Querida Ega,
Recordo-me agora que te escrevi
anteriormente numa noite algures desequilibrada. Confessei-te que poderia estar
apaixonada por um rapaz, e tu, sendo minha oblíqua, reparaste na evidência. Mas
a verdade, Mariana, é que nunca poderia gostar de alguém que não pudesse chamar
de casa.
Temo que em todos os traços dele,
ele não se assemelhe a uma casa, mas um precipício. Sabeis muito bem como
sempre fui alterada pelo amor. Como sempre comparei as pessoas a quadros. Já te
contei a história do quadro de Salomé, mas agora passado dias, escrevo-te para
te descansar o coração. Escrevo-te directamente de uma noite que se encerrará
na almofada, para te alertar do meu desvio amoroso.
Tenho-te relatado as minhas
peripécias amorosas que têm acontecido a alguns quilómetros daqui, e também,
como não poderia deixar de ser, no meu pensamento.
Hoje aprendi que a esperança é a
melhor coisa que podemos ter. Por isso não sofro com a nossa ausência. É esse
postal de Barcelos que guardo agora com carinho, apercebendo-me de que o castelo
que vês é o teu forte, tal como o meu é o rio, e as nuvens.
Escrevo-te algures anestesiada pelo
carinho de alguém. Pelos textos de Aquilino Ribeiro. Sabes? Descobri esse
modernista numa reportagem e agora não o consigo esquecer. Já só quero penetrar
na sua aldeia e escrever sobre os pássaros.
Mesmo que não acredite em Deus,
acredito nas palavras. E essas têm mais amor que qualquer outra coisa.
Do teu sempre querido,
Carlos
ADOREI !
ResponderEliminarQue lindo!
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