setembro 15, 2010

jantar atribulado


Oh como te odeiei naquele instante! Naquele momento que me tentaste roubar o lugar que eu mais desejava há anos. Desde o dia em que nasci. Não compreendias a euforia que arrebatava o meu coração de miúda naqueles segundos, em que olhei para ti enquanto estava sentada na cadeira depois de um convite fantástico, e tu feito Benjamin roubaste-me o lugar. Tive a certeza que eras um assassino, ladrão definitivamente. Mas enquanto te regozijavas nessa tua alegria incomodativa eu travei-te o gesto e fiz-te frente. Pensaste que por trazer uma gabardine vermelha vestida que me sustinha em gestos inocentes e fracos.
Como te odiei naquele momento! Mas não durou muito. Tiveste o azar de me fazer companhía e partilhar com a autora. Não te ficaste a rir no final. Mas agora posso-te confessar que me espantaste. Eu nunca acreditei nesses olhos castanhos que passaram a ser azuis no momento em que a pergunta chegou e disseste que acreditavas no amor. 'Desculpa?! Podes repetir isso?' disse eu num inglês acabrunhado que se fazia distinguir naquela mesa. Senti o ardor de uma lágrima estúpida a querer sair do meu olho e contive-me a tempo. Explicaste-me o amor de uma forma que não conseguia compreender. Eu queria odiar-te a todos os santos minutos e foste presunçoso ao ponto de me enfraqueceres com tal discurso.
Idiota. Deixaste-me estática durante um jantar ideal e ainda me livraste das câmaras e dos papparazzi. Obrigada mas porquê quando o teu casaco azul de lã te fazia parecer tal e qual um perfeito assassino? A verdade é que me seduziste no final de contas. Conseguiste roubar-me o que de mais precioso eu tenho e o que muita gente teve a ousadia de roubar ao longo dos anos. Foste um cobarde tanto tempo. Até que eu apareci naquela gabardine vermelha da porche e tropeçei nos teus sapatos. Só que ao contrário dos outros eu não caí, apenas tombei na tua direcção.
E agora quero-te dizer que foste uma surpresa. Eu queria-te bater com toda a força que tinha. Estávamos um contra o outro até que o tempo se esgotou e fez pressão entre nós. Não me lembro daquele pequeno espaço curto que me pressionava contra o teu peito. Só queria sair dali. Aquele cheiro a ouro azul que vinha do teu corpo. O odor. O odor a folhas secas de outono e do perfume dos lírios que espalhaste nos meus cabelos e transportaste para os meus braços quando me afastaste do flash e do brilho que vinha no fundo do túnel. Não sei porque fizeste aquilo. Mas conseguiste. Duvidei de ti a noite toda, a tarde toda. Não queria entender como conseguias compreender tão bem o amor. Eras jovem. És tão jovem caramba! Não podias ter explicado daquela maneira. Não me podias ter provado com um beijo frio como aquele que me deste. Congelaste-me entendes? Lançaste uma seta contra os meus lábios e fiquei com arrepios no corpo todo. Quase me basteste com aquele beijo e foi tão rápido que só consegui distinguir o sabor a rosas brancas com o fumo do tabaco de bar irlandês.
E foi assim. Conseguiste. Transformaste-me na Albertine e finalmente me apercebi que tu eras realmente um assassino. Sim foste o Benjamim até eu te dar o número que precisavas. A partir desse momento, tornaste-te no Rapaz de Olhos Azuis e desde então que não tenho tido enxaquecas e continuo a usar a minha gabardine vermelho-vivo.

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