setembro 07, 2010
chuva irlandesa
Conheci-te num dia chuvoso. As garras traiçoeiras da água escondiam bem o teu rosto. Na pouca claridade da tempestade distingui linhas firmes na tua cara. Um pouco de silêncio, calma e rigidez. Fingias não conhecer o mundo, mas eu apostei no teu olhar profundo, castanho, feroz. Se tivesses que me perguntar qual a sensação daquele momento? Raiva. Sentia raiva dos meus pés à cabeça. Estava chateada com o mundo e tu apareceste para fazeres frente aos meus inimigos. Não eras de cinismos, de conversas perdidas. Sabias como me fazer rir. Fizeste-me rir para curar a minha impaciência, e no final daquele dia guardei um pouco de ti comigo, no caminho de volta a casa. As gotas de chuva pareceram recuar e voltei a sorrir para os estranhos na rua. Voltei a colocar o cabelo solto para voar com o vento e não tive vergonha de sujar os pés na terra lamacenta. Entregaste-me o melhor que havia dentro de mim e pouco do teu rosto decifrei. Mas recordo-me do teu sorriso. Sim. Esse nunca vou esqueçer.
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