dezembro 07, 2012

é outra coisa qualquer


Portas fechadas e janelas abertas. E o ar corre fraco mas frio. Não chega a queimar a pele. Não chega a causar frio, do tipo que trazias quando a casa cheirava a verão. Quando me atirava da varanda no pensamento da sede de agarrar o resto de felicidade que era pouca que a que me davas chegava para os dois.
Nesse tempo quente e febril achávamos que nos amávamos e não era preciso implorar por carinho, que estavas logo ali e arrancavas de um canto do quarto para o outro preparado para deixares a imagem calma que eu te roubava do espelho e te levares para outros sítios, para nos navegares para outros mares. E dentro de ti havia umas mil tempestades por descobrir e eu sempre cega no nosso amor, preferia desvendar-te o corpo enquanto o calor dos dias embaciava os vidros da casa. Tínhamos que abrir as janelas e deixar as roupas de lado para suportar o atrevimento do Verão.
Existimos dentro de um verão desesperado e cheio de sonhos, encharcado em riscos. Atrevido. Irresistível. Traiçoeiro. Vivemos uns dois em três minutos que agora já esqueceste e que dentro de mim vivem atrapalhados, porque quando te soletram o nome não é em vão e eu fico triste. Vivemos uns dois ou três minutos e cá dentro foram umas décadas apaixonadas e cheias de sede de ti.
Agora são portas fechadas e janelas abertas. E há frio que não corta a respiração mas já não há vestígios de ti. Antes, inundavas os espaços de ti. Deixavas o teu cheiro em qualquer lado e não te esqueciam o nome. Eu lembrava-te o olhar perdido, escolhia-te a roupa, avaliava-te o penteado e provava-te o sabor dos lábios. Lembro-me desses dias que nunca chegaram a utopias porque aconteceram lá, cá e noutro sítio qualquer. Não andei a decorar os nomes das ruas, porque me distraía contigo.  E agora tenho cada vez mais a certeza que não te amava. Estava completamente apaixonada por ti como tu julgaste estar por mim. Eu só amava a ideia que tinha de ti. Essa existência fingida que não chegaste a carregar nos bolsos, porque eras muito novo para saberes o que era o amor e todas as suas implicações.
Meu querido agora são portas fechadas e janelas abertas. E o teu cheiro já não passa em ar nenhum, nem nas frestas que restam nos estores durante a noite e que trazem o sol de manhã. Agora o que passa já não és tu, é o teu silêncio.



8 comentários:

  1. um amor de algo que pensas existir de ambas as partes e depois percebes que só de uma é onde existe ( nao sei se me faço entender ) onde o que dantes era TUDO agora e o nada sei o que é essa situação que falas nesse texto muito bom um bom fim de semana mariana

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  2. está muito bonito. de facto, amarmos as imagens que temos das pessoas pode ser perigoso porque os olhos por vezes atraiçoam-nos e quando reparámos tudo mudou e o que temos é nada

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  3. Nem mais Mariana, obrigada por essas palavras, querida :') <3*

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  4. Há amores que se perdem no tempo, que se misturam nas lembranças que ficam de um passado. O que é verdadeiro permanece e o que não é, dissipa-se na neblina do nosso viver. Há dias em que tudo parece cair, mas depois, depois o sol volta sempre a brilhar e isso sabe bem. Procura sempre o verdadeiro, vive o real, porque o resto são apenas aventuras efémeras que passam com uma grande rapidez.

    Gostei mesmo muito Mariana, um beijinho :)*

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  5. Há mesmo, e esta já lá vai há 7 anos e eu continuo a ter exactamente a mesma atitude sobre ela. Aliás, cada vez mais caio na realidade: ela nunca mais vai voltar.
    Muito obrigada minha linda :)
    Beijinhos enormes <3

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