janeiro 27, 2011

ragú rápido

No outro dia o meu pensamento tropeçou num rapaz jovem. Estava nos seus vinte , aparentava uma beleza, não diria extraordinária, mas interessante, curiosa. Do tipo que procuramos saber mais e ansiamos por um novo encontro.
Mentiria se dissesse que não fiquei um pouco aprimorada com a imagem que estava na frente dos meus olhos.
Aproximei oficialmente o meu corpo em direcção à sua figura e fiquei eternamente comovida com o jeito das suas mãos ao carregarem uma pasta castanha já gasta pelo tempo. Senti-me recuada no tempo do meu pintor preferido e por momentos vi-o sorrir para mim.
Reconheci-lhe o cheiro mais tarde quando se veio adivinhar um amor sóbrio e vivaz.
Senti-me criança outra vez e por várias noites vesti um vestido preto, cautelosa, calçei uns saltos comfortáveis e fomos dançar para o meio da celebridade da vida.
Muitas dessas vezes fomos cúmplices e contámos pequenos segredos e brincadeiras ao ouvido um do outro.
Brincámos em piqueniques e comemos guloseimas e bebemos bom vinho em jantares inesquecíveis.
Amámo-nos por muito tempo e sentimo-nos um dentro do outro tantas e tantas vezes, como em modo de escondidas, em noites de amor sincero. Por baixo de um foco leve de luz amámo-nos até de manhã.
E agora que me cruzo de novo com a sua figura sorrio como se fosse a primeira vez que o fizesse e corro para os seus braços. Suficientemente caloroso para lhe chamar de meu amor verdadeiro. Parte de mim.




E hoje o ragú ficou quase que perfeito. Ás vezes consigo sentir o cheiro de cada ingrediente no ar seco da rua e da casa. Quando não sou invadida de um cheiro comfortável a canela ou o café acabado de fazer de manhã.

Bebi um copo de vinho, mas logo torci o nariz. O sabor não era o mesmo de ontem e interroguei-me no que terá acontecido ao forte sabor do tinto que veio da Quinta da Coelheira do Alentejo. Se calhar perdeu-se

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