outubro 31, 2013

Gravity

O guitarrista acocorado sobre o palco arranhava a pele dos dedos no instrumento deitado.  Era um som cipreste, não de longe. Quando esse momento acontecia agarrava-se à orgia da música que era no fundo o rosto dela. Esquecia a casa, os quadros, o duche de fim de dia. Ficava louco enquanto a luz embatia sob as veias brutas nos braços dele. Como se fizesse algum esforço voluntário, quando, no fundo, vomitava as notas com prazer de dentro.
Ele, com o corpo contraído, tinha sonhos. De se elevar e não sentir a pulsação da terra a empurrá-lo para as coisas vulgares. Por isso tocava. Tocava até que a guitarra ficasse doente, e tivessem os dois que regressar a casa.
Para junto da gravidade.


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