fevereiro 21, 2014

Jorge de Sena

O corpo não espera. Não. Por  nós
ou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimentos vãos;
este pousar em que não estamos nós,
mas uma sede, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo
o corpo que não espera; este pousar
que não conhece, nada vê, nem nada
ousa temer no seu temor agudo...

Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.

4 comentários:

  1. Que bem que me fazem as tuas palavras. Obrigada obrigada obrigada. Guarda para sempre esse dom

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  2. isto aqui é de arrepiar mariana! obrigada por nos trazeres sempre do melhor que há nas letras, por nos mostrares o quão bom é sonhar com as palavras e senti-las entrar pelo nosso quarto adentro. um grande beijinho e um grande obrigada!!

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  3. Uau, que palavras vorazes capazes de fazer sonhar.

    Um Beijo, grande :)

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  4. Isto fez-me lembrar este belíssimo poema:
    Não posso adiar o amor para outro século
    não posso
    ainda que o grito sufoque na garganta
    ainda que o ódio estale e crepite e arda
    sob montanhas cinzentas
    e montanhas cinzentas

    Não posso adiar este abraço
    que é uma arma de dois gumes
    amor e ódio

    Não posso adiar
    ainda que a noite pese séculos sobre as costas
    e a aurora indecisa demore
    não posso adiar para outro século a minha vida
    nem o rneu amor
    nem o meu grito de libertação

    Não posso adiar o coração"

    António Ramos Rosa

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