agosto 16, 2010

casa de bonecas


Não percebo. Não percebo mesmo. Afastas-te assim sem dizer nada e eu que crie expectativas para ocupar o meu tempo. Já não há mais divisões para limpar. Os cozinhados estão todos feitos e este mês já fiz muitos bolos. O livro está a avançar e finalmente gosto do meu cabelo. Mas então e tu? Tu que és a única pessoa a quem devia contar todas estas coisas? Estou à tua espera há tanto tempo e não sei se mereço esperar mais. Começo a ter demasiadas saudades tuas. E já não sei se a praia vai continuar a estar livre.
Sabias que eu queria viver numa pequena casa para dois com canteiros nas janelas e um pequeno quintal para plantar girassóis? Sim, os teus preferidos. Eu só queria que estivesses cá para eu te dizer estas coisas da minha cabeça. Porque sei que és a única pessoa que me percebe e não me chama de maluca. És a única pessoa que me diz que posso ser quem eu quiser, e eu quero tanto ser como eu imagino na minha cabeça! Se soubesses o quanto quero viver o imaginado e não a porcaria que vejo à minha frente. Se soubesses que não era isto que eu queria para mim, e que uma casa de madeira me chegava para encostar a cabeça numa destas últimas noites. Quero contar-te tantas coisas e não tenho sinal de ti. Eu quero-te aqui ao pé de mim para te dizer que o meu coração bate um bocadinho mais forte pelo rapaz que passeia o cão no mesmo jardim que eu. Eu quero-te dizer que existem duas árvores no jardim junto da minha casa que dão frutos e fazem a combinação perfeita e dão uma sombra maravilhosa. Queria-te contar que acho tudo tão estúpido à minha volta. Que encontro o sossego nas coisas mais diferentes de toda a gente. No outro dia besbilhotei o armazém dos livros da Fnac e dei pelo homem do carrinho distraído e por 2 minutos fingi estar num sítio completamente diferente! Já te tinha dito que és linda? Não, pois não. Enquanto não vieres não te vou poder dizer essas coisas.

Agora a cozinha faz-me companhía.

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