setembro 25, 2011

ce n'est pas une chanson triste

Porque andamos nós a lutar? Porque andamos nós a parafrasear os carrascos para ganhar cargos que são tudo menos inocentes? A distância entre um abrigo seguro e um lar é pequena. A distância entre uma amizade cedida de amor e uma amizade acatrefada de ilusões e jogos de cedências é ínfima. Nós fazemos o chão que pisamos. Nós marcamos a frase no final do texto. Nós fazemos a noite estrelada e o beijo mágico que faz o corpo entrar em colapso. Nós fazemos a tristeza parecer divinal e o indevido sedutor. E quando nos apercebemos aonde fomos chegar gritamos de ira e arranhamos o corpo tentando aliviar o que não há para aliviar. A dor está lá. A dor consome-nos o corpo e não podemos dar-lhe um empurrão para trás. Tornamo-nos letárgicos e inúteis perante a calamidade emocional. Ele não era o que esperávamos. Ele formou-se com Mestrado em Imbecilidade Avançada e deixou-nos o trono despido das vestes. Mas perante isto o que há para fazer? Agarrarmo-nos aos gatos das vizinhas e encher a pança com chocolate? Mentir ao coração e jogar o jogo dos desistentes? É fácil deixarmo-nos ir. É fácil auto-comiserarmo-nos. É fácil cair no abismo e saborear a derrota. É mais fácil. É menos doloroso. Mas o pé tem de avançar. O corpo tem de se unir às coisas pequenas e dar um estalo à incerteza e à doença do amor. Porque no final de contas já não é amor. O amor não se transforma nisto, O amor não se revela esta podridão, pelo menos perante nós. Somos superiores a isso. Somos mais altos que isso. Somos grandes e não podemos tornar a alma invisivel. Não podemos estagnar e deixar o tempo esbofetear-nos o ego até nos transfigurarmo-nos em vegetais. O amor não é isto. O amor não é assim tão imbecil apesar de não ter formação superior. Não vale a pena debatermo-nos com políticas sentimentais. A distância é pouca. A linha é grossa. O limite está perto. Salta. Pula. Dá as cambalhotas que forem precisas até largar o sorriso estúpido com que o amor banal nos deixou. Salta mais alto. Aventura-te. Pula mais alto. Dá as cambalhotas que conseguires. Obriga-te a ser mais gente. Obriga-te a reagir perante a desilusão porque tudo se renova. Tudo se recompõe quando há outras chamas a iluminar. Isto não é uma canção triste Joana, istoé um retiro para a próxima etapa triunfal da tua vida. Força :) Mumford and sons-White Blank Page
A faísca passou. A luz intensa provocada pelo sorriso malandro escondeu-se por detrás da face de vidro. Fugiste como um rapaz assustado. Não apareceste até há poucos dias. Ficaste suspenso no tempo na entrada da minha casa. Sorriste abandonado. Fechado em sete copas. Detectei-te a vergonha nos lábios. O receio no corpo irto agarrado à porta. Será que chegaste mesmo a falar? Foste engolido pela circunstância. Desculpas não te faltaram e o tempo escorreu fluido durante a tarde até que me acolheste nos braços do teu arrependimento e me cantaste ao ouvido. É sempre isto que fazes. São sempre estas as tuas manhas. A tua profundidade teatral das emoções. Sequestraste os meus sentimentos. Não. Não foi um sequestro. Eu deixei-me levar e deixei-me abraçar pelos teus adereços. A tua pele quente que me consolava e endireitava de todas estas temporadas às avessas. Foste tu quem me alienou do resto. Foste tu quem me deitou na tua cama sem me pedir amor através da carne. Cuidaste de mim durante a jornada nupcial embebida nas minhas tristezas voluptuosas. Quelqu'un M'a Dit- Carla Bruni

