Há uns dias tive um sonho. Já não era criança.
Tenho a certeza que carregava o peso da idade nos ombros, mas o da cidade
estava espalhado nos outros, que não tinham sorriso. Nos sonhos em que as irmãs
entram, as de sangue, há uma Lua que nunca é cosmopolita. O céu é sempre
solidário com as estrelas. Creio que este sonho apareceu num livro escrito por
duas irmãs francesas, mas é meu.
Nessa noite que podia ser noite de canções, porque
as árvores se agitavam apenas pela respiração leve do vento, nós estávamos
estacionadas em vários pontos da propriedade. Eu talvez sonhava com um texto.
Sim, isso, um texto com palavras. As outras andavam algures pela terra batida,
e dentro de alguma divisão da casa segurando um copo de vinho, saboreando os
últimos eventos.
Algo troçou do nosso destino, depois daquele
embuste. Acho que nos perdemos um dos outros, porque apesar de não sofrer
nenhuma pancada na cabeça, vi fogo e uma expressão de desespero no rosto de uma
delas. Chorei porque calculei que a vida delas se pudesse perder, com a mesma
intensidade de alguém que ama alguém com os ossos, com a carne que tem.
Depois começou realmente a canção. Já os teus dedos
percorriam a minha testa suada, e percebi que era um sonho. Continuava a não
ser criança. Já não regressava à posição de resgate. Estavas ali.
Sonhos que assombram as noite, as quais deviam ser aproveitadas para dizer aquilo que não podemos dizer a nós mesmas, na escuridão onde não nos encontramos, onde não sabemos se crianças ou adultos, ou algo no meio.
ResponderEliminarUm beijo de bom dia. Acorda de onde te inseres. O dia te ilumine.
Os teus textos são uma delícia, usas as palavras como ninguém. Adorei :)
ResponderEliminarHá sonhos que nos afligem. E, nesses casos, o verdadeiro sonho começa quando acordamos.
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