julho 26, 2013

Carta à Ega II



Querida Ega,

            Recordo-me agora que te escrevi anteriormente numa noite algures desequilibrada. Confessei-te que poderia estar apaixonada por um rapaz, e tu, sendo minha oblíqua, reparaste na evidência. Mas a verdade, Mariana, é que nunca poderia gostar de alguém que não pudesse chamar de casa.
            Temo que em todos os traços dele, ele não se assemelhe a uma casa, mas um precipício. Sabeis muito bem como sempre fui alterada pelo amor. Como sempre comparei as pessoas a quadros. Já te contei a história do quadro de Salomé, mas agora passado dias, escrevo-te para te descansar o coração. Escrevo-te directamente de uma noite que se encerrará na almofada, para te alertar do meu desvio amoroso.
            Tenho-te relatado as minhas peripécias amorosas que têm acontecido a alguns quilómetros daqui, e também, como não poderia deixar de ser, no meu pensamento.
            Hoje aprendi que a esperança é a melhor coisa que podemos ter. Por isso não sofro com a nossa ausência. É esse postal de Barcelos que guardo agora com carinho, apercebendo-me de que o castelo que vês é o teu forte, tal como o meu é o rio, e as nuvens.
            Escrevo-te algures anestesiada pelo carinho de alguém. Pelos textos de Aquilino Ribeiro. Sabes? Descobri esse modernista numa reportagem e agora não o consigo esquecer. Já só quero penetrar na sua aldeia e escrever sobre os pássaros.
            Mesmo que não acredite em Deus, acredito nas palavras. E essas têm mais amor que qualquer outra coisa.

Do teu sempre querido,

Carlos


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