abril 15, 2013

00h00 junto a um candeeiro

A Praça estava quase vazia, o sol ainda cobria as seis colunas históricas da Universidade, e haviam crianças ao longe, ou talvez perto, que fugiam dos pais e tingiam o chão com o eco das gargalhadas primaveris.
Ela também chilreava. O vestido branco pelos joelhos que deixavam os ombros a descoberto. Num laço o tecido de algodão fechava-se no pescoço. Os pés espreitavam fora das sandálias clássicas, e junto à linha óssea do colarinho ela carregava uma pedra no colar com cores orientais.
Talvez estivesse há já alguns minutos a observar a torre que deixava o sol desfiar-se em linhas contínuas por entre os intervalos de pedra.
E  no entanto, o calor não incomodava. A brisa fresca teimava em abanar as ranhuras do vestido e em deslocar-lhe as ondas dos cabelos morenos libertando a fragrância a frutos vermelhos do shampoo.
Ele reparou. Chegou-se mais perto depois de a ter perscrutado de longe junto à Porta Férrea. Imitou-a no gesto, e quedou-se em frente à torre.
- Nem todos podem subir, disse ele.
Ela soltou uma leve gargalhada.
- Nem todos os sítios têm coisas como estas. Lisboa não tem Universidade assim...
Ela interrompeu a fala, escutou o olhar dele, que agora parecia retesado e continuou.
- A minha não é assim.
- É por isso que vem tanta gente a Coimbra, concluiu ele.
A lógica parecia bastante simples.
- Eu sei, anuiu ela.
Durante alguns segundos não falaram. O sol estava quase a despedir-se do céu. Ela queria permanecer naquele instante, atrever-se a descobrir os mistérios da noite sobre os edifícios, mas já era tarde.
- Tenho de ir. Adeus.
Nesse momento ele travou-a. Com a fala. Também era simples.
- Queres subir?
Foi uma brincadeira de minutos até a noite tomar definitivamente conta de tudo e manchar o negrume de estrelas. Quando desceram e se viram outra vez no pátio, a rapariga insistiu mais uma vez contrariada na despedida sem antes que ele lhe perguntasse:
- Como é que te chamas? A rapariga de Lisboa... - o olhar inebriado sobre a tez dela.
- Mariana. O meu nome é Mariana, terminou ela.




4 comentários:

  1. podia jurar verdade, se me perguntassem... vê lá tu como me fazes crer!

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  2. Li e reli, perfeito, um momento que parece ser tão real, tão simples, tão intenso.
    Engraçado como num pequeno tempo o que se passa possa ser tão forte.

    Um Beijinho :)

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