outubro 16, 2010

abraçar os estranhos próximos

Que relacionamento começa com um puxão de braço? Puxaste-me com tanta força que julguei ter ouvido os sons de espanto dos espectadores que estavam no salão. Simplesmente enquanto eu carregava a caixa do bolo, o condutor embriagado do carro que vinha ao longe carregou no acelerador e quase me levou consigo na viagem atribulada. Puxaste-me com tanta força e o bolo ficou esmagado pela estrada fora. O mais irónico é que nos rimos dele no fim. Era um bolo. Que importância tinha?
Mas agora que me lembro, recordo-me do agradecimento que te fiz com um beijo no rosto. Simples. Calmo. Calado. E ficaste a olhar-me. Observaste-me e agarraste-me na nuca e em segundos caóticos beijaste-me lentamente mas furiosamente como se eu te tivesse ofendido com aquele beijo. Foste gentil com um beijo bruto. Eras moreno e isso fez-me reparar nos teus olhos castanhas vivos que disputavam entre si os breves segundos e momentos comigo. E foi aí que parámos e rimo-nos como doidos. Rimo-nos loucamente daquele bolo esmagado no meio da estrada. E deixámo-nos encostar na carrinha branca durante o resto da noite.
Lembro.me de ti. Curioso e enigmático. Lembro-me de ti. Dos teus lábios carnudos
e lembro-me do teu semblante.
Um rapaz que eu gostaria de conhecer.

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