fevereiro 28, 2014

Como se sobe sem cair pelo menos uma vez?

fevereiro 27, 2014

...depois vamos lembrar-nos dos anos que passaram, e recordar que há vários niveis de dor. Aquela que aponta para o receio do futuro é mais pequena. Com a idade aprendemos a resistir.

fevereiro 26, 2014

começou tudo com Kaldi.

fevereiro 25, 2014

O americano estava fora e por isso ela dirigiu-se à pequena estação de correios. No Cairo todos os locais pareciam pequenos e rudimentares. Possuíam uma dotrina artesanal espectacular que a mulher só captava durante as tardes. Redigiu a carta e desenterrou o papel com a morada dele de modo a entregar o envelope ao empregado sonolento que estava ao balcão.
Viver num deserto de areia era, para ela, uma experiência primária de solidão boa e com sabor a fuligem.



fevereiro 24, 2014

Ao vê-lo ali na esquina sob o suave efeito da queimadura do sol, reparei que a praça se esvaziava com o fim da tarde. Não, as cores eram as mesmas de ontem, e no entanto, com mais diferença, o tom a rugir.
Ele estava num país diferente, eu tinha regressado a casa.
Nesse mesmo instante, depois de gravar o rosto dele a olhar as especiarias, voltaria pelo mesmo caminho, onde os autocarros dos turistas passavam, e retornaria a casa fechando a porta de modo a abraçar a noite.
Não doeria.
Faria sentido.


 Uns, por uma parte do mundo viajam, enquanto noutra a realidade continua a desabar.




fevereiro 22, 2014


Na tua ausência fiquei a ouvir os cânticos na Praça da Independência ucraniana. Já era noite.

fevereiro 21, 2014

Jorge de Sena

O corpo não espera. Não. Por  nós
ou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimentos vãos;
este pousar em que não estamos nós,
mas uma sede, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo
o corpo que não espera; este pousar
que não conhece, nada vê, nem nada
ousa temer no seu temor agudo...

Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.

fevereiro 20, 2014

Estamos vivos enquanto os outros se lembrarem de nós.

fevereiro 19, 2014


#2

No ir é que está a riqueza. O carris produz sempre uma sensação viva para quem acompanha a vida dentro do vagão.

#1

O encontro fortuito deu-se nos jardins da Gulbenkian. Nunca pensei apaixonar-me pelas plantas desta maneira.

fevereiro 15, 2014

A loja das meias e a cruz de caravaca.
No meio de tantas concretizações realizamos sempre que há alguma coisa que se mantém em silêncio, mas essa é a parte fraca de quem é humano.


fevereiro 13, 2014

Irmãs de Sangue

Hoje com a pasta da faculdade cheia de folhas velhas para aproveitar em cima da mesa pensei nas irmãs de sangue.
Reflecti sobre a casa limpa há minutos atrás, antes de mergulhar na enciclopédia para uma pesquisa rápida. Era a melhor forma de contrabalançar o nevoeiro. A divisão protegida, as palavras só para abraçar.
As novidades literárias e jornalísticas.
Passou essa nuvem de branco, quando adormeci no sofá.


fevereiro 08, 2014

Não estiveste no bar com música de anos 80. Não estiveste nas mesas do casino onde a luz esbatida nos copos das bebidas jorrava sobre o líquido alcóolico. Não estiveste no carro em frente à praia, ao mar revoltado, à música de Pedro Abrunhosa. Não estiveste nesse memento.

fevereiro 06, 2014

rotinas

Acordar, ligar a televisão, ouvir as notícias, os lençóis quentes da cama, a lã à volta do corpo, um chá de frutos vermelhos, um filme a meio da tarde. A chuva que continua lá fora, mas cá dentro não incomoda.






Há uns minutos vi um pai enterrar um filho. Mesmo que ficcionalmente, percebi que não sou imune ao sentimento fraco que um pai sente por um filho quando ele jaz morto no chão, na terra, na cova feita por ele. Isto leva-me a pensar que até os humanos mais diabólicos de todos trazem qualquer coisa no espaço que seria ocupado pelo coração. Qualquer coisa já não é nada. É um halo que traz memória e que ocupa um ínfimo espaço.
            Quem somos nós senão bocados de espaço que tentamos preencher cada vez mais? Há um conjunto de anos que não pensava nestas questões. Atrás, nesse tempo, eu via árvores e não pensava. Eu abraçava sem pensar, outro espaço. Hoje abraço e sinto que não me quero ver livre disso. Dos beijos, da terra, das árvores, do ar. Não me quero separar do som, do toque, da sensação. Quero aproximar-me desses sentimentos tão primitivos e naturais que reconheço até nos inimigos.
            Ponho a música a tocar, ajuda a não pensar, a deixar as palavras fluir. Somos todo um conjunto de espaço que queremos cada vez mais encher. Com o quê? Eu só vejo a resposta nos sentimentos e emoções. Quero que cada vez mais fique sem palavras, e colecione o choro e a gargalhada. Quero que me tirem o espaço para falar. Quero apenas a porção que exige o batimento do coração e do sangue a fluir na pele. Se ele bater, é sinal que estou viva, que há uma missão. Reconhecer que somos todos iguais, ainda que diferentes. Quem és tu senão igual, menor, ou maior na mesma porção que eu?

            Sê bem-vindo. 

fevereiro 05, 2014

Sim, admito

...és como os comboios, e esta noite sonhei contigo. Vi que estávamos embrulhados na mesma manta em frente ao mar. Não tinha medo. Para quê ter medo quando nos abraçamos? Sei que rosto tinhas, o cheiro da pele que não podia confundir com mais nenhum. Recordo-me da paisagem que está fora da janela do comboio dos teus olhos.
O carris é lento, tal como o amor.
Há alguma possibilidade de fazermos amor sem mais nada a existir? Apenas o cheiro, a convulsão.
Estou viciada no teu cheiro. Não na cor, mas na sensação. 
É aí que tudo se cala.

fevereiro 04, 2014

«Todas as mudanças sociais provêm da paixão dos indivíduos.»


fevereiro 02, 2014

A miúda de saia no jardim do palácio


Quando saí do supermercado observei a banca dos jornais. Parei, para olhar as capas e as diferentes imagens. Estaquei com a imagem do bloco de madeira a travar os jornais que poderiam fugir com a força da ventania a cada abertura das portas.
Lembrei-me que a vida podia ser boa, só a observar jornais.


fevereiro 01, 2014

Naked as we came

Comprei uma máquina fotográfica descartável. Tenho 27 oportunidades. Visto a camisola do meu pai, que contém perfume de homem. Visto a camisola cinzenta do meu pai enquanto ele foi trabalhar.
Começo a pensar na primeira fotografia. Aquela da rapariga de gabardine vermelha em frente ao Arco da Rua Augusta.