novembro 26, 2011
A juventude das palavras
Há tristezas que me invadem o coração nas horas vagas. Para preencher o tempo, para incendiar os olhos de lágrimas que se desfazem nas manhãs. Tristezas que me consolam, que me deixam encostar o dorso na almofada e sonhar com novas coisas impossíveis. É um tordo que me afasta da realidade tropical com que me encheram no início de tudo. Quando cá chegou a terra já estava cheia de nódulos e cicatrizes e agora que tudo cai mais um pouco, o frio já não queima a pele. São os tons das faces a enrubescer e a rapariga a sorrir ao longe na floresta. São novas corridas e fôlegos despertos pelo movimento brusco que respira por nós. Existem tristezas que afogam a alma e me levantam do chão. Momentos de pura magia que eu não sei explicar.
Melodias estranhas que se infiltram na audição e o papel mancha-se ininterruptamente sobre a tinta que gira com o pincel na mão. Não são resfriados que se impõem na pele. Tudo desce e tudo desliza naturalmente. Não são bolas de fogo que atropelam os transeuntes. São homens e mulheres nuas que revelam os sentimentos viris. São folhas de cristal e céus enfeitiçados pelas bruxas que se apoderaram desta terra. Amores que encantam pelo próprio amor. O amor que não se destrói na chama acesa. Pequenos olhares que se quebram na desgraça e que voltam a ser emoção e que se cobrem de mantos felizes. Dedos que deslizam na imensidão de tempo que cai lá fora sem eu dar por ela. Como se o vidro parasse o relógio e as paredes me atropelassem o corpo. Vultos que compreendem a luz pequena que ilumina a escuridão e os lagos que continuam cheios de vida, de água a correr pela floresta. É uma floresta viva que se enche rapidamente de flores e animais. Um cenário catastrófico para a sociedade. Um arco-íris divinal para um escritor.
É isto que eu sinto. É isto que não me incomoda e me tira o sono alegremente. Que me quebra o esmalte das unhas e me seca os lábios de incerteza. São estas as noites que perco para ganhar novos dias. São os sonhos que me invadem para dar novos às personagens. Ondas de calor no peito e realização desconhecida. São pétalas salgadas que se renovam no rosto e pontos de luz intermitentes que se fixam no fundo do cenário.
Não há labirintos sós. Não há escadas direitas nem caminhos fáceis. Estradas redondas e casas velhas que se riem da ignorância que a cidade carrega com ela ao colo. Actos insignificantes que se tornam ironia no pranto da noite. Faces cadavéricas e olhos secos pelo vento agreste. Corpos vacilantes que se entopem de tristezas voluptuosas como em tempos foi o tempo para mim.
O tempo agora é outro. O tempo agora não é tempo. D eixou de ser ele tempo para ser O tempo que eu conheço.
novembro 24, 2011
Tiras do teu sangue para dar ao meu
És o meu luar. És o tom escuro que me fugiu dos olhos. Ás vezes quando a noite embala todas as luzes da cidade, eu olho pelos vidros da janela, para lá do reflexo que se fixa na transparência do vidro unido há uma imagem querida que me aparece, que rasga o céu e se fixa bem na berma da perna da Lua quando ela se deita para o lado esquerdo. És tu quem me aparece nos sonhos e vem ter comigo. Corres-me nas veias e apesar de batalhar o coração para que tudo seja menos real, menos físico, é o teu toque que disperta a atenção dos sentidos. Já reconheço o teu odor nas árvores quando ando pela rua. As folhas de Outono já rastejam por aí e nem parece que o Inverno está para chegar. Se fechar os olhos há uma melodia de um violino que segue o caminho das estrelas como balões de ar quente que sobem pelos céus.
É ali bem no alto que te reconheço o rosto. Não és nenhuma invenção. Ninguém te criou como texto para exposição. Nasceste de um ventre querido e enches-me a vida de pulsadas de ar fresco.
Para lá do mar, onde as ondas já não batem com a mesma força, as vozes cantam em uníssono. É um piar baixinho que me persegue durante os sonhos. O teu sangue corre-me no corpo e já te sinto falta nas mais pequenas coisas. É na escuridão que me apareces como uma vela acesa. É nas fissuras das pedras da calçada que imagino os teus passos e a tua mão a abraçar a minha. São as fadas e os duendes que se fazem passar por ti, quando as rezas me trazem sorte. Eu vejo o pôr-do-sol e imagino o horizonte de outro país contigo.
Eu vejo as areias e as palmeiras de outros destinos dentro dos teus lábios. É neles que o sabor dos incensos se acumula e transforma em coisas doces. É a tua respiração que me acalma a estranheza do frio da estação e a tua mão a deslizar-me nos ombros por dentro das vestes. São as palavras sussurradas que eu levo para casa e que se desfazem em lágrimas quando chego ao comboio no passeio que faço todos os dias.
Eu trago-te e levo-te no coração todos os dias como as ondas dos oceanos. Eu cuido de ti como cuidas de mim. Do meu coração que nasceu pobre. És a minha decência e consciência. És a melhor parte que nasceu dentro de mim. A alma que veio dentro dos meus traços, das minhas formas. Eu sou um corpo que vive com a tua alma agarrada a mim.
És-me.
novembro 22, 2011
encontrámos o caminho livre e não uma fortaleza
There are lives that were never born. Their souls remain on earth surrounding others, but the bodies gave up hope. Their flesh went on to another place and the meaning of life turns into nothing.
There are lives that were cut into pieces and fell off of a cliff. The wind brought them to a place where someone speaks, someone has a voice and someone creates a new sign that has never been seen before.
There is a light that shines upon a dista
nce. A green, a blue, a shadow of pink that colors another life.
novembro 09, 2011
minha Juca
Há mulheres que crescem nos grandes gestos e há mulheres que adormecem no tempo depois de terem sido espancadas pela vida. Eu vejo-te como o ouro escondido nas minas. O ouro submisso e calmo que pelas mãos de outros sobe até à terra e vê o Sol.
Há muito tempo que o inverno habita ai nesse teu coração, mas se quiseres arrisca um pouco e vais ver que no meio das pequenas escuridões, espreita sempre um feixe de luz. A vida bate-nos com força e amachuca-nos o corpo e à medida que o tempo passa as flores parecem diminuir de tamanho e chorar de raiva em vez de brotarem do húmus e viverem infinitamente.
Eu não te conheço muito por dentro, conheço-te a face, os olhos cor de peixes verdes e esse sorriso que já embalou muitas almas. Já deves ter mergulhado bem fundo e tudo o que vês pela janela deve ser bem mais triste do que há uns tempos atrás, mas sabes que mais? Quando plantamos sementes cresce sempre alguma coisa dessa acção e por mais forte que o embate tenha sido a árvore que nasceu dele és tu. É a tua força que se mostra. Tem flores bonitas, tímidas, mas flores que extravasam a luz do sol e que têm esperança.
Tu és o teu nome. Tu és a tua alma que te define todos os dias. És a casa que trazes contigo, e apesar de teres a mobília desarrumada, com o tempo o pó vai desaparecendo e os homens das mudanças irão vir para ajudar. Eu estarei aqui para te ajudar.
O inverno está cá mas a Primavera também há-de chegar, e eu quero que ela chegue rápido porque és mais bonita quando as flores crescem e o sol brilha. Enquanto elas estiverem debaixo do chão a minha mão anda para a frente mais um pouco na tua direcção. O ouro está próximo do ponto final.
Nunca deixes que te desonrem o corpo, a casa e a família. És uma só. E és uma com grande valor.
Nunca te percas dos teus ideais. Sê apenas,
Mary
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