outubro 03, 2012

47.

Ontem lembrei-me do terraço. Hoje lembrei-de do terraço ao acordar.
Há algum tempo que me lembro do Terraço Raquel. Da altura do prédio e da distância da praia. Lembro-me tão bem de sorrir para o ar enquanto o calor nos suava os dedos.
Lembro-me dele assim, como uma visão. Leite-creme e rosas perfumadas era a nossa combinação dessa tarde.
Lembro-me do intervalo do meu ombro e do pescoço preenchido pelo queixo dele e da voz suave no meu ouvido.
A cintura pressionada pelo corpo dele, e este a ferver de paixão de mim enquanto me abraçava.
Não estávamos ali Raquel. Nunca estávamos ao pé de ninguém quando existíamos nós os dois no mesmo espaço. Alheávamo-nos do mundo e éramos apenas duas pessoas que se amavam.
Amávamo-nos loucamente e hoje não me consigo esquecer do terraço. Do meu vestido preto e do arco-íris no sorriso dele.
Dos lábios cheios e da boca dele que mais tarde vim a saber que sabia a morangos e especiarias. Sabia a fogo e a conforto.
Dos olhos cor de café, do esgar desajeitado dos olhos dele quando vinha na minha direcção e sorria para mim. Chegava-me. Era ali que nos encontrávamos, nos meus movimentos atrapalhados de braços e nos pulos e saltos nas escadas do prédio dele.
Era assim que conseguíamos ser. Duas pessoas a engolir o mundo e a respirar esperança. Duas pessoas que se encontravam no cimo das escadas e se abraçavam e beijavam como crianças com um chupa chupa.
Dois ou três minutos de paixão e depois vinha o amor no sofá. O ver televisão aconchegados e o dançar espontâneo na cozinha.
Hoje lembro-me do terraço e lembro-me que dava tudo para o ter de volta. De o ter ali, sem pressa, sem pressão, no coração. Tê-lo para mim e em mim.

Hoje não tenho pressa.

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