janeiro 23, 2011

another time


Uma correria constante. Pensei estar noutra era. Os resultados já todos sabíamos quais seriam, mas mantemos sempre uma pequena esperança como na época das carrinhas dos gelados. Outros tempos.

O homem que passou por mim pensei ser um senhor de outro tempo, envergava uma gabardine preta, uma pasta castanha e um papel branco nas mãos e corria como se pudesse salvar o país de uma possível catrástrofe política.

Estávamos em leilão presidencial e os grandes valores pertenciam aos pequenos candidatos. Safaram-se os pequenos e voltámos à realidade dura e cruel.


De repente as ruas retornavam ao mesmo aspecto, luzes neónicas abafavam os olhares e adormeciam a população. Quadros já não seriam exibidos em grandes galerias e música clássica já não acompanharia um casal jovem na pista de dança de uma casa da alta burguesia no coração da cidade.

Os beijos perderam-se e o sexo voltou a ser rivalista. Puro acto físico, sem o amor aliado aos corpos que entram um no outro e se pertençem para sempre.

Famílias separaram-se e apenas por um dia partilharam um sonho único de se reunirem à mesa do jantar e comerem uma refeição quente na companhía da lua emponente no céu.


O rio secou, as flores quebraram o encanto e gelaram com a geada. Os animais esconderam-se nas suas casas e a Igreja parou o sino da missa.


Tudo se calou. Um sonho acabou e uma almofada suada afastava-se do rosto de alguém que mora num rés-do-chão.



Um perfume dispersou-se e um corpo morreu.

Um grande pintor ficou sem forças e uma bailarina partiu o pé.



Um país faliu.



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