setembro 14, 2010

a cantora de fado


'aqui não vem nada empacotado como no supermercado', diz ela com a voz firme e atenta. Umas cantam no mercado, outras choram nos grandes palcos ao ouvirem as palmas. São assim as grandes mulheres que caminham neste país só e seco.
A outra continua na esperança de encontrar a mãe e a pequena que se esconde em sonhos adultos delicia-se na 1ª fila à espera de um autógrafo desejado. Ela sorri impecável para o pormenor dos sapatos vermelhos em sintonia com o seu casaco com capucho e finge estar mais atenta aos movimentos dos lábios da autora. Ela sonhou com esse momento e os seus olhos brilham segurando com força o livro contra o seu peito. Ela sonhou com uma tarde chuvosa na companhía de palavras estrangeiras que explicam o novo livro que conta uma história trágica, cheia de enganos e gestos perdidos. Também a rapariga da história veste uma parka vermelha, mas ela é uma assassina ao contrário da que assiste ao momento confortável na livraria do piso 1.
Quando sair do edificio vai guardar com carinho aquele livro pouco sujo pelo tempo. Vai recordar o episódio enquanto a rapariga chora pelo acidente que a afastou da mãe e a rapariga do mercado canta para os fregueses sonhando com o sonho de Amália que um dia cantou no Olympia.

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