novembro 29, 2012

porque afinal

às vezes acho que nunca me vou desabituar de ti. Que nunca vamos chegar a ser a coisa comum que éramos antes de nos amarmos. Mas agora sei que já não somos raros juntos. Que remotamente, daqui a algum tempo, vamos olhar para nós como nos olham agora de fora e vamos respirar normalmente. Vamos passar um pelo outro sem abastecer o coração de ânsias, sem tremer as pernas e sem engasgar-mo-nos com o ar da tensão que existe entre nós. Lá, nesse fundo, o tempo já não vai aleijar e já vamos ser capazes de passar mais longos minutos fora da existência um do outro. Lá, vai ser tudo mais fácil, mais normal, menos obsceno e confuso.
E quando nos abraçarmos, sorrir vai ser possível sem nos querermos agarrar mais que o permitido, sem que os ponteiros do relógio nos cerrem a audição lembrando-nos que amanhã pode não haver tempo para nos vermos, e beijarmos e amarmos. Amanhã pode ser impossível, ou podemos não ser capazes. Pode-nos fugir essa possibilidade do amor. Podemos esquecer como era quando nos amávamos e querer voltar atrás para recordar. E íamos deixar. O tempo ia deixar. Mas-lá- nesse futuro, já não nos vai custar. Vamos olhar-nos com amizade e o tempo já não vai ter quebras. A tua presença já vai ser mais confortável, porque já não vais ser tu o único oxigénio nesse ar.
O teu olhar e o teu sorriso já não vão estar ao despique de outro alguém, porque aí já não vai ser uma luta. Já saíste de dentro de mim. Já não vou ter que te reclamar. Já não vou ter que te recuperar, porque a nossa amizade nunca se vai perder. Aí nunca nos vamos perder. Não me vou morrer no teu pensamento, como muitas vezes antes o tinhas feito. É por essa mesma razão, que às vezes penso que nunca te vou desamar. Que nunca te vou ter numa zona segura. Contigo era um perigo constante. Era um risco saboroso. E nesse amor, que perturbava as almas calmas, nós éramos febris e dávamos pontapés nas impossibilidades dele mesmo.
Lá, vai ser seguro. Vai ser banal. Ao contrário do sol que te batia nas janelas de casa depois da madrugada que passávamos juntos e que detestava ir-se embora.
Mas, por enquanto, andamos para a frente e para trás. Porque ainda nos precisamos. Ainda nos aleijamos um sem o outro. E ainda há perigo por aí. Mantém-te por perto. Vai-te mantendo por perto.





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