abril 25, 2014

25 de Abril

É manhã, dia 25 de Abril. Acordo cedo, não tenho aulas. Lá fora a paisagem derrete-se numa cor leitosa e ouço os pássaros, não há barulho. Pergunto ao meu pai o que fazia há quarenta anos atrás. Trabalhava na mercearia.
Eu acordo não mais cedo que as 08h00 e vou para a Universidade aprender coisas. Hoje está fechada para irmos às comemorações. Uma das professoras ontem perguntou se ouvíramos a TSF, e reparei que metade da turma a ignorara. Contou-nos que recebeu um cravo com a Visão. Não estavam caros os cravos? Mesmo assim, hoje vou a Lisboa. Avisto a professora no Largo do Carmo à espera do golpe que mudou uma nação.
Decoro o som dos gritos e as letras das canções. As palavras de Vasco Lourenço são verdadeiras. Os nossos aplausos também. Quando tento perceber porque não respiro no meio da multidão, é porque estamos todos juntos, não há tempo para pensar até à Rua António Maria Cardoso. Enfim respiro junto à PIDE. A água dos canteiros ladeia-nos os pés e todos temos cravos na lapela do casaco, nos cabelos, nas mãos e até nas malas.
Hoje estou de vermelho, sou mulher. Vem aí mais gente, gritando. Vem aí mais gente gritando e insistindo " 25 de Abril sempre!Fascismo nunca mais!". Eu repito com força.
Apeei-me junto a um dos carros das estações televisivas e vejo a figura do homem de câmera em cima do carro filmando as gente sempre a descer, e acumular-se junto à concentração. Eu estou sempre aqui, no meio.
Abril é hoje enquanto esperamos os rapazes dos tanques, as meninas de Odivelas e todos os que querem filmar e fotografar como eu. Vem o gigante carro verde e cantamos a Grândola Vila Morena. O Hino Nacional com a mão direita sob o lado esquerdo do peito, onde temos Abril no coração.
Hoje não há tempo para respirar. Estamos todos juntos.
A coroa chega. A coroa cheia de cravos vermelhos chega, e beijamo-la com hinos, gritos, fantasias! Hoje podemos falar!
Percebo que somos todos iguais.Recebo o sorriso de António Costa. O braço de Maria do Céu Guerra. Dezenas de jornalistas que olham para mim na gabardina vermelha e boina branca a cantar o hino com um metro e cinquenta de altura. Hoje posso falar.
Hoje podemos esperar que a cerimónia acabe e seguir o tanque que expele fumo lá atrás. A mulher que vende cravos coberta pela bandeira vai atrás como eu, e o carro aumenta a velocidade. Estamos todos nos mesmos sítios que existiam há quarenta anos atrás. Continuamos com alegria. Estou feliz.
O tanque aumenta a correria e desaparece na paisagem, e nós, o povo, Portugal vamos atrás.
Desembocamos no Arco da Rua Augusta. O Terreiro do Paço sorri. Há sol. Há vida. Há crianças empoleiradas nas varandas segurando flores vermelhas semelhantes à minha.
Hoje há liberdade!

Obrigada Abril!




2 comentários:

  1. "Vem o gigante carro verde e cantamos a Grândola Vila Morena. O Hino Nacional com a mão direita sob o lado esquerdo do peito, onde temos Abril no coração." Um hino à liberdade, um hino à beleza que é ser livre! Um viva a todos os cravos que trazemos ao peito!

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  2. Viva a Liberdade!
    Viva o 25 de Abril!
    Viva Portugal!

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