Há uns minutos vi
um pai enterrar um filho. Mesmo que ficcionalmente, percebi que não sou imune
ao sentimento fraco que um pai sente por um filho quando ele jaz morto no chão,
na terra, na cova feita por ele. Isto leva-me a pensar que até os humanos mais
diabólicos de todos trazem qualquer coisa no espaço que seria ocupado pelo
coração. Qualquer coisa já não é nada. É um halo que traz memória e que ocupa
um ínfimo espaço.
Quem somos nós senão bocados de
espaço que tentamos preencher cada vez mais? Há um conjunto de anos que não
pensava nestas questões. Atrás, nesse tempo, eu via árvores e não pensava. Eu
abraçava sem pensar, outro espaço. Hoje abraço e sinto que não me quero ver
livre disso. Dos beijos, da terra, das árvores, do ar. Não me quero separar do
som, do toque, da sensação. Quero aproximar-me desses sentimentos tão
primitivos e naturais que reconheço até nos inimigos.
Ponho a música a tocar, ajuda a não
pensar, a deixar as palavras fluir. Somos todo um conjunto de espaço que
queremos cada vez mais encher. Com o quê? Eu só vejo a resposta nos sentimentos
e emoções. Quero que cada vez mais fique sem palavras, e colecione o choro e a
gargalhada. Quero que me tirem o espaço para falar. Quero apenas a porção que
exige o batimento do coração e do sangue a fluir na pele. Se ele bater, é sinal
que estou viva, que há uma missão. Reconhecer que somos todos iguais, ainda que
diferentes. Quem és tu senão igual, menor, ou maior na mesma porção que eu?
Sê bem-vindo.
alguns sabem gostar, acredito que sim!
ResponderEliminar