setembro 17, 2010
chegou o papagaio amarelo
Eu gostava que o mundo parasse por pequenos instantes e que essas pequenas fracções de tempo cobertas de recheios vivos, com cor e sabor pudessem ficar guardados em pequenos frascos de vidro como os dos iogurtes. Era bom, mesmo bom. Quantas vezes não choramos por dentro com medo que o tempo passe rápido demais e se esqueçe de guardar as palavras mais bonitas e os rostos mais inesquecíveis de sempre. Eu já chorei por isso. Já me encostei a uma parede a chorar por essa razão. É impossível parar o tempo e beijá-lo para ele não se ir embora. Para ele não partir. Mas a verdade é que acabam por vir sempre momentos novos que não queremos voltar a esqueçer e parece que o momento a seguir é o melhor de todos. E não é verdade? O que vem a seguir é sempre o que esperamos com delícia e expectativa. O próximo filme é sempre o nosso preferido. O próximo livro é sempre o nosso livro eterno que guardamos na mesa de cabeçeira junto da cama.
Mas existem pessoas que não mudam de nossas preferidas para inimigas. Existem pessoas que o ódio nunca as transformou em inimigas. Existem pessoas que permanecem etéreas no coração dos fracos como o meu. Que não traem mas magoam sem sequer se aperceberem desse pequeno crime que aflige a alma dos parvos.
Eu sou uma parva que anda de pés descalços.
Eu conheço essas pessoas.
E quando o momento chegar continuamos a chorar no duche, a bater com os punhos no azuleizo da banheira e guardar para dentro para aguentar a próxima batalha. Porque é assim que as pessoas como eu agem.
Engolem e engolem até que um dia o balão acaba por explodir com a pressão.
E agora vão-se foder.
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