agosto 29, 2010

soledad


Quase picava e ardia a sensação de olhar aquela imagem. A Lua participava na peça abraçada ao negro do céu. Envolvia a água que embalava os barcos, numa luz intensa e brilhante. Quase jurei chorar naquela noite trágica. As palmas continuavam al longe enquanto o cenário marítimo continuava na calma dos seres escondidos debaixo das águas.

As redes entrelaçadas umas nas outras, traziam o cheiro a peixe e no fim da noite a praia servia de cenário para os namoros fictícios e as gargalhadas de horas mortas. Eles certamente estariam abraçados numa das tendas a celebrarem a vida inocente de dois jovens que se amam e que se envolvem no desejo físico de se encontrarem. O mar introduziu-os e agora vivem longe da multidão, num globo à parte, onde o cheiro do mar lhes cobre o corpo de sal. E eles parecem não se importar. Fazem parte um do outro. A saudade um dia os vai separar para oceanos diferentes, quando tudo estiver morto, ao som das teclas de um piano que acompanhou uma voz grave desejosa de não partir. De permanecer quieta como o frio de Inverno faz em tardes geladas em que se observa o mar por detrás de uma janela baça pelo calor de uma chávena de chocolate quente que me preparaste. De seguida vais-me abraçar envolvidos numa manta quente e sem me sussurares ao ouvido, vais libertar com força as palavras da tua boca, vais-me amar como me amaste há muito tempo atrás, quando a existência desse amor ainda não era sólida para ti. Queres que te conte outra vez? Eu lembro-me, numa tarde chuvosa em que o mar agitava as almas da ilha. Eu, coberta de gotas cheias de raiva, puxava a rede para dentro do barco, com a força de um leão. Os dedos cortavam-se na corda e manchas de sangue salpicavam na estrutura de madeira. Tentaste ajudar ignorando os meus gritos dizendo-te para fazeres o contrário do que estavas a fazer. Fizeste-me perder o peixe. E isso não te perdoo.Fizeste-me perder o peixe e seguiste-me quando enfurecida larguei tudo e dirigi-me a casa. Não queria saber do sangue nem da chuva que me encharcava o corpo.

Seguiste-me os últimos passos e fechaste a porta com força. Eu continuei a gritar culpando-te de todos os males daquela ilha. Puxei palavras maldosas e abraçaste-me. Impediste-me do pior. Agarraste-me na força de um tubarão que se agarra à perna da vítima. Desta vez agarraste-me o rosto e não me deixaste recusar o doce e salgado da tua boca. Roubaste-me a fúria e desejei ter resistido ao movimento dos teus lábios nos meus. Não me deixaste resistir durantes as horas inteiras daquela noite, e deixaste-me apoiar a cabeça no teu peito e acariciaste-me o cabelo julgando-me adormecida. Julgaste mal. Estava bem acordada e essa consciência levou-me até a ti e às tuas cordas que me prendem todos os dias.

Fizeste amor comigo e fizeste-me perder o peixe. Mas o brilho desta noite, nada se compara a essa perda. É muito mais que mero peixe para cozinhar. É a luz da Lua que nos ilumina e não nos deixa temer a pior das palavras, o Adeus eterno.

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