. Onde as ondas batem com força contra as rochas sem medo de represálias. ÉS forte e isso alivia-me o coração.
Acho que te amo. Ainda tenho medo de dizer. Mas quero que saibas que o faço. Todos os dias. Sem nunca falhar um dia.
Quando achares que não, olha bem para os pequenos pormenores e vais ver que te amo até nas coisas mais brutas da vida.
Até quando achares que o amor que fazemos um com o outro não parece ter significado. Eu amo-te.Quando me tocas e quando me encontras nos sítios mais estúpidos da terra. Sabes encontrar-me ao pé das rochas. Na loja dos filmes alugados e até escondida por entre redes de pesca ou no chuveiro com água quente a correr por cima dos meus cabelos castanhos. É nisso que pertencemos um ao outro. Nas coisas vulgares e imbecis desta vida.
Quando me procurares entre os lençóis e quando me puxares no meio da multidão para me beijares como se fosse a última vez, vamos ter a certeza de que a vida é feita de coisas maravilhosas.
Proibidas mas maravilhosas meu amor.

setembro 09, 2010

a história dos pinhões


se pensares bem, tudo à nossa volta nestes dias perdeu a essência que tinha antes. já não vês diferentes modos de agir simples. sim, antes podias reclamar pela tua liberdade , terias que pagar um praço muito mais alto mas a terra era mais bonita, as pessoas eram mais bonitas, mais simples. Isso era o que as tornava genuínas, o facto de não se preocuparem com coisas desnecessárias. as mulheres eram diferentes e os homens também.
Hoje toda a gente quer ser diferente e acabam por ser todos iguais. esqueçem-se que a diferença entre si é sua especificidade singular. eles perderam isso algures nos anos que têm vindo a passar.
Não me interpretes mal quando te digo que já não acredito na magia que acreditava antes. ainga vejo alguma mas pouca, já me canso de olhar os estranhos na rua e não me reconhecer em nenhum deles. perderam a cor por dentro. e o que é isso da cor? sim, todos nós trazemos cores dentro de nós, umas mais alegres que outras. outras mais brilhantes que outras. cores que nos definem, e neste momento só vejo cinzento e preto. não distinguo nenhuma luz brilhante na multidão. queria vê-la. senti-la.tocá-la como se fosse só minha mas ela teima em não aparecer como o beijo tão ansiado que nunca nos toca nos lábios fragéis. nos lábios secos que se molham na felicidade dos lábios de um homem que existiu antigamente e que parece fugir apressado com medo do que as mulheres lhe possam fazer.é o medo.
o medo toma-lhes conta. já não existem casas simples que cheiram a pãu quente e têm pó nos móveis antigos que contam histórias. os pais já não contam histórias aos filhos e não lhes mostram o quão bonito e maldoso o mundo pode ser. não lhes mostram a monstruosidade necessária para criarem heróis que não chegam a ser heróis na verdade. esses nunca são reconhecidos, ficam apenas no coração das pessoas genuinamente verdadeiras.
tu és verdadeiro. ela é verdadeira. somos poucos.
é pouco o que se anda a fazer. faz sentido eu dizer que já não é suficiente uma história de amor que poderia realmente acontecer sem a força do planeado, apenas o destino e o improviso actuariam nesse cenário. por isso é que essa parte passou para os filmes. eles são a realidade genuina mais próxima de nós. não eles são uma mentira. mas uma mentira mágica que nos apetece guardar no coração para sempre.
chora sim,grita caramba. não tenhas medo de gritar. és pessoa. tens direito a gritar. a apaixonares-te e teres filhos maravilhosos que sabem distinguir o bom do mau.
eu preferia apanhar pinhões e era feliz. era mais feliz do que vejo agora. já não há felicidade nos pinhões. as crianças acham ridiculo. já não gostam de brincar à escondidas na natureza. no único sítio que nos faz bem. num sítio longe. com objectivos, sem preconceito, com a verdade escancarada nos nossos rostos e com a esperança que um desses tempos há-de voltar, apenas por um instante para te provar que a magia ainda existe.

