janeiro 29, 2013

Será que os poetas nunca dormem?

O homem que mudou a minha vida era professor de físico-química. Estava na fila de uma livraria em Oeiras e segurava na mão um livro sobre o 25 de Abril.
Quando essa revolução aconteceu eu ainda não tinha nascido e não tinha visto cravos só então aos sete anos. Esse homem que estava na fila não tinha nome. Não lho perguntei, foi muito rápido e subtil até me perguntar se eu conhecia a história do tal livro que ele ia comprar, e mais tarde me contar que tinha dado aulas num carro.
Escusado será dizer que durante os sessenta minutos em que permaneci à sua frente espantado com a história descoberta nos olhos dele, a livraria esqueceu-se de nós. Eu não sabia o nome do professor, mas fiquei a saber que a revolução tinha prometido muita coisa a muita gente e tinha sido dura com os portugueses.
Ele pouco se alegrava com o facto de ainda ser dos poucos que obtinha reforma depois de completar uma vida a fazer o que gostava.
Oh mas os olhos dele sangravam.
Se não fosse esse equívoco eu não olharia para o seu livro nem teria dito que não conhecia a história do mesmo.
Talvez ninguém saiba mesmo o que chegou a acontecer com Portugal e com os nossos sonhos todos, mas ele parecia estar decidido em tentar saber a minha escolha para o futuro.
O professor honestamente criticou a psicologia e os olhos dele brilhavam mais uma vez a falar da ciência.  Talvez ele tivesse razão. Talvez esses cientistas todos fossem salvar-nos todos da miséria, mas eu nesse dia tinha tomado uma dose forte de teimosia não deixando de ouvir as palavras certas do professor:" Pense bem antes de escolher. Pense bem".
Talvez ele não tenha reparado nesse breve instante onde o ritmo das coisas pareceu voltar ao normal, e subitamente a fila da livraria tinha ganho mais adeptos. Lembrei-me que o telemóvel tinha tocado e que a minha irmã me esperava à porta da livraria impaciente.
Não evitei olhar para trás. O saco pesava, mas ainda tive tempo de olhar para o professor mais uma vez e esperar que momentos mais tarde me lembrasse dele, e depois sim agradecer-lhe por aquele chapéu. A indumentária. O carro cheio de alunos e a minha certeza de que o meu futuro passaria nas letras.


3 comentários:

  1. É bom quando um momento, quando uma pessoa, quando uma fracção de tempo tem o dom de em nós fazer magia, de alterar a nossa história.

    Gostei mesmo de ler esta versão "alargada" da tua história real.

    Um Beijinho :)

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  2. deixei-te um selo no meu blog http://liveyourlifeandbehappyy.blogspot.pt/p/blog-page.html *

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