março 28, 2010

diz-me que não é tudo


O mundo abastado como é parece ter saido de uma raíz de cacto, algures no deserto de um planeta longínquo. Pelo menos é assim que o gosto de chamar. Não gosto de admirar as coisas porque tem de ser; aliás, existem momentos em que gosto de fazê-lo porque gosto de contradizer o resto dos indivíduos. Gosto. Mas a verdadeira razão vem de dentro. Sim, essa vem por causa do Amor. É muito dificil de explicar como se fosse uma coisa natural de se ver e ouvir, e sussurrar em momentos de segredos envolvidos numa panóplia de emoções ardentes que destroem a fragilidade do mundo.

Essa paixão que comove os pequenos, e as coisas pequenas que se comovem com o mundo já deixou o rasto há muito tempo atrás. É assim que definimos as estratégias para avançar no futuro. Esqueçer tudo o que ficou para trás; e eu não sei bem como fico no meio deste enredo em que me puxam os cabelos e me arranham a face e me gritam a todo o instante que tenho de fazer algo por toda a gente. Hei-de fazê-lo com o tempo. Mas já não estamos na era de surpreender como se fazia antigamente. Como faziam os gregos, os romanos e os portugueses, no tempo de serem gente gloriosa. Mais tarde vieram mais heróis que se perderam nos livros. Já não estamos no tempo de surpreender para chocar o país. Não da mesma forma como o faziam os demais aventureiros, que tinham sonhos durante a noite e preconizavam feitiçarias na imaginação do povo.

Sim. É triste. Sim. É dificil imaginar-me e dói cá dentro. Dói de pensar que fugir era importante, e que quebrar o padrão original fazia gosto aos arrependidos. A chama arde quase sem fôlego e nós continuamos parados, à espera que o Sol desça e se incorpore no cérebro, e diga que é preciso acreditar em Deus, e em futuro.

Imagino-me realizada, naqueles sonhos de pequena, mas nessa altura imaginava um mundo a verde, onde as casas caidas de sujo velho e que cheiravam a alegria, borrifavam as ruas de simplicidade e valores tradicionais. Não sei mais o que fazer. Às vezes dá-me um aperto no coração de pensar que é difícil fazer o que gostaria de fazer, ao ritmo que eu quiser, com quem eu quiser e no espaço que eu quiser. O mundo não me deixa. Não me traz o que é preciso para viver como eu gostava. Eu gosto de tantas coisas ao mesmo tempo que chego a rasgar o chão e o tecto de esperança infantil.

Talvez mais tarde, quando tudo desparecer. Quando o tempo das histórias desaparecer e quando os monstros e as fantasias deixarem de existir, eu estarei à espera de um passo à frente. Quando não houver tinta e papel. Quando as bailarinas perderem o fôlego e os teatros fecharem para férias, eu estarei livre, Porque aí saberei que estou morta e estarei realizada ao lado de quem me ama. Deus.

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