setembro 07, 2010

chuva irlandesa


Conheci-te num dia chuvoso. As garras traiçoeiras da água escondiam bem o teu rosto. Na pouca claridade da tempestade distingui linhas firmes na tua cara. Um pouco de silêncio, calma e rigidez. Fingias não conhecer o mundo, mas eu apostei no teu olhar profundo, castanho, feroz. Se tivesses que me perguntar qual a sensação daquele momento? Raiva. Sentia raiva dos meus pés à cabeça. Estava chateada com o mundo e tu apareceste para fazeres frente aos meus inimigos. Não eras de cinismos, de conversas perdidas. Sabias como me fazer rir. Fizeste-me rir para curar a minha impaciência, e no final daquele dia guardei um pouco de ti comigo, no caminho de volta a casa. As gotas de chuva pareceram recuar e voltei a sorrir para os estranhos na rua. Voltei a colocar o cabelo solto para voar com o vento e não tive vergonha de sujar os pés na terra lamacenta. Entregaste-me o melhor que havia dentro de mim e pouco do teu rosto decifrei. Mas recordo-me do teu sorriso. Sim. Esse nunca vou esqueçer.

setembro 04, 2010

pim pam pum

Look's like magic's solely yours tonight

setembro 02, 2010

a Matos


Com um brilhozinho nos olhos
e a saia rodada
escancaraste a porta do bar
trazias o cabelo aos ombros
passeando de cá para lá
como as ondas do mar
conheço tão bem esses olhos
e nunca me enganam
o que é que aconteceu diz lá
é que hoje fiz um amigo
e coisa mais preciosa no mundo não há

Com um brilhozinho nos olhos
metemos o carro
muito à frente muito à frente dos bois
ou seja fizemos promessas
trocámos retratos
traçámos projectos a dois
trocámos de roupa trocámos de corpo
trocamos de beijos tão bom é tão bom
e com um brilhozinho nos olhos
tocamos guitarra
pelo menos a julgar pelo som

E o que é que foi que ele disse?
E o que é que foi que ele disse?
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
passa aí mais um bocadinho
que estou quase a ficar louco
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
portanto
hoje soube-me a pouco

Com um brilhozinho nos olhos
corremos os estores
pusemos o rádio no on
acendemos a já costumeira
velinha de igreja
pusemos no off o telfone
e olha nao dá para contar
mas sei que tu sabes
daquilo que sabes que eu sei
e com um brilhozinho nos olhos
ficámos parados
depois do que não te contei

Com um brilhozinho nos olhos
dissemos sei la
o que nos passou pela tola
do estilo: és o number one
dou-te vinte valores
és um treze no totobola
e às duas por três
bebemos um copo
fizemos o quetro e pintámos o sete
e com um brilhozinho nos olhos
ficámos imoveis
a dar uma de tête a tête

E com um brilhozinho nos olhos
tentamos saber
para lá do que muito se amou
quem éramos nós
quem queriamos ser
e quais as esperanças
que a vida roubou
e olhei-o de longe
e mirei-o de perto
que quem não vê caras
não vê corações
e com um brilhozinho nos olhos
guardei um amigo
que é coisa que vale milhões



fizemos uma promessa e agora é para sempre@
3 anos dizem muito

uma espécie de relíquia


faz lembrar um musical. a música que embarca nos teus ouvidos e deixa-te extasiado de tanta emoção. é como sentires o palco a correr por baixo dos teus pés e tens a certeza de que tudo vai correr bem. no fim vai acabar por correr bem e vais voar com o vento e sentir o fresco da vida ao teu lado. é como o dia que foi o melhor da tua vida. tens a certeza. porque contrariou tudo o que há de real na vida. é como um dia chuvoso que não te incomoda porque estás protegido por um casaco bem quente, simples, diferente dos outros. faz lembrar uma noite sozinha em que te sentes contente por debaixo do escuro de uma sala de cinema. estás sozinho mas sabes que estás bem. é como um guarda chuva que te protege de todos os inimigos que se colocam à tua frente. com ele, podes ir onde quiseres. podes ser quem quiseres. basta sorrires e continuares a tua vida com a maior força que podes ter no coração.