junho 30, 2013

Apercebi-me de que não poderia ser Helen nem os seus cabelos negros e os seus fatos dos anos 50. Teria de ser eu, inevitavelmente eu, com os meus caracóis amendoados e estatura pequena.

junho 29, 2013

Achava que estava apaixonada. Que essa bola de neve lhe atingira de novo o estômago. Por isso dirigiu-se à livraria e comungou no meio dos livros. Deixou-se acreditar por todas as teorias de amor que vinham nos livros. Deixou-lhe uma mensagem, e regressou a casa depois de ter feito a digestão literária.


junho 27, 2013

Esta Helen era ligeiramente diferente. De olhos verdes e cabelos loiros pálidos. Trazia um vestido de algodão às rias e robustez nas sandálias de vela.
Esta Helen tinha a pronúncia da Húngria e as formas de Sófia.


Planeei o meu futuro numa noite pesada de verão junto à ravina de S. Pedro.  Decidi sobre o leito da lua que ia escrever. Seguir os trilhos dos que percorriam a vida com insónias.
Decidi descalçar-me e ser Elena, e todas aquelas mulheres dos Cárpatos. Todas as que carregavam dores no corpo. As mulheres nuas. As mulheres novas. As velhas que desejavam ser novas. As que não desejavam nada e as que simplesmente desejavam. As que perdiam o sono em camas desarrumadas. As que faziam amor com a liberdade das suas almas. As que eram sensuais na escrita, no olhar, nos ossos da clavícula, no hesitar dos seus vales carnudos perante o beijo dos homens. As mulheres que pegavam em armas e cartazes e matavam. As que expurgavam a fome das famílias. As que procriavam.
Quis ser daquelas mulheres sem lugar. Quis ser daquelas mulheres sem roupa, sem vergonha, apenas com glória e história.
A nudez iria dar frutos no futuro distante mas próximo.

junho 26, 2013

Fiz amor com ele num quarto de hotel em Istambul. Despimos as roupas sob o ar condicionado do quarto e amá-mo-nos enquanto o sol ia descendo pelas frestas da janela. Depois jantámos na praça  e rimo-nos um do outro.




junho 25, 2013

é nestes dias de saturação que gosto de abraçar o mar. E a partir de amanhã vou poder fazê-lo sempre que quiser. Abraçar-me em água salgada. Memorizar o horizonte com o olhar. Recordar-me da imensidão de vida que existe e de que me esqueço no resto dos dias. Há uma solidão no mar que só existe no verão. Quando o calor satura o corpo. Quando o mar é a única solução.


junho 24, 2013

Começarei um diário como Nina começou nos termos da partida de Jonathan para os Cárpatos.
Hoje ninguém parte de mim, mas gosto de imaginar que sim.


junho 23, 2013

Quando eram 02h25 da manhã fui lá fora fechar as portas da casinha abertas pelo vento. O terraço estava banhado em luz branca, daquela lunarr, e quando dirigi o olhar para o céu a lua estava tão perto como nunca esteve. Não tive medo. Sorri.


junho 22, 2013

"nunca sonhei como queria ser amada".


Tuareg

ontem balbuciei algumas palavras enquanto inpirava o ar adocicado da coca-cola do fumo da grande chicha indiano. Entrei no salão multicolor de tons beje e sombra importante. Pensei em Mr. Florescu. Em Villa Le Sapin. Na carta do correio. Na carta a navegar por França. No meu futuro através da carta. E depois, lentamente, enquanto os meus sentidos se aborreceram no sono, pensei em Sequeira e na história do vinho. Pensei na conclusão do tratado da força durante a tarde. Ontem depois de mergulhar na Índia, imaginei que pudesse ser bordeaux e tijolo para sempre.


