Disseram-me que o dono se chamava Ferro, e a mulher desconfio que seria Adelaide.
Não tem flores como a jarra que tenho no quarto. Está escuro do pó e as janelas partidas. O portão fechado. As paredes divorciadas. O terreno abandonado.
Eu não sei quem o perdeu. Quem largou o nº 17 naquelas condições, mas posso lembrar-me com exactidão, se fechar bem os olhos, de uma Primavera em 1920 naquela oficina.
Nessa altura ainda os carros não apareciam por lá. Estimavam-se as lãs naquelas máquinas e os candeeiros velhinhos ainda eram solteiros na altura que a Adelaide usava vestidos.
Conheceu o Ferro durante a noite quando ainda não havia perigo. Conheceu-o, a esse marido, quando isto tudo não era nada.
Quando a terra ainda nos queria dar alguma coisa, como o vinho. Adelaide fazia amor repetidamente nas colchas então casadas com o marido e depois casaram-se.
Hoje o nº 17 de portão azul é um vazio. Está à berma da estrada e chora.
O nº 17 morreu. Amanhã sonho ir lá e ser capaz de o assaltar.
Talvez pinta as paredes, devolvo uns candeeiros e lá deixo a história da Adelaide com o Ferro.
Quando abrir portas, haverá lã para todos. Camas para todos, e o 17 já não vai chorar. Duas mãos de tinta e um portão azul novo.
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