agosto 07, 2011

tu que te escondes




Queria que soubesses sabes. Há muito tempo que os nós dos meus dedos estão avermelhados do esforço que ando a fazer. Não é por ti que o faço. Não é por mim. Nem é pelos estranhos. Eles merecem essa condição. Faço por todos aqueles a quem o coração se abre e a quem o medo não se exalta porque eu estou lá. Como as ondas do mar que não se interrogam da força do vento.É por todos eles que construo casas. Ao invés, tudo o que consigo fazer é construí-las e desaparecer para que o mundo não dê pela minha presença. Ando a passos de algodão. Nunca reparaste? Eu disse-te que não o fazia por ti. Às vezes esqueces-te que me lembro de tudo, que não esqueço nada. Que guardo tudo a quem não o faz. Guardo tudo, albergo tudo para quem não o quer fazer. Disseste-me tantas vezes que o fazias por mim e não vejo nada. Prometes-te tantas vezes que não me largavas a mão, que os nossos mundos se não separavam e agora corres na distância e eu quero chorar. Tenho pedras nos olhos. Dói-me o corpo. Dói-me a alma e doem-me as lágrimas. Estou cansada de correr e de não veres que preciso de tudo aquilo que não me tens dado. Não preciso que me ampares o ombro e me deixes morrer. Não preciso que me tragas mais para salvar. Estou cansada de habitar sem viver. Estou exausta do mundo. Deste mundo pelo menos. Dizem que és forte mas eu não preciso da tua garra. Dizem que és héroi mas eu não preciso dos teus actos heróicos, das tuas melodias que me fazem chorar. Das tuas fendas que me consomem e me iludem no escuro da noite. Sonhos já eu tenho muitos. Tenho-os desde que nasci e tive a percepção do que o mundo realmente era. Este era um lugar ao qual eu chamava de casa mas agora que olho, não vejo nada lúcido. Não te distinguo no meio da multidão. Dizes estar lá mas tudo o que vejo são chamas no lugar das pessoas. É triste. Costumava acreditar nas possibilidades e nos nascimentos. Para mim tudo nascia. Para mim tudo era vida e tu eras vida que partiu mais cedo. Eras uma içusão bem real. Uma ilusão estúpida que eu levava para todo o lado. E por isso me chamavam de imbecil. E por isso me gozavam na luz. Riam e eu ouvia o eco do riso nos rostos alegres. Agora és pó. Agora não existes. Desapareces-te. E então responde-me: se eu plantei as sementes, por que não posso colher eu os frutos? Responde-me. Eu venho sempre a horas como me pediste. Nunca falho um horário. Trago-te a minha alma e a sensatez do meu corpo e mesmo assim deixas-me sem palavras. Venho como pediste aos homens para virem. Eu nunca atiro a primeira pedra. Sei os erros que cometo. Sou tua filha e irmã dos outros e nunca me vês diferente. Sou a tua carne e nunca me tocas no escuro e no abismo.


Deixa-me viver. Só um bocadinho. Deixa-me ver as coisas que me prometeste em pequena e que agora se escondem por detrás da tua cortina. Deixa-me só espreitar. Deixa-me espreitar através dos óculos cor-de-rosa. Ela já me disse para o fazer. E eu quero. Eu escondo esta vontade que me arranha as paredes do músculo do coração. Mas tenho tanto medo de falhar. De perder o que conquistei. Dá-me só um dia para tudo ficar bem. Dá-me um pouco de ti só por um instante de vida para que eu possa abrir os braços de novo. Só te peço aquilo que os outros não querem. É dificil?


Não entro no cemitério por isso mesmo. Tu sabes onde é o meu lugar. Sabes onde pertenço e sabes as vezes que rezo por ti e te peço por todos aqueles que me curam e descuram o coração. Preciso de um pouco de carinho. Não quero partir sem Ver o mundo. Não quero partir sem Te ver.




Não quero partir sem achar que foste criado em vão. Nada acontece por acaso e se vieste para nos salvar, agarra-me os braços enquanto caio neste momento. Agarra-me. Eu espero por ti no salto.








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