Uma correria constante. Pensei estar noutra era. Os resultados já todos sabíamos quais seriam, mas mantemos sempre uma pequena esperança como na época das carrinhas dos gelados. Outros tempos.
O homem que passou por mim pensei ser um senhor de outro tempo, envergava uma gabardine preta, uma pasta castanha e um papel branco nas mãos e corria como se pudesse salvar o país de uma possível catrástrofe política.
Estávamos em leilão presidencial e os grandes valores pertenciam aos pequenos candidatos. Safaram-se os pequenos e voltámos à realidade dura e cruel.
De repente as ruas retornavam ao mesmo aspecto, luzes neónicas abafavam os olhares e adormeciam a população. Quadros já não seriam exibidos em grandes galerias e música clássica já não acompanharia um casal jovem na pista de dança de uma casa da alta burguesia no coração da cidade.
Os beijos perderam-se e o sexo voltou a ser rivalista. Puro acto físico, sem o amor aliado aos corpos que entram um no outro e se pertençem para sempre.
Famílias separaram-se e apenas por um dia partilharam um sonho único de se reunirem à mesa do jantar e comerem uma refeição quente na companhía da lua emponente no céu.
O rio secou, as flores quebraram o encanto e gelaram com a geada. Os animais esconderam-se nas suas casas e a Igreja parou o sino da missa.
Tudo se calou. Um sonho acabou e uma almofada suada afastava-se do rosto de alguém que mora num rés-do-chão.
Um perfume dispersou-se e um corpo morreu.
Um grande pintor ficou sem forças e uma bailarina partiu o pé.
Um país faliu.
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