fevereiro 06, 2014





Há uns minutos vi um pai enterrar um filho. Mesmo que ficcionalmente, percebi que não sou imune ao sentimento fraco que um pai sente por um filho quando ele jaz morto no chão, na terra, na cova feita por ele. Isto leva-me a pensar que até os humanos mais diabólicos de todos trazem qualquer coisa no espaço que seria ocupado pelo coração. Qualquer coisa já não é nada. É um halo que traz memória e que ocupa um ínfimo espaço.
            Quem somos nós senão bocados de espaço que tentamos preencher cada vez mais? Há um conjunto de anos que não pensava nestas questões. Atrás, nesse tempo, eu via árvores e não pensava. Eu abraçava sem pensar, outro espaço. Hoje abraço e sinto que não me quero ver livre disso. Dos beijos, da terra, das árvores, do ar. Não me quero separar do som, do toque, da sensação. Quero aproximar-me desses sentimentos tão primitivos e naturais que reconheço até nos inimigos.
            Ponho a música a tocar, ajuda a não pensar, a deixar as palavras fluir. Somos todo um conjunto de espaço que queremos cada vez mais encher. Com o quê? Eu só vejo a resposta nos sentimentos e emoções. Quero que cada vez mais fique sem palavras, e colecione o choro e a gargalhada. Quero que me tirem o espaço para falar. Quero apenas a porção que exige o batimento do coração e do sangue a fluir na pele. Se ele bater, é sinal que estou viva, que há uma missão. Reconhecer que somos todos iguais, ainda que diferentes. Quem és tu senão igual, menor, ou maior na mesma porção que eu?

            Sê bem-vindo. 

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