junho 21, 2013

Gosto de coisas velhas. Gosto do vaso de Alcobaça que ofereceram à minha mãe. Da secretária do palácio de Belém que tem mais de cem velas de aniversário. Da Pastelaria Versailles ondi li durante umas semanas "O segredo dos pássaros" de Vitor Serpa.
Gosto do Café Companhía que vende infusões de todos os cantos do mundo. Do café da "Primavera" que existe há quase um século.
Gosto da adega abandonada ao fundo da minha rua que foi mãe de milhares de garrafas do melhor vinho generoso de Carcavelos.
Gosto de Raúl Ferreira e dos seus passeios de coche pela quinta e a idas a cavalo das suas netas. Gosto do senhor que lancha todas as tardes no mesmo café que eu e não tem controlo sobre as mãos.
Gosto de uma psicóloga que trabalha há mais de vinte anos numa prisão. Faltam-lhe uns miolos.
Gosto do sorriso da minha tia. Das veias das mãos da minha tia. Do abraço do meu tio. Dos seus mais de setenta anos.
Gosto da minha avó sem dentes. Do bebé da minha melhor amiga.
De historiadores. Gosto de escritores.

Gosto também de ti, que me lês e logo te tornas velho.


junho 20, 2013

Às vezes penso mesmo se terei fibra para escrever. Se terei a atitude inóspita de um académico e nutrirei o espírito competitio que vejo nas universidades. É que não quero estudar para agradar. Eu vim estudar para escrever. Para poder dizer que estudei entre os melhores. Nunca quis ser a melhor. Só quis ter o sabor dos outros meios. No entanto há uma mágoa que não deixa de me corroer que é a do esforço involuntário. A decepção de uma luta que não vingou, e a maior de todas é a universitária no momento em que vivemos. Hoje não se estuda para aprender. Estuda-se para competir.

Às vezes o silêncio é o maior protesto de todos


junho 18, 2013

Também eu terei nesse dia de verão inacabado numa igreja semelhante a uma bizantina da Grécia um casamento de sal. E terei um pastor a unir-me com a melhor metade de portugal.

junho 17, 2013

Reconheço em todas as mulheres um vale de cores rosadas. Umas claras semelhantes à Primavera, outras uma explosão de vermelho arterial que lembra o verão. Essas montanhas são os seus lábios.


junho 16, 2013

Há muitos meses conheci o homem que honrava Berlioz. Parodiava sorrisos e de repente ao longe comecei a vê-lo. Na estrada para a praia. No poste de electricidade num campo cheio de trigo. Na confusão de ondas de uma fogueira na praia. Na chuva que cai de cima em outonos tristes.
Conheci o André vestido de orvalho. Esse homem tão parecido com a madeira. Com continentes nos braços. Aí nessa imensidão que tens nos olhos só habita vegetação. Comecei a sentir tornados na barriga. A perceber que a estrada também é a minha predilecção. Que ele era o caminho da liberdade, por isso digo que há uns meses conheci o homem que honrava Berlioz. O seu semblante gemia com notas de ópera voraz.


junho 15, 2013

Quando estamos próximos dos nossos sonhos, é fácil sorrir.


junho 14, 2013

Hoje provei o mar.

junho 13, 2013

O meu verão será um almoço no quintal da casa dos meus tios. Um tomate com sal e oregãos sob o sol ardente da praia. Um livro protegido pela sombra de um chapéu de verga. Um abraço do vento no campo de seara clara. Um vestido de algodão. Pés descalços. História a ferver.

junho 12, 2013

Hoje de fita de renda na cabeça calcei as paredes do sol, enquanto pisava a pedra macia e fria de uma Igreja da Transilvânia. É que um livro, é mais que uma viagem.


junho 11, 2013

Não me reconheço no agora de hoje. Reconheço-me e encontro-me no agora do antes. Lá onde o púlpito do homem se arregalava perante a verdade.

junho 09, 2013

As pessoas exigentes com o café não o são com tudo. No meu caso partilho apenas a exigência com a escrita. É que vivo dela.


junho 07, 2013

rouge

No filme francês a estudante universitária de Genebra guardava o segredo da traição da mulher do juiz reformado.

junho 04, 2013

gosto de fruta porque ela sabe aos lugares mais bonitos da terra. A minas de ouro australianas.

junho 01, 2013

Cathy é a heroína mais egoísta de toda a literatura.