Existem pessoas que sonham com soberbas vidas e sonhos pouco lúcidos. Outras vagueiam no tempo, quebrando paredes e solos inférteis da terra onde vivem. Enquanto a música toca, ouvidos cutículas de sentimentos a voar pelo ar e tomamos consciência de que a vida são mais que três dedos de pura consciência, de terapias mensais para quebrar o gelo das relações, terras inóspitas de pessoas perdidas. É mais que tudo isso. São grandes momentos que se tornam pequeninos à medida que somos esbofeteados pelo caminhar dos ponteiros do relógio e nos tornamos gente com real sentido. As nossas terras, as nossas vilas não são feitas de pessoas perdidas. Existe a senhora da mercearia que faz fiado aos clientes porque para ela são família. Do outro lado da rua moro eu, que nos verões tórridos da cidade me cubro com uma capa branco de renda antiga e carrego uma mochila castanha clara que transportas as tralhas de uma vida com sentido. Um caderno sujo com histórias carregadas de tinta permanente, um porta moedas de cabedal velho já gasto pelo uso, uma carteira com uma identidade desconhecida e tantas outros pertences que se juntam numa vida. Mais à frente encontro a florista que faz arranjos maravilhosos saídos de um campo com flores deslumbrantes. O senhor augusto que vende as melhores bolas de Berlim do mundo. A senhora do supermercado que tem sempre um sorriso rasgado sem desconfiar.
Sem demoras vêm de visita os restantes moradores da vila que aos domingos se enche de crianças a correr pelo parque antes de um almoço em família.
Existem vidas que têm sentido. Que partiram de um barriga desejada de uma mãe fora do comum. E quando for mãe vou colocar frascos de vidro para as especiarias na minha cozinha, vou pintar os armários com arame de galinha de branco e vou regar as plantas na janela.
Existem vidas que têm sentido e outras que simplesmente perdem o rumo porque a vida não teve tempo de lhes oferecer outra oportunidade.
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