Peguei no telefone que estava dentro da mala. Parecia sorrir vindo do fundo da bolsa de camurça. Tirei-o dentro da mala e encostei-o ao meu ouvido.
-Estou?- perguntei como sempre perguntava.
- Mariana? Estou...Olá! É o Tiago!- disse ele entusiasmado.
- Ah olá Tiago, tudo bem?
- Sim. Olha, achas que te podes encontrar comigo agora, na Faculdade?- interrogou ele. Nunca desconfiara que me esqueçera da agenda em cima da mesa do canto do café.
- Ahh... eu acho que sim. Exactamente onde?- Já conversávamos como se fôssemos irmãos. Era estranho.
- Na entrada. Daqui a uma hora, pode ser?
-Sim, claro. Até já.
Passado uma hora, estava à sua espera à entrada da Faculdade, com a mala ao ombro o casaco aberto, porque a brisa não chegava para fazer pele de galinha nos braços.
-Mariana?- perguntou ele com receio atrás de mim. Tocou-me e virou-se. Sorriu-me como fez da primeira vez.
- Olá.. então, o que me querias?
- Já vais ver. Anda, vem comigo.
Dirigimo-nos para um lugar onde não havia ninguém. Parecia um lugar que apenas alguns conheciam.
- Onde é que vamos?- perguntei eu curiosa.
- Já vais ver. Vais gostar.
Chegámos a uma porta grande, em tons de amêndoa. Parecia uma porta de um castelo.
- É aqui. Espera um bocado que tenho de abrir a porta.
Do bolso das suas calças saiu uma chave velha de metal que rodou na fechadura e abriu a porta com algum esforço.
Acompanhou-me ao centro da sala e eu levei as mãos à boca. Os meus olhos ficaram estáticos e não conseguiam respirar.
Olhei para o Tiago surpresa e ele sorria como se estivesse a gozar com aquela representação de suspresa.
- Tiago..isto são os arquivos da Faculdade, és doido?
- Sim e qual é o problema?
- Propriedade privada nunca ouviste falar?- ele sorria para mim entusiasmado em me mostrar todas as fantásticas histórias que estariam escondidas nos milhares de livros ali guardados.
- Sim..mas, isto é fantástico. Posso dar uma vista de olhos?- perguntei eu, mordendo o lábio como uma garota à espera de um rebuçado.
-Sim, claro. mas tem cuidado para nao estragares nada.
- Ainda não me disseste qual era o teu herói preferido.
Avançei para uma mesa gigante ao lado de uma estante que devia ter uns poucos metros. Os metros que preenchiam a parede.
Ele pareceu exitar na resposta mas lá se pronunciou.
- Hércules.
-Estás a brincar comigo.
-Eu sei que parece brincadeira. Mas algumas histórias da Disney fazem sentido.
- Não... não é isso. Esse é o meu herói preferido.
-Não fiz por mal. Desculpa. Gosto dele- ele sorriu e acomodou-se na mesa velha, onde por horas conversámos sobre mil e um assuntos.
Por entre as palavras pareciamos conhecer-nos um pouco mais e o tempo não parecia correr devagar.
Quando regressei para um próxima sessão ele não se encontrava lá. A porta estava aberta, e eu segui sem medos. Eu sabia que iria regressar.
Afastei-me da porta, que fechei com cuidado e dirigi-me para a mesa, a fim de pousar as minhas coisas e de me instalar.
Em cima da mesa estava a pequena agenda castanha que ficara na mesa do café há 2 semanas atrás. Um pequeno bilhete sobressaía na capa e nele dizia:
" Hoje os livros vão te fazer companhía. Tive de ir a um sítio.
Tiago.
p.s achas que podes deixar-me um pouca do teu sorriso para eu levar depois?"
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