junho 19, 2011

how to build a home



Um clarão azul trespassou pela janela e relembrou-me que a vida é dura demais para perdemos o amor da carne e da alma. Por todos os rasgões que a pele sofreu o corpo parou e o coração estagnou no tempo. Eu queria fugir e correr incessantemente até atingir a sofridão máxima de uma vida repleta de desilusões. As paredes estalavam ao som dos canhões e labaredas de fogo que engoliam as casas e os sorrisos traquinas que ainda voavam nos escombros das cinzas. Pessoas gritavam e gemiam de um medo tenebroso que as consumia a toda a hora. Sentiam-se invadidas de um sentimento leproso e pouco risonho. A alegria tinha emigrado para um sul bem distante. Bem longínquo da terra calorosa com casas junto ao mar. Eu vivia numa dessas casas. Uma casa que tinha sido construída sem saberem bem como a construir. Fora elaborada através de braços fracos, mentes fechadas e famílias separadas. Nessa casa, reinava a escuridão e as paredes tingidas de tristeza gozavam de vida causta e estéril. Ninguém falava. Os corpos petrificados retiam as lágrimas que gelavam com o frio de inverno.



Quando a luz do sol trespassou umas das janelas da sala principal, um sentimento novo tornou-os iguais e algumas flores brotaram do lado de fora da casa. As paredes despiram o castanho e do chão foram varridas todas as dores.
Um aceno leve trouxe-lhes de novo a esperança e um som calmo do piano deu à luz a harmonia. Duas mãos ligadas, dois sorrisos mostrados, dois abraços partilhados e uma vida nova que nasceu.

Foi assim que essa casa se contruiu. É assim que se constrói um lar.





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