Ás vezes imagino-te estendido ao fundo do corredor, como uma estátua grega antiga, com os olhos amparados na janela à espera que eu chegasse. Imagino-te quieto, calado, sem palavras que te preencham a boca. Eu avanço e perco a noção das horas. Há muito tempo que quero que as paredes caiam e tudo se transforme num lugar bem melhor. Algo melhor. Tal e qual á nossa medida. Á medida dos nossos sonhos.
Queria-te junto à entrada à minha espera, queria que me contasses tudo, sem escapar todas as emoções que deviam ser nossas. Sinto arrepios no corpo, como quando ouvimos mil e uma vozes em unísseno dentro de uma Igreja em silêncio. Com os nossos corações em silêncio, apenas os gestos.
Queria-te presente, vivo, como se nos conhecêssemos há anos, como o rasgar da luz do Sol pelas arestas do corredor.
Queria-te e espero-te ainda num destes dias que poderá vir. Não me quebres a esperança. Alimenta-me apenas esta hipótese e serei filha da nossa verdade para sempre. Não te custa nada, já reparaste? Apenas moves os olhos na minha direcção e percebes que tudo o resto fugiu com o vento. Sabe bem saber que um dia vou conhecer o teu abraço. Como o calafrio que vem com a tempestade de chuva que se aproxima, à qual nós escaparemos para dentro de um sítio quente, onde me contarás mil e uma histórias dos tempos antigos, dos teus preferidos e do futuro que nunca virá.
Eu imagino-te e espero que me encontres e me digas que afinal nos encontramos num sítio fresco onde os nossos lábios se movem ao sabor da brisa que amolece as pétalas das flores que dançam ao som do piar dos pássaros.
Eu ainda imagino.