Enquanto ela corre no prado fresco dos campos rabugentos, o sol aproxima-se e faz companhía às flores. A rapariga vai como se nada temesse enquanto o vestido branco baloiça, e os cabelos castanhos se arrastam pelo caminho. Ela está quase a chegar. Só lhe falta um pouco mais de avanço. Porque em cima da mesa da cozinha espera-a a compota acabada de fazer. O pão dentro do cesto, a toalha laranja estendida e a janela aberta que deixa correr o ar. A porta escancarada que deixa ver os canteiros com os lírios e as tulipas e as heras a proteger a casa, deixavam o olhar tomar conta do rosto da miuda. Ela corria desenfreada como se não houvesse amanhã. Como se não bastasse ela já ter passado o dia inteiro no rio e a ler histórias aos sete ventos. A mãe ainda a espera para lhe cortar o cabelo à sombra de uma árvore e depois o jantar de despedida. Porque vidas assim não existem nem acontecem. Vidas assim nunca vão acontecer enquanto não houver um pouco mais de açucar ou chantilly nos morangos. Um pouco mais de terra para cavar as sementes da flores que ai vão crescer. Nunca irá acontecer enquanto não houver um pouco mais de sal na comida e um gesto como o do rapaz que observa enevoado a miuda enquanto ela se delicia com a ternura do campo a sós. Ele fá-la feliz e ela deixa-se ser feliz.
Disto não vai acontecer mais enquanto não acontecerem mais coisas bonitas e espontâneas. Enquanto não se der uma oportunidade ao coelho de entrar dentro da casa e espreitar a vida que corre dentro dela.
Isto nunca vai existir enquanto o amor não passar a ser mais espontâneo.
E, claro, um pouco de magia.
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