janeiro 21, 2013

#7

[amanhã às dez vais para debaixo do chão, e eu ainda não sei como me despedir de ti. perdi essa força de contar com os dedos todos os dias para sermos felizes. vais lá para baixo e todos dizem que alcançamos o céu. o que é isso, o céu? amanhã às dez vais-te embora e eu não quer ir. quero ficar sem que sofras por ficarmos aqui sem ti. sim, porque esta gente parva que nós somos vamos andar a chorar porque em ti já ninguém te toca. o céu está cheio de corpos eu sei. mas como estava a dizer, amanhã às dez vais-te embora e com tanto para dizer nada cabe nas horas que me restam de hoje. já me perdi tantas vezes nas palavras, mas desta vez é grave. desta vez há mesmo um vazio grande cá dentro. desta vez ainda me doem os olhos desde a manhã e vai continuar até superar a tua morte de mim. até me sair o vazio todo para levar-te para a frente e esquecer-me do dia vinte e um. odeio janeiro e vou odiar até à morte. odeio-te a ti que morreste e nem me deixaste despedir de ti. odeio-me a mim que me esqueci de te telefonar a saber se estavas melhor. odeio o homem que te há-de enterrar no chão para sempre. odeio a chuva que vai cair enquanto te vais embora e o sol que nunca mais chega. odeio a vida porque trás a morte. odeio a vida porque me deu a ti e me tira de mim quando quis enquanto dormias. E amanhã enquanto dormes descansada às dez da manhã, vais-te embora e eu ainda não sei como me despedir de ti.]

6 comentários:

  1. O texto está magnífico Força!

    ResponderEliminar
  2. Força. Eu sei o que é, infelizmente. Mas é nestas alturas, que nos roubam o chão, que nos dão forças maiores. Força*
    E encontraste uma optima forma de te despedires. Escrevendo.

    ResponderEliminar
  3. Despedidas doem mas tem seus motivos.

    ResponderEliminar