janeiro 17, 2012

o tesouro

Não há chuva que não molhe os parvos e os inteligentes. A chuva é brava. Queima a chama dos corpos que se apaixonam pelo retiro da água e das folhas. Há angústia, há tristeza e a solidão consome porque ninguém se atreve a ser melhor que ela. Ninguém se atreve a cair nos braços da chuva. Não há deleito, não há cor nas almas. E mesmo que o corpo precise de um toque e mesmo que o corpo precise de amor frio, amor rural, eles fogem, retraem-se na luz dos outros que são cegos. Os que não vêem a chuva. Os cegos bebem a chuva com os sentidos e vêem a felicidade no escuro, e não há chuva que não molhe conscientes e fazendeiros. A chuva só não molha os que se atrevem a beber a chuva. A chuva só não molha quem tem amor por ela. Ela inunda, escorre estúpida pela cidade e vivemos debaixo dela com medo, como se a chuva matasse e encolhesse o coração. Ela pára o movimento e raspa o chão da calçada e a calçada do chão deixando tudo vazio, deixando vazio o que já é vazio. A chuva só não molha a chuva que ama os humanos.

Sem comentários:

Enviar um comentário