setembro 24, 2011

Ma jeneusse

Voltei à minha forma. Não vamos falar de mediatismos e polémicas. A vida são três passos pequeninos em pés de lã. São fechares de olhos e criações de amor. Os artistas são doidos sim. Podem dizer que sim. Não teria graça de outra forma. Não estaria escrito nos registos se tal fosse uma mentira. Uma ilusão mergulhada no desespero comum. Um apelo à criatividade. Os artistas têm razão de ser. São de pedra dura e nascem de um ventre injectado com pneumonia emocional. Os artistas são pobres. Morrem em passeios de calçada e provavelmente sorriem e choram mais que a maioria do mortais. São sós mas cheios. São feios mas magníficos. Morrem pela arte. Morrem dentro da arte porque a arte os possuiu em vida e os salvou da morte dos comuns mortais. Eu compreendo tudo. Vejo tudo. Ouço tudo e guardo tudo. Filtro tudo e vou defecando certos sentimentos de vez em quando. Quando a maré baixa até a espuma desaparecer. Quando o gás acabou no candeeiro e quando o ticket expirou. Quando a terra é engolida pelo Sol. E aqui entram os artistas. Os lunáticos que nos salvam da pele dos leões quando o mundo se aglutina e encolhe como uma balão a esvaziar. Eles entram triunfantemente, descaradamente no meio do Outono paciente. Comos os esquilos que escondem as amêndoas no meio do arvoredo. Deixam e partem. Colocam o pé à frente e dançam com as palavras. Fingem os malditos. Aliciam e enganam com as palavras de inverno que congelam mas consolam na tristeza. Comovem com lágrimas quentes e salgadas. E partem rapidamente com o vento que corre de um lado para o outro. Eles são artistas. "Estão aqui para viver em voz alta". Por isso te digo que voltei à minha forma. Voltei para fingir de novo. Je suis retourné :) Ray Charles and Diana Krall-You don't know me

setembro 11, 2011

Olha como eles brilham para ti

E então virei a esquina ou pelo menos o que me pareceu ser ela. Desprendi-me da bagagem e apertei a lã do cachecol. Era um frio cortante. Era um frio que gelava o corpo e lacrimava os olhos de emoção. As luzes petrificavam. As luzes pairavam no ar e embebedavam o silêncio. Chamei-as. Chamei-as de luzes curativas e entrei dentro do café. Sentei-me comigo deixando espaço para o casaco e a indumentária restante. Reparei nas bonecas de neve que brincavam na porta a cada entrada e saida do estabelecimento. Esperei até que os sinos começassem a tocar na minha cabeça. Fiz muita força. Muita força interior até que fiz o pedido e despedi-me do mundo. Abri o caderno de capa antiga e peguei na caneta. O outono chegou com as palavras até àquela terra refastelada de sol e brisas. Virei numa esquina que me pareceu chorar as expressões faciais. Todos choravam a morte paciente e inquieta do mundo. A morte brutal dos sentimentos de todas as pessoas que giravam à minha volta. Uma gigante onda veio em direcção a mim e fui empurrada de novo. Jurei chocar contra a cadeira de madeira que me apoiava. Afastei o dorso das páginas tristes e abri os olhos. Levei a chávena de café quente à boca e suspirei de alívio. Foi mais uma história.

setembro 04, 2011

Um dia

De alma e coração é que fazemos as coisas devidas do coração. Com a alma cheia e uma chávena de café no bucho. É assim que se anda para a frente. Vou-te confessar que nunca sonhei com ladrões nem alibabás mas este mundo que dizem horrível satisfaz-me todos os dias. Não sonhei com a guerra nem nunca me quis aproximar do silêncio e da solidão. Nunca me quis arrastar por labirintos escuros e por casas alheias, mas é nesses sítios que nasce a obra. É nesses sítios que nasce a possibilidade do amor. É na dor que existimos nós. Eu não sonhei com infelicidade mas aprendi a vê-la com respeito. Nunca sabemos onde vamos tropeçar nela e ficar presos durante um tempo. Para a frente é que o caminho se faz.

setembro 01, 2011

Jupitus, o feiticeiro


Esta sou eu despida de medos. Esta sou eu a brava. Esta sou eu aquela que atravessa o porto com a certeza que estará do outro lado pouca maré, pouca raiva, pouca solidão.
Hoje senti o cheiro do meu perfume na écharpe e sorri. Sorri porque tive a certeza que a minha pele tem cheiro. Já consigo detectar-me e existir neste mundo de loucos e sábios. Este mundo de perdidos onde alguns se encontram e outros tropeçam num abismo de cobalto e safira. É engraçado que o amor se destrói a si próprio até nós lhe darmos um pequeno abanão e iluminarmos o escuro do músculo.
Quando não dizemos nada é porque a presença chega. Não te disse nada porque fiquei comovida com a tua presença. A minha cabeça bloqueou no momento em que percebi que estavas mesmo ali e eras real e estavas junto de mim. Não és um vislumbre. És uma presença. Metade da minha presença embriagada. Já julguei não pertencer a ninguém nem a nenhum sítio mas agora sei que desafiei a gravidade do amor e que sou alguém. Agora sei que existe mesmo uma porta vermelha em Nova Iorque por onde entrei e me apaixonei pelos livros engraxados pelos olhos sedentos das crianças. Não sou nenhuma criança mas sou-o. Sou uma criança que já não espera. O tempo de espera acabou. Vamos ser honestos. Não tenho que te prometer nada. Não tenho de te provar nada. Tenho apenas que me provar a mim mesma e admitir que existi. Que nasci de costas para o sol mas que agora tenho-o na palma da minha mão.