maio 28, 2010
theatre
O teatro espreita pelas cortinas e ouve-nos. Todos ouvimos falar do teatro e ele sempre nos escutou com atenção. Os factos parecem mostrar o crescimento da margem que alberga a falta de motivação para o ouvirmos de novo. A paixão está a morrer. Parecemos ter esquecido o seu significado e ele fala-nos sempre para nos contar a sua história.
Ele nasceu para dar voz ao povo e para dar corpo ás histórias que os dramaturgos sonharam em tempos. Os dramaturgos sofreram com a separação do público e o facto é que a vida económica instável dos criadores do grande teatro do homem cresce à velocidade que o pano abre e fecha sem esperar pelas palmas que alimentaram o coração dos actores.
Observa um pequeno maneio que acompanhado de um jogo de luzes se torna numa farsa tão próxima da realidade. Não só se faz arte pelas notas da música e pelas mãos que seguram o pincel. A estética manifesta-se pelo movimento dos corpos, a ordem da fala que grita mais alto no resto do mundo. Tristes ficariam Shakespeare, Dantas ou Garrett por saberem que a alma lusitana se perde e denúncia a sua derrota no gosto pela arte teatral.
O teatro deve ser adulado porque graças a ele podemos fazer história com a própria História. Através da panóplia de emoções, da corrente de ideias que compõe o chão gasto do palco, nascem percepções do mundo que ficam nas paredes e nos bancos vazios que há poucos minutos escutavam o teatro a falar. A sala fechou.
O teatro ama o público. O teatro é destinado ao público. Prova disso são os monólogos interactivos que apelam à curiosidade dos indivíduos, e os levam a sentar-se para mais um espectáculo, que acaba com uma salva de palmas.
Um soslaio de ironia ou comédia curam o mal dos corações estrangeiros e é por isso que o teatro é arte. Ele faz-se a si próprio através do artista.
A verdade reside apenas nos teatros que já só enchem por admitirem falência nos bilhetes gratuitos que satisfazem a nossa vontade de ano para ano. Não obstante, ainda existe uma rodilha de esperança nas salas lisboetas que aplaudem O Rei Édipo por Diogo Infante ou Boa noite Mãe por Guida Maria e Sofia Alves.
A arte ainda se agarra às carteiras inocentes daqueles que sofrem do mal de amar e que hoje em dia tem um cura cada vez mais próxima. Desde então o teatro ganhou relevo. É possível dizer que o trouxemos para a vida e pudemos deixar as críticas de lado e mostrar que a vida tem muito para oferecer ao teatro. O teatro ainda tem um coração que bate. Lentamente mas bate.
E é com esta realidade que o teatro ainda se vai despedindo com emoções poucas, emoções doces que lembram aos que viveram no seu tempo que a sua memória é o melhor que este pode deixar. Ele deixa-nos relatos verdadeiros, escritos nos diários da história que remontam aos antigos e aos grandes fiéis da arte.
E sim, aplaudo o teatro, porque hoje ele faz anos.
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